Você sabia que o dia 09 de agosto é o Dia Internacional dos Povos Indígenas? A data, criada em 1994, é uma oportunidade incrível para falar com os pequenos e pequenas sobre as diversas etnias do país e também sobre diversidade cultural. Pensando nisso, convidamos Cristino Wapichana e Aline Pachamama para entrevistas especiais, onde conversamos sobre literatura indígena e a importância da ancestralidade. Acompanhe o texto a seguir e saiba mais sobre cultura indígena! ✨
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Vamos falar sobre cultura indígena?
Na verdade, a cultura indígena é vasta e bastante diversa. No Brasil, são mais de 250 povos indígenas, que falam cerca de 150 línguas diferentes! 😱 Por isso, quando falamos de cultura indígena, falamos também de inúmeros grupos étnicos. Cada qual, com suas próprias tradições e costumes.
Nesse sentido, é de se imaginar o tamanho da influência da cultura indígena na cultura brasileira! Seja no nosso vocabulário, nas músicas, nas danças, nas culinária e até na medicina! De fato, a influência dos povos indígenas é vivida por todos os brasileiros e brasileiras. Todos os dias! 😉
Por fim, vale lembrar que, desde 1967, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) atua para a promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas brasileiros. No entanto, apesar da demarcação de terras indígenas ser lei, bem como assegurada pela Constituição Brasileira, muitos povos indígenas ainda são vítimas das invasões e também do roubo de terras.
Entrevista: Cristino Wapichana
Fotografia: Eduardo Fujise e Gideoni Junior/Reprodução.
Nascido em Boa Vista (RR), em 1971, Cristino Wapichana é descendente do povo Wapichana. Escritor, contador de histórias e ativista, é autor do livro Chuva, Gente!, um Original Leiturinha sobre a chuva, a natureza e a relação entre avós e netos. 🌧️ Em 2017, foi também vencedor do Prêmio Jabuti, categoria Livro Infantil, com a obra A Boca da Noite.
Leiturinha: O que você gostaria que as pessoas soubessem sobre o povo Wapichana?
Cristino: Não apenas sobre o povo Wapichana, mas sobre todos os povos indígenas brasileiros: embora a raiz da sociedade brasileira seja a dos povos indígenas, o povo brasileiro não assume isso, pois nasceu da violência. Então, que essa sociedade entenda os indígenas como humanos iguais. Não importa em que lugar se nasceu ou a que povo pertence. Devem ser respeitados e considerados dentro dessa mesma humanidade, pois quando se reconhece o outro como igual, se começa o respeito.
Leiturinha: O que te move a fazer literatura?
Cristino: A literatura é parte de tudo. Não existiria um passado sem parte estar escrito com os detalhes das cenas daquele tempo vivido pelas pessoas. Então, a literatura traz aquele passado para o presente. Ela congela um pedaço do tempo como ele era. A literatura está aí pra encantar, para ensinar, para dizer como foram feitas as coisas. Ela existe para nos ajudar a nos manter bem, vivos e ativos no mundo. No sentido de que estamos participando dele o tempo inteiro! É isso que eu faço: desvendar o parar, congelar no tempo um pedaço da história.
Leiturinha: Qual a importância da ancestralidade, das histórias e da oralidade indígena?
Cristino: Somos apresentados a partir da oralidade, ancestralidade e histórias indígenas. São elas que justificam, educam e carregam as conquistas de um povo. Todas as belezas que aquele povo tem, ele coloca em sua histórias, para que os outros as conheçam. As histórias são fundamentais, pois sem elas tudo que existiu seria nulo. Tudo que vemos é contado a partir de uma história. Se não nos atermos as nossas primeiras histórias, ficamos perdidos.
Entrevista: Aline Pachamama
Fotografia: Aline Pachamama/Reprodução.
Aline Pachamama, originária do povo Puri da Mantiqueira, é escritora, ilustradora e historiadora. Aline é também Doutora em História Cultural e Mestre em História Social. Além disso, é idealizadora da Editora Pachamama, editora protagonizada por mulheres originárias.
Leiturinha: O que você gostaria que as pessoas soubessem sobre o povo Puri da Mantiqueira?
Aline: Que meu povo é presente. Ele não está no tempo pretérito: ele vive e tem legado. A história do povo Puri está enraizada na história da Mantiqueira, onde muitas pessoas que lá vivem desconhecem a herança acolhedora de grande diversidade da nossa fauna e flora. Há uma desinformação sobre o meu povo, que é história, memória e oralidade. Agradecemos a quem nos coloca em um local da vida presente e não do fóssil, que viveu e passou por aqui.
Leiturinha: O que te move a fazer literatura?
Aline: Literatura não é um termo que está inserido nas línguas originárias, mas “semear” é o processo de zelo e aprendizado através da oralidade. É desenhar palavras, sentimentos e memórias. Semear é a palavra viva, é um conto criado por experiência. Ela é vivência e generosidade partilhada. Ela não é uma invenção, ela é pulsante, brota da nossa própria experiência com a mãe terra e o mosaico de sons que ela produz. Acho que você até consegue nos ouvir quando nos lê.
Leiturinha: Qual a importância da ancestralidade, das histórias e da oralidade indígena?
Aline: É a proteção da ancestralidade que nos faz sorrir em meio aos furacões diários. É ela que nos faz continuar essa semeadura. Quantas literaturas existem sobre nós que não são escritas por nós? É um sonho e vontade que meus livros e dos meus parentes estejam nas escolas e nas universidades, escritos, editados e ilustrados por nós. Este é um momento para se trazer de forma concreta e enraizada nos espaços de aprendizado a voz do povo originário desse país.
Você gostou de saber mais sobre a cultura indígena? Tem alguma pergunta para os nossos entrevistados? Deixe o seu comentário para nós!
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Fonte: leiturinha