O Brasil é atingido por 77,8 milhões de raios todos os anos. A maioria deles cai na região Norte, onde algumas cidades chegam a ser atingidas por milhares de raios em um único dia. O clima quente e úmido da floresta amazônica é favorável à formação de tempestades – e, portanto, de raios.
Um raio comum tem uma corrente elétrica de 10 mil a 30 mil ampéres. Se você já tomou choque mexendo no chuveiro elétrico, provavelmente sentiu uma corrente de 10 ampéres. Mil vezes menor que um raio.
Nos anos 1970, pesquisadores perceberam que alguns raios eram estranhamente fortes, com luminosidade que chegava a ser mil vezes maior em comparação aos outros raios. O termo “super-raio” passou a ser usado para descrever essas descargas elétricas que fugiam do padrão.
A corrente elétrica de um super raio é maior que 150 mil ampéres, podendo chegar a 350 mil ampéres. Além de serem extremamente luminosos, os super-raios costumam ter coloração azul, enquanto os raios comuns são brancos.
Os super-raios são relativamente raros, ocorrendo a cada 100 ou 1.000 raios comuns. Eles são mais frequentes em locais que quase ninguém vê: no meio dos oceanos e, no caso do Brasil, na região amazônica. Mesmo assim, com sorte e olhos atentos, é possível observá-los em cidades também.
“É uma descoberta relativamente recente em termos científicos”, diz Osmar Pinto Jr., pesquisador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT). “Ainda não sabemos totalmente por que os super raios ocorrem mais em alguns lugares do que em outros. Surgem novas pesquisas e teorias a cada ano”.
Uma dessas teorias diz que os super raios caem mais no oceano graças à salinidade do mar. Outra aponta que a altitude e relevo influenciam a ocorrência de super raios em terra firme – locais mais altos estão mais perto das nuvens, o que favoreceria a formação de raios mais curtos e fortes. “Cada nova pesquisa mostra que a anterior não era completa, o que nos dá uma nova ideia”, diz Osmar.
O mais provável é que seja uma combinação de diferentes fatores. Na região amazônica, em específico, é provável que o relevo plano e a alta umidade na floresta contribuam para o alto número de super-raios.
A caçada aos super-raios
Osmar passou três anos tentando filmar um super-raio. As observações começaram em 2022, mas a maior parte dos esforços ocorreu em outubro de 2024, quando foi gravada a série “Caça Tempestades”. O documentário de quatro episódios foi dirigido pela cineasta Iara Cardoso, que se juntou ao pesquisador na Amazônia para procurar pelas descargas elétricas.
“O objetivo principal é divulgar esse fenômeno e divulgar a ciência”, diz Iara Cardoso. “A ideia é unir o entretenimento ao conhecimento para trazer a ciência nas entrelinhas e os bastidores da caçada às tempestades”.
Para encontrar as tempestades, a equipe se locomovia em caminhonetes pela Amazônia. Uma interface instalada no carro apontava onde as descargas elétricas estavam acontecendo em tempo real. Eles ficavam a certa distância do local, apontavam a câmera para a região com mais incidência de raios e contavam com um pouco de sorte.
Segundo Osmar, não há como saber se o raio observado é, de fato, um super-raio. Após as filmagens, a equipe verificava dados de sensores de raios em superfície e de satélite para confirmar a luminosidade e amperagem da descarga elétrica.
“No primeiro episódio mostramos um raio que achávamos que era um super-raio, mas após as análises vimos que não era”, diz Iara. “Felizmente, depois a gente realmente conseguiu um super-raio em câmera”.
A equipe identificou duas pessoas que foram atingidas por super-raios e sobreviveram. No entanto, não conseguiram contato com a dupla. “É possível sobreviver a um super-raio, foi o que descobrimos fazendo a pesquisa da série”, diz a cineasta.
O primeiro episódio da série foi ao ar no dia 5 de janeiro, no Fantástico. O segundo será exibido neste domingo (12), no mesmo programa. A série completa estará disponível no History Channel.
Fonte: abril