📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Um estudo publicado na The Lancet identificou 14 fatores de risco modificáveis para a demência, incluindo educação, perda auditiva, depressão e inatividade física. Tratar esses fatores pode prevenir ou retardar quase metade dos casos de demência.
  • Estratégias para reduzir o risco de demência incluem a prática regular de exercícios físicos, proteção dos sentidos, manter a mente ativa, interação social, abandono do tabagismo e do consumo excessivo de álcool, além de reduzir a exposição a CEM.
  • Otimizar a função mitocondrial por meio da alimentação também complementa a prevenção da demência. Comece reduzindo sua ingestão de ácido linoleico para 5 gramas (ou melhor ainda, abaixo de 2 gramas) e tente consumir mais alimentos integrais. Equilibre seus macronutrientes, dando ênfase aos carboidratos saudáveis como sua principal fonte de energia.
  • Estratégias adicionais de prevenção incluem evitar glúten e caseína, melhorar a flora intestinal por meio de alimentos ricos em probióticos e obter exposição ao sol regular para a produção de vitamina D. Manter níveis baixos de insulina em jejum e evitar a exposição ao mercúrio e ao alumínio também pode ajudar a reduzir o risco de demência.
  • Outras medidas incluem evitar medicamentos anticolinérgicos e estatinas, que podem aumentar o risco de demência.

🩺Por Dr. Mercola

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), na atualidade, cerca de 5,8 milhões de americanos vivem com a doença de Alzheimer, o tipo mais comum de demência. Até 2060, esse número deve subir para 14 milhões, com as populações minoritárias sendo as mais afetadas.

Embora seja fácil presumir que a demência é apenas algo que acontece com o envelhecimento, na verdade, muitos fatores influenciam o risco de desenvolver essa doença neurodegenerativa. De fato, um novo estudo publicado na The Lancet observa que os casos de demência podem ser reduzidos pela metade quando as pessoas adotam as mudanças necessárias no estilo de vida.

O objetivo do estudo da The Lancet

A Comissão The Lancet, uma coalizão de pesquisadores que compila as evidências mais recentes sobre diferentes doenças, publicou uma revisão recente e atualizada identificando os fatores de risco relacionados à demência. Ao atualizar suas pesquisas em intervalos regulares, eles pretendem oferecer as recomendações práticas mais recentes, que possam ajudar famílias ao redor do mundo a cuidar de seus entes queridos afetados pela demência.

Os pesquisadores também afirmaram que prestar atenção a estes fatores de risco pode prevenir a demência e aumentar a expectativa de vida:

“Novas evidências sugerem que reduzir o risco de demência aumenta o número de anos de vida saudável e reduz a duração do período de má saúde para as pessoas que desenvolvem a doença. “Abordagens de prevenção devem buscar reduzir os níveis dos fatores de risco com antecedência (ou seja, quanto mais cedo, melhor) e mantê-los baixos ao longo da vida (ou seja, quanto mais tempo, melhor)”, informaram os pesquisadores.

“Embora tratar os fatores de risco em uma fase precoce da vida seja desejável, também há benefícios em enfrentá-los ao longo de toda a vida; nunca é cedo demais nem tarde demais para reduzir o risco de demência”.

14 fatores de risco modificáveis da demência

De acordo com as descobertas da Comissão, no presente, existem 14 fatores de risco relacionados ao estilo de vida que as pessoas podem alterar para reduzir o risco de desenvolver demência, incluindo:

1. Educação, nível educacional e atividade cognitiva: com base em informações de diferentes países, a The Lancet observou que “o nível educacional, e não os anos de estudo, parece ser o principal responsável pelo efeito protetor em relação à cognição futura e à demência”. Nesse contexto, os pesquisadores destacaram que possuir um diploma universitário estava associado a um risco menor de desenvolver demência.

2. Perda auditiva: os pesquisadores observaram que “conforme a gravidade da perda auditiva aumenta, o risco de demência também aumenta”. Embora os mecanismos exatos por trás dessa relação ainda não tenham sido identificados, meta-análises anteriores revelaram associações significativas entre a perda auditiva e o desenvolvimento de demência.

Além disso, eles sugerem que a perda auditiva elimina uma via importante de estimulação cerebral. Solidão, depressão, isolamento social e o aumento do esforço cognitivo necessário para ouvir também podem contribuir para a demência, afirmam os pesquisadores.

3. Depressão: os pesquisadores observaram que a depressão pode ser um sinal do desenvolvimento de demência. Isso foi observado em algumas das pesquisas que eles analisaram, e então destacaram que “identificamos um risco aumentado de demência em pessoas com depressão em comparação com aquelas sem depressão”.

4. Traumatismo cranioencefálico (TCE): acidentes de carro, quedas e ser vítima de violência foram identificados como fatores que aumentam o risco de demência no futuro. Certos esportes, como rugby, futebol americano, futebol e hóquei no gelo, também foram associados ao desenvolvimento de demência. Os pesquisadores inferem que impactos diretos na cabeça causam alterações patológicas no cérebro que podem, em algum momento, levar à demência.

5. Fumar: evidências sugerem que o hábito de fumar, sobretudo durante a meia-idade, pode elevar o risco de desenvolver demência. De outro modo, os pesquisadores enfatizaram que pessoas que pararam de fumar (e os não fumantes em geral) apresentam um risco menor em comparação aos fumantes.

6. Colesterol LDL: o estudo da The Lancet citou uma pesquisa realizada no Reino Unido, observando que cada aumento de 1 mmol/L no colesterol LDL em adultos com menos de 65 anos estava associado a um aumento de 8% no risco de demência por todas as causas. Entretanto, se você estiver usando estatinas para reduzir os níveis de colesterol LDL, isso também pode aumentar o risco de demência.

7. Inatividade física, exercícios e aptidão física: falta de atividade física pode aumentar o risco de demência por todas as causas e da doença de Alzheimer. Além disso, pesquisas indicam que a prática de exercícios em qualquer idade está associada a uma melhor cognição em comparação com a ausência total de atividade física.

8. Diabetes: os pesquisadores sugerem que a idade em que o diabetes se manifesta pela primeira vez influencia o risco de desenvolver demência. Mais precisamente, eles observaram que o diabetes que surge na meia-idade, em comparação com o que aparece em idades mais avançadas, está associado a um risco maior de gravidade.

Embora não esteja claro como o diabetes pode influenciar o desenvolvimento da demência, acredita-se que os danos causados ao sistema vascular tenham um impacto relevante. Ademais, a resistência à insulina pode levar a mudanças no sistema nervoso central, causando alterações no metabolismo cerebral.

9. Hipertensão e sua trajetória: os pesquisadores destacaram, na edição anterior da publicação da Comissão, que a hipertensão pode aumentar o risco de demência por todas as causas, doença de Alzheimer e demência vascular.

10. Obesidade: pesquisas sugerem que desenvolver obesidade durante a meia-idade pode aumentar o risco de demência por todas as causas. Essas descobertas também foram corroboradas por outro estudo, que acrescentou que o risco é maior em pessoas com mais de 65 anos em comparação com outras faixas etárias.

11. Consumo excessivo de álcool: consumir álcool com um teor total de etanol superior a 168 gramas por semana durante a meia-idade está associado a um aumento no risco de demência. Essas descobertas também foram confirmadas em uma meta-análise com 131.415 participantes de toda a Europa.

Em outro estudo, desta vez envolvendo sul-coreanos, os pesquisadores descobriram que o consumo excessivo de álcool aumentava o risco de demência. Em contrapartida, o estudo observou que mesmo uma redução no consumo para uma quantidade moderada já pode diminuir o risco.

12. Isolamento social: sua saúde psicológica também pode influenciar o risco de demência, ainda mais se você mantém pouco contato social com outras pessoas. A solidão, por exemplo, foi associada à demência. Morar sozinho, encontrar familiares ou amigos menos de uma vez por mês e não participar de atividades em grupo toda semana foram identificados como fatores que contribuem para o risco de demência.

13. Poluição do ar: a queda na qualidade do ar tornou-se uma preocupação crescente em relação ao risco de demência. Uma meta-análise citada observou que a qualidade do ar com altos níveis de material particulado está associada à demência. As fontes de poluição do ar constatadas incluem fogões a carvão e a lenha utilizados em ambientes internos.

14. Perda de visão não tratada: os pesquisadores observaram uma correlação entre a perda de visão e a demência. Uma coorte retrospectiva envolvendo um total de 14 estudos observou que “a deficiência visual está associada a um aumento no risco de demência e comprometimento cognitivo em adultos mais velhos”.

Estratégias que podem ajudar a modificar os fatores de risco da demência

Embora possa parecer desafiador, modificar ao menos um dos 14 fatores de risco pode ajudar a controlar e até mesmo proteger você contra o desenvolvimento de demência no futuro. Segundo os pesquisadores:

“O potencial de prevenção é alto e, de forma geral, quase metade dos casos de demência poderia, na teoria, ser evitada com a eliminação desses 14 fatores de risco. Essas descobertas trazem esperança. Embora a mudança seja difícil e algumas associações possam ser apenas parcialmente causais, nossa nova síntese de evidências mostra como os indivíduos podem reduzir o risco de demência…”.

Quais estratégias você pode adotar? Em uma entrevista para a TIME, o Dr. Gill Livingston, um dos autores do estudo, compartilhou suas recomendações:

Exercício regular: realizar atividades físicas pode ser uma das melhores coisas que você pode fazer pela sua saúde. Com base nas pesquisas disponíveis, isso pode ter um impacto positivo imediatamente em vários fatores de risco. O exercício demonstrou reduzir o risco de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, hipertensão e melhorar a função cognitiva (em especial nos adultos mais velhos).

O melhor tipo de exercício que você pode fazer é o de intensidade moderada. De acordo com minha entrevista com o cardiologista Dr. James O’Keefe, você obtém uma redução proporcional à dose na mortalidade, depressão, sarcopenia e outros problemas assim que começa a praticar exercícios. O bom do exercício de intensidade moderada é que não há risco de exagero. Além disso, volumes elevados de exercício vigoroso não trarão mais benefícios para você.

Proteja sua cabeça: se você pratica esportes que oferecem maior risco de lesões, como andar de bicicleta, boxe e outros esportes de contato, use sempre um capacete ajustado de maneira adequada. Mesmo uma única lesão na cabeça pode aumentar seu risco de demência em 1,25 vezes, de acordo com o Penn Medicine News.

Proteja os seus outros sentidos: em conjunto com o ponto acima, seria prudente proteger seus outros sentidos, como a visão e a audição. Por exemplo, manter o volume baixo ao ouvir música pode ajudar a preservar a sua audição. Usar protetores auriculares em ambientes com muito ruído também pode ajudar.

Quanto aos problemas de visão, um estudo observou que tratar cataratas de imediato pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver demência.

Mantenha seu cérebro ocupado: Livingston sugere que aprender uma nova habilidade ou hobby, ler um livro em um gênero desconhecido ou viajar para um lugar novo pode desafiar seu cérebro de maneiras positivas.

Não se esqueça de socializar: Livingston afirma que uma das melhores maneiras de manter o cérebro ocupado é conversando com sua família e amigos. Interações sociais mantêm seu cérebro afiado, pois fazem você se comunicar e conversar sobre diferentes assuntos.

Cuide da sua saúde mental: existem diversas maneiras de tomar conta da sua saúde mental e promover a positividade em sua vida. Mais uma vez, um bom exemplo é manter conexões com seus entes queridos por meio de comunicação frequente.

Pare de fumar e beber: fumar cigarros e consumir álcool não trarão benefício algum para a sua saúde. Se você está tendo dificuldades para parar de fumar, recomendo ler meu artigo “Quitting Smoking Starts in the Brain“, onde forneço várias dicas baseadas em mindfulness que podem ajudar você com isso. Mas, se você precisar mesmo beber, faça isso com moderação.

Reduza a exposição aos campos eletromagnéticos (CEM): um estudo de 2023 observou que os campos de radiofrequência de 1,8 a 3,5 GHz inibiram a atividade elétrica dos neurônios em cultura in vitro. Os neurônios desempenham um papel fundamental na função cerebral, pois enviam e recebem informações do cérebro, controlando os movimentos.