📝RESUMO DA MATÉRIA

  • A quercetina é um poderoso antioxidante que protege contra o estresse oxidativo, ajudando no controle de condições como a esclerose múltipla, reduzindo a inflamação e promovendo a neuroproteção.
  • Pesquisas indicam que a quercetina também tem propriedades anticancerígenas, atingindo diferentes tipos de câncer ao promover a apoptose, inibir a angiogênese e suprimir a metástase.
  • A quercetina possui propriedades antivirais, em particular contra o coronavírus, ao inibir a replicação viral e a entrada do vírus nas células. Ela mostrou-se promissora durante a pandemia de COVID-19.
  • A suplementação com zinco impulsiona os efeitos antivirais da quercetina, que atua como um ionóforo de zinco. Isso melhora o transporte de íons de zinco para as células, inibindo a replicação viral.
  • Fontes naturais de quercetina incluem cebolas (em especial as cascas), frutas vermelhas, maçãs e diversos vegetais. Em geral, os suplementos são seguros, e ainda mais benéficos quando tomados antes de dormir.

🩺Por Dr. Mercola

Quando o assunto é otimizar a ingestão de nutrientes, a maioria das pessoas pensa em vitaminas e minerais. No entanto, existem muitos outros compostos que ajudam a melhorar sua saúde, como a quercetina.

Acredito que a quercetina merece mais atenção, pois o crescente número de pesquisas mostra que ela ajuda a otimizar sua saúde de diferentes maneiras, como combatendo o câncer e vírus, além de reparar danos causados pelo estresse oxidativo.

A quercetina melhora seu perfil antioxidante

De acordo com o USA Today, “O principal benefício da quercetina é que ela é um poderoso antioxidante e, portanto, protege o corpo dos radicais livres que danificam as células”. De fato, um estudo de 2023 observou que a quercetina é o flavonoide antioxidante mais potente, pois ajuda a proteger o corpo contra diferentes doenças.

Em uma meta-análise, por exemplo, descobriu-se que a quercetina ajuda no tratamento da esclerose múltipla (EM) ao combater o estresse oxidativo. Como observado pelos pesquisadores, o estresse oxidativo causa a morte das células neurais, além de prejudicar a função mitocondrial.

O estresse oxidativo também afeta a integridade da barreira hematoencefálica, promovendo uma maior entrada de leucócitos no sistema nervoso central. Por fim, esse processo danifica a mielina, uma camada que envolve os nervos e que ajuda a transmitir impulsos elétricos. Esse processo piora a progressão da EM ao longo do tempo.

Seguindo essa estrutura, os pesquisadores buscaram descobrir o quão eficaz a quercetina é no auxílio ao controle da EM. Com base em suas pesquisas reunidas, veja como a quercetina protege o sistema nervoso central (SNC):

“A quercetina pode reduzir o estresse oxidativo, inibir o processo de desmielinização, promover o potencial de remielinização, melhorar a função da via óptica, reduzir a ativação glial, diminuir a apoptose, melhorar a integridade da BHE e reduzir as respostas inflamatórias”.

O mesmo estudo também observou que as capacidades antioxidantes da quercetina possuem efeitos neuroprotetores. Exemplos incluem “aumento do aprendizado e da memória, redução da disfunção mitocondrial, redução de placas senis e aumento da defesa oxidativa por meio da ativação da proteína quinase ativada por AMP (AMPK)”.

O potencial da quercetina no combate ao câncer

De acordo com a Dra. Denise Millstine, diretora de medicina integrativa da filial da Mayo Clinic no Arizona, a quercetina possui propriedades anticancerígenas, e essa afirmação também é apoiada por pesquisas publicadas.

Em um estudo de 2023, pesquisadores observaram que a quercetina tem efeitos terapêuticos em cânceres de sangue, pulmão e próstata. Ela age regulando fatores moleculares envolvidos nas vias de sinalização, promovendo assim a apoptose e a autofagia nas células cancerígenas.

Além disso, a quercetina tem um efeito antiangiogênico no câncer, reduzindo a proliferação de vasos sanguíneos relacionados ao tumor. Ela também possui efeito antimetastático. Ao suprimir múltiplas vias moleculares e a angiogênese, ela ajuda a prevenir a proliferação de células cancerígenas que se separaram do tumor primário.

A quercetina foi estudada em diferentes modelos animais e linhas de células cancerígenas humanas. Em uma revisão publicada em 2022, foi demonstrado que ela tem efeito sobre leucemia, osteossarcoma, câncer de mama e no pâncreas. Um estudo separado observa que a quercetina também tem como alvo as células do câncer de cólon:

“A quercetina interrompeu o crescimento das células cancerígenas de cólon modulando a expressão de proteínas relacionadas ao envelhecimento, incluindo Sirtuína-6 e Klotho, e também inibindo a atividade da telomerase para restringir o comprimento dos telômeros, o que é evidenciado pela análise de qPCR. A quercetina também demonstrou proteção contra danos ao DNA ao reduzir os níveis do proteassoma 20S”, observaram os autores do estudo.

A quercetina combate os vírus

A reputação da quercetina como agente antiviral começou após a epidemia de SARS de 2003. Em um relatório publicado na revista canadense Maclean’s, os pesquisadores médicos Michel Chrétien e Majambu Mbikay realizaram experimentos com a quercetina, e descobriram que ela possuía propriedades de “amplo espectro” que ajudam a combater diferentes vírus.

Em 2014, durante o surto de Ebola na África Ocidental, eles testaram sua teoria e observaram que a quercetina teve um bom desempenho contra o vírus “mesmo quando administrada apenas minutos antes da infecção”. Durante a pandemia de COVID-19, Chrétien, Mbikay e outros pesquisadores defenderam o uso da quercetina como uma intervenção antiviral.  A questão é: quão eficaz é essa estratégia?

Em um estudo publicado na Frontiers in Pharmacology, pesquisadores realizaram um ensaio clínico randomizado, aberto, em Lahore, Paquistão. Um total de 108 pacientes com 18 anos ou mais, que testaram positivo para o SARS-CoV-2, foram selecionados para o experimento e divididos em dois grupos: o grupo de teste recebeu 500 mg (miligramas) de quercetina (além do tratamento padrão) e o grupo de controle recebeu apenas o tratamento padrão.

Após uma semana, a quercetina conseguiu reduzir a persistência viral no grupo de teste em 68%, enquanto no grupo de controle a redução foi de 24%. Isso significa que eles testaram negativo para o vírus SARS-CoV-2. Como conclusão, os pesquisadores observaram que a quercetina acelerou a recuperação do grupo de teste da COVID-19.

Pesquisadores de um estudo publicado em 2022 desvendaram o mecanismo pelo qual a quercetina é eficaz na inibição do SARS-CoV-2. De acordo com suas observações, a quercetina costuma impedir que os vírus entrem nas células ao interagir com a glicoproteína hemaglutinina. Porém, no caso do SARS-CoV-2, a quercetina inibe a protease semelhante à 3-quimotripsina (3CLpro), que é necessária para a replicação do vírus. Outra maneira pela qual a quercetina bloqueia a replicação viral é inibindo a proteína Mpro.

O SARS-CoV-2 não é o único vírus que a quercetina combate. Outras cepas conhecidas por responder à quercetina incluem outros coronavírus, influenza, vírus sincicial respiratório (VSR) humano e rinovírus. Se você costuma pegar resfriados e gripes, considere tomar quercetina por alguns meses antes da temporada de resfriados e gripes para fortalecer seu sistema imunológico.

O zinco impulsiona os benefícios antivirais da quercetina

Embora a quercetina seja impressionante por si só, você ainda pode melhorar sua eficácia. Uma estratégia é aumentar a ingestão de zinco, pois a quercetina atua como um ionóforo de zinco. Esse mecanismo funciona transportando íons de zinco através das membranas celulares e para dentro da célula, o que ajuda a impedir a replicação dos vírus.

Isso foi observado em um estudo publicado no British Journal of Nutrition. Embora os pesquisadores tenham constatado que os mecanismos exatos são desconhecidos, as seguintes teorias foram postuladas:

“As funções antivirais do zinco são baseadas na inibição de processos físicos, como fixação do vírus, infecção e revestimento, além da inibição da função enzimática das proteases e polimerases virais. O aumento nas concentrações intracelulares de Zn poderia interferir no processamento proteolítico da poliproteína viral, influenciando seu revestimento.

Além disso, altas concentrações intracelulares de Zn podem afetar a protease viral (picornavírus, vírus da encefalomiocardite e poliovírus), alterando a estrutura terciária da proteína, como no caso do vírus da encefalomiocardite. Ademais, o Zn inibe a fusão das membranas celulares virais e hospedeiras, prevenindo a infecção viral”.

O zinco não é necessário apenas para proteção contra vírus. Ele também está envolvido em outros processos importantes, como a divisão e o crescimento celular, além da cicatrização de feridas. De acordo com um estudo publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry, o zinco também auxilia na absorção de glicose e regula o metabolismo energético. Se você não ingerir zinco suficiente, seu paladar e olfato também são afetados.

Onde você pode encontrar zinco? Fontes naturais incluem carne de boi alimentado com capim, iogurte grego, cogumelos, queijo cheddar, ovos de galinhas livres e brócolis.  Se você optar por tomar um suplemento, eu recomendaria tomar cuidado para não ultrapassar 15 mg por dia, pois é necessário considerar o zinco proveniente dos outros alimentos que você consome. Se você já consome grandes quantidades de alimentos de origem animal, talvez nem precise tomar um suplemento.

Sendo assim, Chris Masterjohn, Ph.D., observou que a dosagem ideal para a suplementação de zinco é de 7 mg a 15 mg, quatro vezes ao dia, em jejum ou com alimentos sem fitato. Fique atento à ingestão de cobre também, pois uma relação desequilibrada entre zinco e cobre pode anular os benefícios do zinco na quercetina.

Experimente estas fontes alimentares de quercetina

O melhor da quercetina é que ela já está presente em muitas frutas e vegetais. Então, se você tem uma dieta equilibrada, é provável que esteja obtendo quercetina de várias fontes. Mas, se você quiser aumentar sua ingestão, Millstine informa que cranberries, uvas escuras, alho, alcaparras e maçãs (com a casca) são boas fontes. Fontes adicionais incluem:

Coentro

Funcho

Endro

Quiabo

Frutas vermelhas (bagas de zimbro, cranberry, mirtilo e amora)

Chá verde

Brócolis

Moringa

Aspargo

Cebola

Dos exemplos mencionados acima, gostaria de destacar os níveis de quercetina encontrados nas cebolas, especialmente nas suas cascas. De acordo com pesquisas publicadas, “cerca de 77 vezes mais quercetina é encontrada na casca da cebola do que na parte comestível”. Isso faz sentido devido às propriedades antimicrobianas da quercetina, que atua como uma barreira protetora para o restante do vegetal contra os micróbios do solo.

Se a ideia de consumir cascas de cebola não lhe agrada, há uma solução: faça um caldo com as cascas da cebola para extrair a quercetina e outros antioxidantes. Em um estudo publicado na Foods, cozinhar cebolas aumenta suas propriedades benéficas, sobretudo ao assar, grelhar e fritar. Embora todos os métodos sejam benéficos para potencializar as propriedades da quercetina, a biodisponibilidade varia:

“Após a digestão in vitro, o índice de bioacessibilidade para compostos fenólicos totais variou entre 42,6% e 65,5% nas cebolas YSO (de casca amarela) grelhadas e assadas, respectivamente, e entre 39,8% e 80,2% nas cebolas RSO (de casca vermelha) cozidas e assadas, respectivamente. Assá-las contribuiu com a maior quantidade de compostos fenólicos bioacessíveis para ambas as variedades de cebola após a digestão in vitro”.

Você pode tomar um suplemento de quercetina?

De acordo com um estudo publicado na Frontiers in Immunology, a quercetina possui um excelente perfil de segurança. Os pesquisadores observaram que a suplementação de até 1 grama (1.000 mg) por dia durante três meses não causou efeitos colaterais significativos. No entanto, a quercetina intravenosa é uma outra questão:

“A administração intravenosa de quercetina em um estudo clínico de fase I para pacientes com câncer resultou em náuseas, vômitos, sudorese, rubor e dispneia em doses superiores a 10,5 mg/kg (756 mg para um indivíduo de 70 kg). Somente doses mais altas de quercetina administradas por via intravenosa, até 51,3 mg/kg (cerca de 3.591 mg por indivíduo), foram associadas à toxicidade renal”.

Assim, considere aumentar sua ingestão de vitamina C, seja por meio de alimentos ou suplementos. Foi demonstrado que a vitamina C aumenta a eficácia da quercetina, assim como o zinco. O mesmo estudo observou que a vitamina C e a quercetina “exercem uma ação antiviral sinérgica”, pois seus benefícios se sobrepõem. Além disso, a vitamina C ajuda a reciclar a quercetina, aumentando ainda mais sua eficácia. Esse benefício também foi confirmado em outros estudos.

A dosagem é apenas metade da equação. A outra metade é o momento de tomar os suplementos de quercetina. Acredito que tomar quercetina (com zinco) antes de dormir seja a melhor abordagem. Então, lembre-se de que a última refeição deve ser feita de três a quatro horas antes de dormir. E também, durma por oito horas.

Se você possuir um metabolismo flexível, seu corpo entrará em um estado de jejum durante o sono e aumentará os níveis de NADPH. Conforme observado em um estudo publicado na Cells, o NADPH é necessário para a síntese de óxido nítrico, que se difunde para as mitocôndrias e cria peroxinitrito. A partir daí, ocorre a mitofagia, o que beneficia o metabolismo neuronal, ajudando no controle da doença de Parkinson.

O outro benefício de tomar quercetina à noite é sua ação senolítica, que remove células senescentes, as quais são semelhantes às células cancerígenas não replicantes e secretam citocinas pró-inflamatórias poderosas que destroem sua saúde. Você pode otimizar as propriedades senolíticas da quercetina se tomá-la enquanto estiver em jejum.