📝RESUMO DA MATÉRIA
- O Complexo Motor Migratório (CMM) é um processo digestivo crucial que limpa o intestino entre as refeições, e que costuma ocorrer a cada 1,5 a 3 horas quando não se está comendo. Beliscar constantemente interfere no ciclo do CMM, o que pode levar a uma limpeza digestiva incompleta, supercrescimento bacteriano e redução na secreção de enzimas e bile.
- Beliscar com frequência pode ser um sinal de que as refeições principais não estão fornecendo nutrição suficiente, o que pode levar a um ciclo de subalimentação e compulsão alimentar.
- Para manter o CMM funcionando bem, faça intervalos de 3 a 5 horas entre as refeições e concentre-se em refeições maiores, mais substanciosas e com macronutrientes balanceados.
- Embora beliscar com frequência seja problemático, o jejum extremo não é a solução, pois pode reduzir a taxa metabólica e impactar de forma negativa a saúde digestiva a longo prazo.
- Hábitos alimentares equilibrados, controle do estresse e o apoio à saúde metabólica geral são fundamentais para manter a função digestiva ideal e evitar as armadilhas tanto do beliscar com frequência quanto do jejum extremo.
🩺Por Dr. Mercola
No mundo acelerado de hoje, beliscar se tornou um hábito comum para muitos. Apesar de parecer uma boa maneira de controlar a fome, beliscar com frequência pode ter efeitos prejudiciais no nosso sistema digestivo, em particular no importante processo conhecido como Complexo Motor Migratório (CMM). Então, neste artigo, vamos entender por que beliscar com frequência não é a melhor ideia, como ele interfere nos nossos ritmos digestivos naturais e o que isso pode indicar sobre nossos hábitos alimentares gerais.
Compreendendo o Complexo Motor Migratório
Antes de nos aprofundarmos nos problemas de beliscar com frequência, é essencial entender o Complexo Motor Migratório (CMM) e sua importância na nossa saúde digestiva.
O CMM é uma série de contrações musculares que ocorrem em nosso intestino durante os períodos de jejum entre as refeições. Descrito pela primeira vez em 1968 pelo Dr. Szurszewski, o CMM funciona como um “limpador interdigestivo” para o intestino delgado.
A função principal do CMM é limpar o trato digestivo depois que terminamos de processar uma refeição. Assim como limpamos a cozinha após cozinhar, nosso corpo precisa “limpar a casa” antes da próxima refeição. Este processo é crucial para manter um ambiente digestivo saudável. As principais funções do CMM incluem:
1. Gestão bacteriana: ele ajuda a transportar as bactérias do intestino delgado para o intestino grosso, prevenindo o supercrescimento bacteriano no intestino delgado.
2. Remoção de resíduos: o CMM move partículas de alimentos e resíduos através do intestino, garantindo que matéria não digerida não se acumule.
3. Secreção de enzimas e bile: quando o CMM está ativo, ocorre um aumento na secreção de enzimas e bile, o que ajuda na digestão de qualquer matéria residual.
4. Prevenção do refluxo bacteriano: o CMM ajuda a prevenir o retorno de bactérias do intestino para o intestino delgado, o que poderia levar a condições como o Supercrescimento Bacteriano no Intestino Delgado (SIBO).
O problema de beliscar com frequência
O CMM opera em um padrão cíclico ao longo do dia, e costuma ocorrer a cada 1,5 a 3 horas para a maioria das pessoas quando não estão comendo. Entretanto, esse ciclo é interrompido toda vez que comemos. Assim, se ficarmos beliscando sempre, acabamos interrompendo o CMM várias vezes antes que ele consiga completar seu ciclo de limpeza. Essa interrupção pode levar a vários problemas:
1. Limpeza digestiva incompleta: sem tempo suficiente entre as refeições, o CMM não consegue limpar de maneira eficaz as partículas de alimentos não digeridos e as bactérias do intestino delgado.
2. Supercrescimento bacteriano: a ingestão constante de alimentos pode criar um ambiente em que as bactérias no intestino delgado têm uma fonte contínua de alimento, podendo levar ao supercrescimento.
3. Redução na secreção de enzimas e bile: o aumento nas secreções digestivas associado ao CMM pode não ocorrer com a mesma frequência, o que pode impactar a eficiência geral da digestão.
Beliscar pode ser um sinal de refeições inadequadas
Além de impactar o CMM, beliscar com frequência pode indicar que nossas refeições principais não estão nos nutrindo direito e fornecendo energia suficiente. Isso pode acontecer por vários motivos:
1. Ingestão calórica insuficiente: se as refeições forem muito pequenas ou pobres em calorias, você pode sentir a necessidade de beliscar logo após comer.
2. Macronutrientes desequilibrados: refeições com baixo teor de proteínas, gorduras saudáveis ou carboidratos podem não te manter satisfeito por muito tempo.
A subalimentação nas refeições pode causar uma reação em cadeia problemática em nossos hábitos alimentares, muitas vezes resultando em compulsão alimentar no final das contas. Quando não consumimos calorias ou nutrientes suficientes durante as refeições principais, as reservas de energia do nosso corpo ficam esgotadas. Esse esgotamento aciona sinais intensos de fome, acompanhados em geral por desejos de alimentos de alto valor calórico e de fácil acesso.
Ao longo do dia, a força de vontade tende a diminuir, tornando cada vez mais difícil resistir a esses intensos sinais de fome.
O resultado costuma ser um episódio de compulsão alimentar, onde a pessoa consome uma grande quantidade de comida em um curto período, sentindo que está fora de controle. A compulsão alimentar não só interrompe o CMM, mas também pode levar a sentimentos de culpa e vergonha, podendo perpetuar um ciclo de alimentação restritiva seguido de compulsão.
Além disso, esses episódios alimentares excessivos e não planejados podem causar desconforto digestivo e também prejudicar os sinais naturais de fome e saciedade do nosso corpo. Para evitar essa situação, é fundamental consumir refeições balanceadas e satisfatórias que forneçam energia e nutrientes adequados, permitindo que nosso corpo mantenha níveis estáveis de açúcar no sangue e evite a fome extrema que pode desencadear a compulsão alimentar.
Faça refeições maiores e mais satisfatórias, belisque menos
Para auxiliar o funcionamento do CMM e a saúde digestiva geral, recomenda-se:
1. Espaçar as refeições: tente deixar de 3 a 5 horas entre as refeições ou lanches. Isso dá ao CMM tempo para operar sem interrupções.
2. Faça refeições maiores e planejadas: em vez de ficar beliscando, concentre-se em comer refeições maiores e mais substanciosas, que forneçam energia e nutrientes suficientes para mantê-lo satisfeito até a próxima refeição.
3. Garanta o equilíbrio dos macronutrientes: certifique-se de que suas refeições contenham um equilíbrio adequado de proteínas, gorduras saudáveis e carboidratos para promover saciedade e níveis estáveis de açúcar no sangue.
Por que o jejum não é a resposta
Embora tenhamos discutido a importância de espaçar as refeições e não beliscar, também é importante entender que o jejum extremo não é a solução para os problemas digestivos. Algumas pessoas, ao aprenderem sobre o CMM e a importância de dar tempo ao sistema digestivo, podem ser tentadas a estender seus períodos de jejum de forma significativa. No entanto, essa abordagem também pode levar a alguns problemas.
Nos últimos anos, o jejum ganhou popularidade como uma solução possível para vários problemas de saúde, incluindo os digestivos. Contudo, é importante entender que:
1. O jejum não é uma solução mágica: mesmo que o jejum proporcione alívio a curto prazo do desconforto digestivo (já que você não está digerindo alimentos ativamente), ele não resolve os problemas subjacentes nem “cura” os problemas digestivos.
2. Alívio a curto prazo vs consequências a longo prazo: o jejum pode proporcionar um alívio temporário, já que você não está mais digerindo alimentos, mas esse alívio costuma ser passageiro e não resolve a causa dos problemas digestivos.
O impacto do jejum no metabolismo
Um dos maiores problemas do jejum prolongado é seu impacto no metabolismo. Está bem documentado na literatura científica que o jejum pode reduzir a taxa metabólica. Quando você não fornece alimento ao seu corpo por períodos prolongados, ele interpreta isso como um sinal de que a fome aguda pode estar próxima. Como resultado, seu corpo diminui a taxa metabólica para conservar energia.
Embora o jejum possa parecer benéfico a curto prazo, as consequências a longo prazo de uma taxa metabólica reduzida podem ser prejudiciais à saúde geral, incluindo a função digestiva. Ao contrário do que alguns possam acreditar, o jejum prolongado pode ter impactos negativos na saúde digestiva a longo prazo:
1. Redução da atividade do sistema digestivo: com uma taxa metabólica mais baixa, o corpo diminui várias funções fisiológicas, incluindo as funções digestivas. Isso pode prejudicar a saúde intestinal a longo prazo.
2. Diminuição da motilidade intestinal: uma taxa metabólica mais baixa pode levar à diminuição da motilidade intestinal. Como discutimos antes, a motilidade mais lenta pode levar a uma série de problemas digestivos, incluindo supercrescimento bacteriano e constipação.
3. Desenvolvimento de intolerâncias alimentares: é comum que pessoas que praticam jejum prolongado desenvolvam mais intolerâncias alimentares com o tempo. Isso é prejudicial, pois ser capaz de tolerar uma grande variedade de alimentos é, na verdade, um sinal de boa saúde intestinal e de um metabolismo robusto.
Em vez de recorrer ao jejum extremo, o foco deve ser em refeições regulares e balanceadas que forneçam todos os nutrientes necessários, essenciais para manter um metabolismo saudável e apoiar a função digestiva.
A relação entre metabolismo e saúde digestiva
Manter um metabolismo saudável é crucial para o funcionamento ideal da digestão e também do CMM. Quando a taxa metabólica diminui, isso pode levar a uma série de problemas digestivos, como a lentidão da motilidade intestinal, aumento do risco de supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO) e constipação.
Em um estudo que comparou pacientes com hipotireoidismo (com taxa metabólica reduzida) com um paciente saudável, o esvaziamento esofágico do paciente saudável foi de 90,13%, enquanto o paciente com hipotireoidismo teve apenas 57,83% de esvaziamento. Queremos que o esvaziamento seja quase total!
Para o tempo de trânsito esofágico, o paciente saudável levou 21,5 segundos, enquanto o paciente com hipotireoidismo levou quase o dobro do tempo para se esvaziar, com 50,5 segundos (de novo, não é o que queremos). E a maior diferença foi o tempo de meia-vida do esvaziamento gástrico (que se refere ao tempo necessário para que metade do conteúdo do estômago seja esvaziado).
O paciente saudável estava com 28,43 minutos, enquanto o paciente com hipotireoidismo estava com 79,48 minutos. “O hipotireoidismo afeta todo o sistema gastrointestinal e causa hipomotilidade”.
Conclusão: encontrando o equilíbrio nos hábitos alimentares
Entender as complexidades da digestão, incluindo o papel do Complexo Motor Migratório, nos ajuda a compreender a necessidade de equilíbrio em nossos hábitos alimentares. Nem beliscar nem o jejum extremo são soluções para a saúde digestiva. Em vez disso, o ideal é:
1. Comer refeições planejadas e substanciais: concentre-se em refeições balanceadas e satisfatórias que forneçam energia e nutrientes suficientes.
2. Fazer um intervalo adequado entre as refeições: dê ao seu sistema digestivo a oportunidade de completar seu ciclo de limpeza, espaçando as refeições de 3 a 5 horas.
3. Evitar abordagens extremas: lembre-se de que tanto beliscar quanto o jejum prolongado podem atrapalhar seus processos digestivos e seu metabolismo.
4. Apoiar a saúde metabólica geral: por meio de uma alimentação balanceada, atividade física regular e sono adequado.
5. Pratique o gerenciamento do estresse, pois o estresse pode ter um impacto significativo não só na nossa função digestiva mas também nos nossos hábitos alimentares. Foi demonstrado que o estresse psicológico agudo suprime a motilidade do CMM em indivíduos saudáveis.
Ao adotar essas práticas equilibradas, podemos apoiar os processos digestivos naturais do nosso corpo, manter um metabolismo saudável e trabalhar para alcançar uma saúde digestiva e geral ótima. Lembre-se, o objetivo não é a perfeição, mas uma abordagem sustentável que respeite os ritmos e as necessidades naturais do nosso corpo.
Sobre a Autora
Ashley Armstrong é cofundadora da Angel Acres Egg Co., especializada em ovos com baixo teor de AGPI (gordura poli-insaturada), enviados para todos os 50 estados (entre na lista de espera aqui), e da Nourish Cooperative, que envia carne de porco, carne bovina, queijo, leite A2 e pão de fermentação natural com baixo teor de AGPI para todos os 50 estados. As listas de espera serão reabertas em breve.
Fonte: mercola