Micro-organismos benéficos presentes em um determinado solo podem ajudar a planta de soja a não apresentar determinadas doenças, como a podridão negra da raiz (Macrophomina haseolina) e podridão vermelha da raiz (espécies do complexo Fusarium solani), ambas responsáveis por grandes prejuízos econômicos no Brasil.
Essa foi a conclusão de um estudo apresentado durante o 42° Congresso Paulista de Fitopatologia. Segundo o biólogo, co-fundador da Biome4aal e um dos pesquisadores, Estácio Odisi, a ocorrência destas doenças depende de três fatores: presença do patógeno, ambiente favorável e hospedeiro suscetível.
“Mesmo com a ocorrência desses fatores, danos da doença não são percebidos em algumas áreas, o que pode estar associado a um solo supressivo”, explica.
Estudo baseado na safra 2021/22 de soja
O estudo foi baseado em análises de metagenômica do solo de áreas de soja coletadas no Brasil na safra 2021/22. O levantamento contou com 248 amostras, das quais 65% não apresentavam evidências de doenças, segundo os produtores. No entanto, quando realizadas as análises, foram identificados os patógenos M. phaseolina e F. solani em 59% e 35% das amostras respectivamente.
“Nas amostras de áreas sem doença, houve maior quantidade de conexões microbianas, maior densidade e maior homogeneidade. Além disso, foram encontrados diferentes antagonistas dos referidos patógenos presentes nas amostras. Essas características das áreas sem doença mostram uma comunidade mais equilibrada, com maior interação entre os micro-organismos, mais estruturadas e resilientes”, conta Camila Castellar, também responsável pelo estudo.
Micro-organismos identificados
Os micro-organismos que estiveram associados com a supressão em relação ao M. phaseolina foram Trichoderma, Bacillus, Penicillium, Streptomyces, Metarhizium e Talaromyces. Os antagonistas de F. solani também foram identificados. Entre eles estão Bacillus, Trichoderma, Bradyrhizobium, Penicillium, e Streptomyces.
Um fato interessante foi que outras espécies de Fusarium, como F. oxysporum, F. lacertarum e F. polyphialidicum, também foram elencados como antagonistas de F. solani.
Para o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e organizador do Congresso, Rodrigo Mendes, entender como o microbioma do solo impacta a supressão de doenças em sistemas produtivos é a chave para desenvolver estratégias sustentáveis de controle de doenças, diminuindo a dependência de moléculas químicas.
As metodologias apresentadas no estudo podem ser utilizadas para direcionar pesquisas com objetivo de prospecção de antagonistas a patógenos e direcionar o manejo do solo com esses agentes biológicos supressivos.
Fonte: canalrural