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Tecnologia

De periferia a executiva do iFood: a trajetória inspiradora de Luana Ozemela rumo à vice-presidência de impacto e sustentabilidade

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Em um mundo onde as adversidades podem moldar grandes líderes, Luana Ozemela se destaca como um exemplo vivo de resiliência e transformação. Nascida em Porto Alegre e criada nas proximidades do Morro da Cruz, na periferia da cidade, Luana enfrentou desafios inimagináveis desde a infância. Hoje, ela é uma executiva e economista com mais de 20 anos de experiência em investimentos de impacto social, tendo trabalhado em projetos que totalizam mais de R$ 500 milhões de dólares em 20 países. Esta é a história inspiradora de uma mulher que, por meio da educação e do empoderamento econômico, vem transformando vidas e quebrando barreiras no Brasil e no mundo.
Quem é Luana Ozemela e quais são suas principais conquistas?
Luana Ozemela: Sou executiva e economista com mais de 20 anos de experiência em investimentos de impacto social. Minha trajetória foi construída com base na crença de que a transformação social começa com o empoderamento econômico e a educação. Trabalhei no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no qual participei da construção de projetos de desenvolvimento social que totalizaram mais de R$500 milhões de dólares em 20 países.
Fui cofundadora de importantes iniciativas como a BlackWin, uma plataforma de investimentos para mulheres negras, e a Dima Consult, primeira empresa brasileira constituída no centro financeiro do Catar. Atualmente, ocupo o cargo de vice-presidente de impacto e sustentabilidade no iFood, no qual lidero projetos que buscam reduzir as desigualdades sociais e promover a inclusão no setor corporativo.
Fui reconhecida pela Bloomberg Linea por dois anos seguidos como uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina e participei como speaker do Fórum Econômico Mundial, em que debati o papel da diversidade para o desenvolvimento sustentável.
O quanto a sua origem influenciou no que você se tornou atualmente?
Cresci em Porto Alegre, onde, desde muito nova, pude testemunhar a militância dos meus pais no movimento negro. Minha jornada para me tornar economista começou em um recanto da periferia do Bairro Partenon, próximo ao Morro da Cruz. Meu ambiente era marcado pela escassez de recursos e pelo racismo diário, mas também foi repleto de oportunidades educacionais e de carreira, graças ao esforço e à determinação dos meus pais.
Convivi com o apagamento da população negra em Porto Alegre, algo que poucos sabem, mas que afeta diretamente 40% das pessoas negras, que vivem em bairros afastados dos centros urbanos, como o bairro onde cresci. Essas adversidades, no entanto, foram fundamentais para forjar minha determinação e alimentar minha crença de que a verdadeira mudança começa com o empoderamento econômico. Eu entendi isso quando, ainda criança, meus pais dormiam em filas para conseguir bolsas de estudo para que eu pudesse estudar inglês e tecnologia. E, mais tarde, quando ao voltar de uma passeata a favor da Lei de Cotas, li em um jornal uma reportagem que argumentava que as cotas raciais seriam prejudiciais para a economia. Não entendi nenhum dos argumentos do repórter, apesar de achá-los convincentes pela forma como ele, um homem branco, falava. Decidi, então, que queria falar aquela língua, queria entendê-la, ser convincente e usá-la ao favor dos meus iguais. Assim, o empoderamento econômico passou a ser a minha chave para abrir portas e derrubar barreiras.
Quando alcancei a minha própria independência, meu foco se expandiu para além da minha própria trajetória. Não era apenas sobre renda, mas também sobre construir patrimônio de pessoas negras para combater a desigualdade e a segregação no Brasil – e fora dele. Foi assim que comecei a buscar impactar vidas como a minha: usando a linguagem do capital.
Luana, você tem uma carreira super consolidada, porém sabemos que a vida nem sempre é um mar de rosas. Na sua opinião, como superar obstáculos diários no Brasil e construir um legado que possa transformar a vida das pessoas?
Superar obstáculos no Brasil, especialmente como mulher negra em um ambiente corporativo, exige resiliência, visão e propósito. Em qualquer ambiente, seja acadêmico, público ou privado, faz parte enfrentar os desafios. A pergunta que precisamos nos fazer é: o que faço com os aprendizados?
Acredito que o maior desafio é transformar as dificuldades em oportunidades de mudança. Ao longo da minha carreira, sempre procurei atuar de maneira estratégica, não apenas para minha própria ascensão, mas para criar caminhos para outras pessoas, especialmente da população negra. A construção de um legado passa pela criação de novas narrativas e pela conscientização sobre as barreiras estruturais que precisam ser desconstruídas. Além disso, é fundamental contar com uma rede de apoio e colaboração, pois as mudanças mais significativas são sempre fruto de um trabalho coletivo e de longo prazo.
Como vem sendo o trabalho de impactar a vida de pessoas com a educação?
Junto com o iFood, tenho feito um trabalho com foco em reduzir a desigualdade educacional. Estamos investindo em educação para jovens e adultos que fazem parte do nosso ecossistema, como entregadores e os donos e funcionários de restaurantes, que não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos.
Hoje, quase 30% dos entregadores e 14% dos parceiros de restaurantes não têm ensino médio. Com isso, oferecemos o programa Meu Diploma do Ensino Médio, que já ajudou a formar 6 mil entregadores, sendo que 45% deles relataram ter tido um incremento de renda depois do diploma, além de 28% afirmarem que continuaram seus estudos após terem se formado. Isso quer dizer que há efeitos imediatos para a vida dos parceiros e que vale a pena a dedicação para a conclusão do ensino médio.
Este ano, ampliamos o programa para participação do pessoal dos restaurantes. Os parceiros inscritos na prova do Encceja 2024 representaram 2,6% de todos os inscritos no país, o que mostra o impacto que já estamos causando nacionalmente para mudar o cenário educacional.
Qual seria a mensagem final da Luana para os leitores do GazzConecta?
Minha mensagem é de esperança e ação. A transformação social é um processo contínuo, no qual todos têm um papel fundamental. Para construir um futuro mais igualitário e sustentável, é essencial ampliarmos o acesso à educação, ao empoderamento econômico e à inclusão de práticas que promovam tanto o impacto social quanto o ambiental.
A equidade social não é uma responsabilidade isolada de um único indivíduo ou empresa, mas sim um compromisso compartilhado que envolve toda a sociedade. Por essa razão, trabalho para que a prosperidade e o desenvolvimento sustentável sejam alcançados por meio de iniciativas concretas, como a educação para o aumento de renda de pequenos estabelecimentos e entregadores, a implementação de entregas limpas e sustentáveis e a melhoria das condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho.
O sucesso de uma pessoa, de uma empresa ou de uma comunidade transforma não só a sua própria realidade, mas gera efeitos positivos e abrangentes. Meu objetivo é criar oportunidades que impulsionam o crescimento econômico inclusivo e sustentável, mostrando o impacto significativo que práticas responsáveis e integradas podem trazer ao mercado e ao nosso futuro coletivo.

Fonte: gazzconecta

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo