Uma arte rupestre encontrada na Amazônia colombiana foi decifrada por cientistas, tudo graças à ajuda de anciãos indígenas. As obras cobrem uma parede de arenito de 19 quilômetros de extensão e podem ter sido criadas há 11.000 anos.
A pesquisa da Universidade de Exeter, na Inglaterra, em parceria com especialistas em rituais e indígenas, descobriu que os desenhos representam o mundo espiritual e as transformações de humanos e animais.
“Descendentes indígenas dos artistas originais nos explicaram recentemente que os motivos da arte rupestre aqui não ‘refletem’ apenas o que os artistas viram no mundo ‘real’, disse o autor do estudo, professor Jamie Hampson.
Colaboração com anciãos
O paredão é extenso e composto por dezenas de milhares de figuras pintadas em ocre vermelho. Embora tenham sido encontradas há mais de uma década, a presença de grupos paramilitares na região até 2016 impossibilitava que o grupo tivesse acesso ao local.
A chave para a interpretação da arte foi a colaboração com os anciãos indígenas das comunidades Tukano, Desana, Matapí, Nukak e Jiw.
Segundo o especialista, o significado é profundo. “Elas codificam e manifestam informações críticas sobre como comunidades indígenas animistas e perspectivista construíram, se envolveram e perpetuaram seus mundos ritualizados e socioculturais.”
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Transformações espirituais
Segundo pesquisadores, as pinturas revelam um aspecto da cosmologia indígena amazônica, a fluidez entre o mundo animal e humano.
Para os xamãs da região, a transformação não é algo simbólico, mas uma experiência real, onde eles se tornam criaturas e viajam por dimensões espirituais.
O conceito de que os líderes espirituais podem se transformar em animais para acessar conhecimentos secretos é muito presente nas crenças animistas.
Criadas em locais sagrados
A interpretação também ajudou a entender de que maneira as pinturas foram criadas.
Segundo o grupo responsável pela descoberta, as imagens eram criadas em locais sagrados da paisagem em que os artistas estavam.
Por isso, as representações estão relacionadas à transformação e ao contato com seres não-humanos.
Para Jamie, a colaboração com os indígenas mostra como é importante que os povos originários participem de estudos sobre o passado.
“Ao fazer isso, nos permite não simplesmente olhar para a arte da perspectiva de um estranho e adivinhar. Isso nos permite entender que essa é uma arte sagrada e ritualística, criada dentro de uma estrutura de uma cosmologia animista, em lugares sagrados na paisagem”, finalizou.
O estudo foi publicado na revista Arts. Clique aqui para acessar!
Fonte: sonoticiaboa