Quem sai na rua no período da manhã está acostumado com a cena: a dupla ser humano mais cachorro em uma caminhada matinal ao banheiro. O curioso é que, em algumas situações, os pais de pet parecem ser parentes de verdade, de tão parecidos que são com os os animais – e existe uma explicação científica para esse fenômeno.
Uma análise recente uniu 15 estudos que abordam cães e donos esteticamente similares. A nova publicação sugere que, em muitos casos, as similaridades estão até na personalidade da dupla. Publicado no Personality and Individual Differences, o estudo ressalta uma pesquisa feita em 2015, que mostrava como mulheres várias vezes preferiam cachorros que tinham o mesmo estilo de cabelo que elas. Nesse estudo, um grupo de 251 mulheres criou um ranking de quatro raças de cães diferentes, e os resultados individuais foram marcados pela semelhança entre o tamanho do pelo das orelhas dos cachorros e do próprio corte das entrevistadas.
Em outros artigos mencionados, experimentos sociais faziam com que participantes combinassem fotos de cães com a foto que achavam ser de seus donos, sem conhecê-los. O desfecho? A estatística de acertos era bem maior do que esperado pelos autores. Em um caso em específico, os voluntários conseguiram acertar a dupla mesmo quando só tinham acesso a imagens dos olhos dos indivíduos e dos animais.
O estudo apresenta duas possíveis hipóteses para a coincidência de estereótipos entre cachorros e seus donos. A primeira é a semelhança por escolha. Ou seja, cães e humanos formam uma equipe devido à sua semelhança, na maioria dos casos, isso significa que o humano escolhe o cão que mais se parece com ele (mesmo que inconscientemente).
“Se assemelha à maneira como buscamos nossos parceiros”, diz a líder do estudo, Yana Bender, pesquisadora no DogStudies Research Group do Instituto Max Planck de Geoantropologia, na Alemanha, para a National Geographic.
A outra possibilidade diz respeito às personalidades análogas, que são justificadas pela semelhança ao longo do tempo. Para essa, a explicação é que, à medida que os animais e seus donos passam tempo juntos, mais vão aprendendo juntos, regulando as emoções um do outro e reforçando seus comportamentos. “Cães e seus donos compartilham ‘um relacionamento muito próximo’… comparável a muitos relacionamentos humanos”, explica a autora.
Para Borbála Turcsán, pesquisadora do comportamento dos cães da Faculdade de Ciências da ELTE, na Hungria, e autora de um artigo sobre a personalidade canina, dois terços do jeitinho dos pets é determinado pelo ambiente em que vivem. Muitas vezes, seu dono é, inclusive, responsável por moldá-lo, caso vivam juntos desde a infância do cãozinho.
Por exemplo, “se um caminhão está chegando e é muito barulhento, o cão olhará para o dono. Se o dono não se importar, o cão aprenderá a não se importar”, diz para a National Geographic.
Um outro estudo, não mencionado na análise, revelou que as personalidades de cães e donos frequentemente se refletem uma na outra. Pessoas ativas e extrovertidas tendem a ter cães que se comportam de maneira semelhante. Cães que são ansiosos ou agressivos geralmente têm donos com traços de personalidade mais negativos. Na pesquisa de Turcsán, foram investigadas semelhanças em cinco dimensões de personalidade: neuroticismo, extroversão, conscienciosidade, agradabilidade e abertura. Todas mostraram reflexos entre os pais de pet e seus filhotes caninos.
Existem muitos parâmetros que ainda devem ser explorados na análise principal. Uma das ressalvas da pesquisa é que a maioria dos animais que participaram dos estudos eram cachorros de raça, o que cria lacunas sobre esse fenômeno para cães vira-lata. Por exemplo, os caramelos podem não parecer tanto com seus donos quanto um poodle parece com uma senhora de cabelos cacheados.
Além disso, o número geral de casos analisados é relativamente pequeno. No caso da personalidade, o viés do dono também pode atrapalhar os resultados.
Fonte: abril