Se vocĂȘ achava que sua pegada de carbono estava ruim, lembre-se que pelo menos vocĂȘ nĂŁo usa um jatinho particular para realizar uma viagem da distĂąncia entre o Rio de Janeiro e NiterĂłi.
Um novo estudo analisou o impacto que os aviĂ”es dos super ricos tĂȘm sobre a emissĂŁo de carbono na atmosfera, e os resultados sĂŁo impressionantes.
SĂł 0,003% da população mundial tem acesso a jatos, um nĂșmero minĂșsculo. Mas esses poucos indivĂduos estĂŁo tratando cada vez mais os aviĂ”es como se fossem tĂĄxis: cerca de 9.000 voos feitos entre 2019 e 2023 percorreram menos de 50 km, por exemplo. Isso jĂĄ Ă© suficiente para piorar, e muito, a pegada de carbono humana. VĂĄrios jatos levantam voo praticamente vazios, somente para ir buscar alguĂ©m ou entregar uma encomenda.
Analisando mais de 25 mil aviĂ”es particulares e 18,7 milhĂ”es de viagens, pesquisadores da Universidade de CiĂȘncias Aplicadas de Munique (Alemanha) e da Universidade de Lineu (SuĂ©cia) calcularam as emissĂ”es com base no tempo de voo, na trajetĂłria percorrida e na mĂ©dia do consumo de combustĂvel de cada tipo de aeronave. Os dados foram coletados do site ADS-B Exchange platform.
Os resultados mostraram que a aviação privada contribuiu, no geral, com aproximadamente 15,6 milhĂ”es de toneladas mĂ©tricas de diĂłxido de carbono em 2023 â cerca de 3,6 toneladas mĂ©tricas por voo, em mĂ©dia.
Esse total equivale a sĂł 1,8% das emissĂ”es da aviação comercial, porque essa, por Ăłbvio, forma um mercado muito maior. Mas, ao calcular a emissĂŁo por passageiro, os jatos privados tĂȘm impacto proporcionalmente muito maior que os voos comerciais.
A equipe concluiu que 50% dos voos percorreu menos de 500 km.
Alguns jatinhos podem emitir mais gĂĄs carbĂŽnico por hora do que uma pessoa geraria em um ano. Logo, de acordo com o novo estudo, quem se desloca frequentemente nesse veĂculo VIP pode liberar 500 vezes mais diĂłxido de carbono do que outras pessoas ao redor do mundo.  Â

Em mĂ©dia, 50 dos bilionĂĄrios mais ricos do mundo voaram 184 vezes ao ano, e foram responsĂĄveis por produzir mais carbono do que uma pessoa produziria em 300 anos.Â
Os voos aumentavam quando algum feriado estava perto ou algum evento mundial estava prestes a acontecer. Natais e anos novos registravam mais voos fugindo do inverno do hemisfĂ©rio norte e chegando em destinos turĂsticos e tropicais. Nos meses de verĂŁo, Ibiza e Nice foram populares durante os finais de semana de Sol.Â
Em 2022, 1846 aviĂ”es particulares pousaram no Qatar para a Copa do Mundo. Outros picos de viagens foram o Festival de Filmes de Cannes, o Super Bowl, a COP 28, conferĂȘncia do clima em Dubai e o FĂłrum EconĂŽmico Mundial em Davos. Sim, vocĂȘ nĂŁo leu errado: encontros para discutir o aquecimento global e os impactos das mudanças climĂĄticas levam ao maior uso de jatinhos.


Muitos dos jatos mais usados sĂŁo ligados a celebridades, como o bilionĂĄrio da Tesla Elon Musk, o antigo CEO do Google Eric Schmidt, a celebridade Kim Kardashian e o cantor Jay-Z, segundo dados do site data Celebrity Jet. Mesmo assim, o estudo nĂŁo exclui grandes polĂticos, outros super-ricos anĂŽnimos e donos de grandes negĂłcios.
Em termos geogrĂĄficos, o lĂder do ranking foi os Estados Unidos, que concentra 69% dos voos particulares. Mas o Brasil vem logo atrĂĄs, com 3,5% de viagens. CanadĂĄ, Reino Unido e AustrĂĄlia tambĂ©m entram no top 10.
Em 2023, o total de emissĂ”es derivadas de jatinhos particulares foi de mais de 15 milhĂ”es de toneladas â mais do que as 60 milhĂ”es de pessoas emitiram na TanzĂąnia no mesmo perĂodo.
Durante a pandemia, em 2020, os nĂșmeros ficaram estĂĄveis, mas, jĂĄ no ano seguinte, voltaram a crescer â bem diferentes das grandes aeronaves da aviação comercial, que sofreu bastante nos dois anos. Â
Se estava ruim, ainda tem como piorar: a expectativa Ă© que outros 8.500 jatinhos entraram em circulação em 2024. Os pesquisadores realçam a enorme desigualdade entre as emissĂ”es na conta dos ricaços, em comparação com a parcela dos mais pobres.Â
âSe os muito ricos nĂŁo tĂȘm que reduzir as suas emissĂ”es⊠entĂŁo nĂŁo temos qualquer razĂŁo para que mais ninguĂ©m reduza tambĂ©m, porque todos os outros estĂŁo emitindo menosâ, disse Stefan Gössling, lĂder da pesquisa, para a New Scientist.Â
O pesquisador disse que uma solução para isso seria cobrar dos passageiros dos jatos pelo estrago climĂĄtico. Cada tonelada de CO2 custaria 200 euros. âBasicamente, parecere justo que as pessoas paguem pelos danos que estĂŁo causando pelo seu comportamentoâ, disse Gössling ao The Guardian.Â
A pesquisa foi publicada na Nature Communications Earth & Environment.Â
Fonte: abril