Na última segunda-feira (28), aconteceu a Bola de Ouro, uma das maiores premiações do mundo do futebol. O espanhol Rodri, jogador do time inglês Manchester City, conquistou o primeiro lugar na categoria masculina. Já a jogadora do Barcelona Aitana Bonmati foi eleita como a melhor do futebol feminino pelo segundo ano consecutivo.
Porém, o resultado surpreendeu e desagradou uma boa quantidade da população global, que esperavam que o vencedor da categoria “Melhor Jogador” seria o brasileiro Vinicius junior, do Real Madrid, franco favorito para levar o troféu.
A polêmica se intensificou quando a informação que Vinicius não seria campeão foi vazada horas antes da premiação. Vini, o time do Real Madrid e a comissão técnica da equipe não compareceram ao Théâtre du Châtelet, em Paris, local do evento. Para a agência de notícias AFP, o time declarou que ” o [prêmio] Bola de Ouro não respeita o Real Madrid. E o Real Madrid não vai onde não é respeitado.”
Rodri chegou no teatro ao som de vaias e subiu ao palco ouvindo gritos que clamavam por Vinicius Junior.
Vamos entender a história e como funciona a Bola de Ouro.
Nasceu em uma revista
A Bola de Ouro é o prêmio mais antigo dedicado a destaques individuais do mundo do futebol. A primeira edição aconteceu em 1956, realizada de forma independente pela revista francesa France Football.
Até 1994 apenas jogadores europeus ou naturalizados na Europa poderiam receber a glória. Por isso jogadores históricos como Pelé e Maradona nunca ganharam a competição. Foi só em 1995 que o primeiro atleta não europeu foi contemplado: George Weah, da Libéria, que naquele ano jogou pelo francês PSG e pelo italiano Milan.
Ainda demoraria alguns anos para que o prêmio aceitasse jogadores de clubes do mundo inteiro. Em 2006, a revista revisou as regras do evento e começou a abranger profissionais que atuavam em qualquer equipe.
Dez anos depois, em 2016, a France Football divulgou um relatório de como os resultados da Bola de Ouro teriam sido diferentes caso a regra de inclusão tivesse sido imposta desde o início.
O mea culpa da Bola de Ouro levou em conta o desempenho e as conquistas de jogadores que, pelos critérios antigos, não foram levados em consideração. Segundo a revista, Pelé levaria o prêmio em sete oportunidades, quatro delas em anos consecutivos. Maradona teria vencido em outros dois anos. Garrincha, Romário e o argentino Mário Kempes também teriam sido campeões.
A categoria feminina, por sua vez, só foi introduzida na disputa em 2018 – jamais saberemos quantas Bolas de Ouro Marta teria recebido ao longo de sua carreira. Mas tudo bem: a Fifa já a elegeu como a melhor do mundo seis vezes.
Hoje em dia, Lionel Messi é o maior ganhador da Bola de Ouro, com oito conquistas debaixo do braço. Entre brasileiros, o troféu já veio pra casa nas mãos de Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká.
Em 1999, a revista fez a eleição de Jogador de Futebol do Século, e pediu para que vencedores de edições anteriores votassem para indicar quem seria o chefão dos gramados, e adivinha? Pelé foi eleito com 122 votos e consagrado como o maioral.
Além do melhor jogador da temporada (entre agosto e julho, período dos campeonatos europeus), o prêmio também reconhece treinador, goleiro, causa social, jogador jovem, artilheiro e o clube do ano.
Vale dizer que, mesmo com a presença de atletas e equipes femininas na disputa, algumas categorias ainda são premiadas exclusivamente para o cenário masculino.
Como funciona a votação?
O nome de 30 jogadores que tiveram uma excelente campanha durante o período de avaliação são escolhidos pelo jornal L’Équipe e pela União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) – que, aliás, fez sua estreia de participação este ano. Os nomes são enviados para jornalistas esportivos dos 100 países que ocupam as melhores posições no ranking da FIFA. No Brasil, o único a votar é o narrador Cléber Machado
(No caso das categorias femininas, vale dizer, os votante pertencem aos 50 países mais bem posicionados no ranking FIFA).
Os repórteres, então, selecionam 10 jogadores da lista e, a partir de suas opiniões, montam uma ordem de desempenho, sendo o primeiro lugar o mais indicado para o prêmio e o último, o menos. Quem estiver no número um ganha 15 pontos, o segundo 12 e o terceiro 10 (o resto da lista ganha pontos também, mas não tanto quanto os três primeiros colocados). No final, quem tiver mais pontos na somatória geral leva o título.
Para os organizadores do evento, devem ser levados três critérios na hora da votação: desempenhos individuais, caráter decisivo e impressionante; desempenhos e conquistas da equipe; classe e jogo limpo.
Em caso de empate, a definição é feita a partir da quantidade de vezes que o nome foi mencionado como número um – quem foi mais recomendado nessa posição, vence.
A polêmica atual
Segundo Vincent Garcia, editor-chefe da France Football, o primeiro lugar deste ano não teria ido ao brasileiro por uma razão matemática.”Reflete a temporada do Real Madrid, que teve três ou quatro jogadores [entre os candidatos], e os jurados repartiram os seus votos entre eles, o que acabou por beneficiar o Rodri”, disse ao jornal L’Équipe Tv. O editor também comentou o boicote feito pelo time espanhol e disse ter ficado “desagradavelmente surpreendido com a ausência deles“.
Vini venceu todas as enquetes feitas pelo L’Équipe e era o concorrente mais provável a vencer a disputa. Apesar do segundo lugar conquistado, surgiram grandes manifestações sobre o resultado afirmando ser mais um caso de racismo no futebol – desde 1995, apenas cinco jogadores negros receberam o troféu. Personalidades do mundo inteiro se incomodaram com a situação.
Em sua conta do X/Twitter, Vinicius Junior disse: “Eu farei 10x se for preciso. Eles não estão preparados”.
Fonte: abril