Durante muito tempo os desenvolvedores de games foram vistos pelo grande público como um bando de nerds enclausurados num porão, vivendo apenas a base de pizza e refrigerantes. Porém, aos poucos alguns desses profissionais conseguiram conquistar um status de celebridade, o que consequentemente deu início a uma certa rivalidade entre os que ostentavam mais fama, como Cliff “CliffyB” Bleszinski e John Romero.
Atuando como co-designer do Unreal, CliffyB passou a mirar no lendário programador da id Software para tentar se destacar e isso aconteceu principalmente devido ao estilo de vida que o criador de jogos como e Wolfenstein 3D e Doom mostrava ao mundo.
“Eu via Romero como meu inimigo,” declarou Bleszinski em entrevista ao site IGN. “Ele estava namorando a Stevie Case na época, que estava na Playboy e tudo mais e eu estava tipo ‘vou derrubar esse cara.’ […] eu não tinha nada e queria aquilo, [ele] tinha tudo e ostentava. Então estávamos tentando derrotar [o Quake].”
Segundo o game designer, John Romero era “um verdadeiro rockstar” na época, desfilando pela Califórnia com seu cabelo comprido e unhas pintadas. Cliff Bleszinski então começou a buscar maneiras de usar sua aparência para também chamar a atenção, deixando o cabelo loiro, depois pintando-o de vermelho, tudo para fazer parte da “cultura pop”.
Porém, no que o ex-funcionário da Epic Games classificou como uma típica história de Hollywood, o sucesso de ambos tinha prazo para terminar. Após Romero deixar a id para fundar a Ion Storm e ela ser fechado em 2005, a empresa de CliffyB aproveitou aquela oportunidade para contratar vários bons profissionais que ficaram sem emprego.
Embora hoje sejam amigos, Bleszinski admite que naquela época torceu muito pelo fracasso do arquirrival, o que ele admite ter sido um comportamento estúpido. E como diz o ditado, “o mundo dá voltas” e logo o sujeito sentiria na pele como seria ver seu próprio estúdio ter que interromper suas atividades.
Após se desligar da Epic Games e fundar o Boss Key Productions em 2014, seu título de estréia — o arena shooter Lawbreakers — nunca foi capaz de fazer sombra ao seu suposto principal adversário, o Overwatch. O estúdio ainda se arriscou pelos battle royales com o Radical Heights, mas novamente fracassou em conquistar o público e em 2018 o game designer teve que fechar sua desenvolvedora.
Com a onda de críticas e cobranças sendo enorme, Cliff Bleszinski tomou uma atitude radical, anunciando que estava deixando a indústria de games. Logo depois ele foi seguido por David Jaffe, ninguém menos do que o criador da série God of War, em atitudes que reforçaram o quão desgastante pode ser trabalhar com o desenvolvimento de jogos.
Quanto ao sujeito que ajudou a transformar a franquia Unreal num grande sucesso, ele também sempre será lembrado por ser o principal nome por trás de outra marca muito adorada, a Gears of War. Vendida para a Microsoft em 2014, muitas pessoas não entenderam a decisão, mas CliffyB acredita que sua ex-empregadora fez o movimento correto, mesmo se desfazendo de uma propriedade intelectual tão importante.
“Eu honestamente penso que quando Lee Perry [designer de jogabilidade], eu e o Rod Ferguson [produtor] saímos, acredito que a Epic realmente não sabia o que fazer com a franquia,” defendeu Bleszinski. “Eles não lançavam um jogo há algum tempo. A [Unreal] engine estava se saindo muito bem, mas eles estavam crescendo e provavelmente precisavam da receita, embora não soubessem o que fazer com o futuro da franquia.”
Contudo, o “pai do Gears” não escondeu uma pontada de ressentimento quando se trata da maneira como foi tratado enquanto a negociação entre as duas gigantes estava acontecendo. Segundo ele, por mais que adore Tim Sweeney e Mark Rein, respectivamente CEO e vice-presidente da Epic, a única pessoa que o procurou para falar sobre a venda foi Phil Spencer, hoje responsável pela divisão Xbox.
No fundo, nenhum deles tinha obrigação de informar Cliff Bleszinski sobre o que estava acontecendo nos bastidores, mas por se tratar do sujeito que idealizou a franquia, aquela atitude soaria como um sinal de agradecimento e por isso o game designer fez questão de mostrar sua gratidão à iniciativa de Spencer.
Já da parte da Epic Games, por mais que perder um nome tão pesado quanto o Gears of War possa ter sido um baque e tanto, isso provavelmente abriu as portas para a empresa apostar em outras ideias. E entre elas está um tal de Fortnite, jogo que se tornou uma febre mundial muito maior que a saga iniciada por Marcus Fenix. Contudo, tenho certeza que há uns cinco ou seis anos poucas pessoas teriam coragem de apostar que isso aconteceria.
Fonte: terra.com.br/gameon