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Massacre das Bananeiras: a história real por trás de ‘Cem Anos de Solidão’

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A Netflix irá lançar a primeira parte da série Cem Anos de no dia 11 de dezembro, com oito episódios prontos para serem maratonados. Até lá, a expectativa está alta para conferir a adaptação televisiva de uma das maiores -primas da literatura latino-americana.

Gabriel García Márquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982, publicou Cem Anos de Solidão em 1967. O livro conta a história de diferentes gerações da família Buendía e da cidade que eles fundaram, Macondo.

O escritor e jornalista se inspirou na história da Colômbia para escrever passagens que parecem fantasiosas, mas que tem um pé na realidade. A Guerra dos Mil Dias, por exemplo, aconteceu entre 1899 e 1902, colocando conservadores contra liberais e devastando o país. É nesse conflito real que a guerra civil retratada em Cem Anos de Solidão se inspira.

Outro evento que inspirou García Márquez a escrever foi o Massacre das Bananeiras, ocorrido em 1928. Nesse sombrio episódio da história colombiana, o maior movimento trabalhista da história do país até então acabou com a morte de até dois mil trabalhadores, assassinados pelo exército da Colômbia para proteger os interesses de uma empresa americana.

O que foi o Massacre das Bananeiras

No livro, García Márquez conta a história de uma companhia bananeira que, para não reconhecer as reivindicações dos trabalhadores colombianos, fez um complexo malabarismo jurídico para dizer que, na verdade, não empregava trabalhador nenhum. Depois disso, “a grande greve estourou. Os cultivos ficaram pelo meio, a fruta apodreceu no pé e os trens de cento e vinte vagões ficaram parados nos desvios”, escreve.

A greve de verdade, ocorrida na cidade de Ciénaga, começou com reivindicações de condições dignas de trabalho. Os trabalhadores passaram semanas tentando negociar com a United Fruit Company, empresa dos EUA que era a dona do maior latifúndio da Colômbia.

Eles queriam ser reconhecidos como trabalhadores da UFC, além de compensação por acidentes no trabalho, uma jornada de trabalho de seis dias (com um dia de descanso remunerado), aumento nos salários e o fim do pagamento em cupons em vez de dinheiro. Tudo isso seguia a lei colombiana da época, diga-se.

No dia 12 de novembro, pelo menos 25 mil pessoas pararam de trabalhar para que suas reivindicações fossem ouvidas. Depois de quase um mês, no dia 5 de dezembro, a empresa ainda não havia demonstrado interesse em negociar.

Foi nesse dia que 700 soldados do exército colombiano chegaram em Ciénaga para controlar a situação. Eles foram enviados pelo governo de Miguel Abadía Méndez, representado pela figura do general Cortés Vargas. Mas os não estavam ali para defender os trabalhadores colombianos. 

Funcionários do governo dos Estados Unidos na Colômbia e da United Fruit (que continua existindo até hoje, mas com o nome de Chiquita Brands) mandaram telegramas para o Secretário de Estado dos EUA pintando os trabalhadores como comunistas subversivos. O governo colombiano tinha medo de não agradar os americanos e perder os mercados de banana dos EUA e da Europa.

Os trabalhadores ficaram esperando um pronunciamento do governador na praça da cidade, ao lado da estação de trem de onde as bananas eram transportadas. Os homens e suas famílias, incluindo as crianças, tinham acabado de sair da missa quando ouviram o decreto oficial, que dizia que “os homens de força pública” poderiam castigar os trabalhadores “com armas”.

Tanto no livro quanto na realidade, eles receberam o aviso de que deveriam sair da praça em cinco minutos. Depois disso, os soldados atiraram contra a multidão que ficou. O general assumiu responsabilidade por 47 mortes. Os outros corpos sumiram, e até hoje ninguém sabe com certeza quantas pessoas foram mortas. Algumas estimativas falam em cerca de 2.000 ítimas.

Em Cem Anos de Solidão, o massacre é esquecido por todas as pessoas de forma mágica. “Não houve mortos” é o refrão que a população repete para o personagem José Arcádio Segundo, o que parece se lembrar do episódio sombrio.

Na vida real, o massacre também ficou esquecido, mas porque foi encoberto pelo governo desde o primeiro dia. Como escreveu o jornalista uruguaio Eduardo Galeano, “não houve necessidade de editar nenhum decreto para apagar a matança da memória oficial do país”. Anos depois, a literatura ajudou a preservar a memória do país que o governo tentou apagar.

Fonte: abril

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo