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A verdadeira origem de Cristóvão Colombo: Novo documentário ressurge debate

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Talvez você tenha percebido que o explorador Cristóvão Colombo viralizou nas redes na última semana, 518 anos depois de sua morte. Um documentário lançado na Espanha afirmou, com base em estudos de DNA, que o navegador era um judeu sefardita espanhol. Essa informação foi considerada surpreendente porque contraria o consenso histórico de que ele era um cristão de Gênova, república no norte da península itálica (hoje parte da Itália).

Agora, após a divulgação da notícia, cientistas e historiadores da área estão questionando a afirmação, pedindo mais provas antes de reescrever a história de Cristóvão Colombo.

Entenda a descoberta do documentário

Cristóvão Colombo foi o navegador responsável por liderar a frota de navios que chegou às Américas em 1492. Eles chegaram às Bahamas enquanto procuravam um novo trajeto para as Índias. Hoje, essa data marca o início da colonização europeia do continente americano.

Ele morreu 14 anos depois da expedição, já de volta à Espanha. Seus restos mortais foram transferidos da Espanha para Cuba, em 1795, e depois de volta à Europa, para a Catedral de Sevilha, em 1899. Alguns historiadores, porém, duvidam que os restos mortais que voltaram à Espanha realmente sejam dele.

Eles também duvidam bastante do local de nascimento de Colombo. Enquanto o consenso histórico, baseado em evidências documentais, aponta para Gênova, outros historiadores também já sugeriram Espanha, Portugal, Grécia e até as ilhas britânicas como outras origens possíveis para o explorador. A curiosidade e a dúvida sobre sua ancestralidade não vem de hoje.

Dois cientistas forenses da Universidade de Granada, na Espanha, se debruçaram sobre seu suposto material genético. Com base na pesquisa de José Antonio Lorente e Miguel Lorente, nasceu o documentário “DNA de Colombo: A Verdadeira Origem”, transmitido pela TVE, a emissora de televisão pública da Espanha.

A primeira coisa que eles descobriram foi que os restos mortais na Catedral de Sevilha realmente pertencem a Colombo. Mas essa não foi a descoberta mais interessante da equipe do documentário. Segundo o exame de DNA realizado, o material genético do explorador tem mais relação com origens judaicas e populações do oeste da Europa, como os espanhóis, do que com os genoveses.

Além do DNA de Colombo, eles também encontraram o material genético de Hernando Colombo, seu filho. Tanto no cromossomo Y, transmitido pelo pai, como no DNA mitocondrial, transmitido pela mãe, os cientistas identificaram traços compatíveis com uma possível origem judaica.

Qual o problema

Ciência não se produz em laboratórios fechados. Artigos são publicados depois de um processo de revisão por pares, de preferência rigoroso, e a comunidade científica debate e discute os dados e as ideias. É assim que novas descobertas são divulgadas e consensos são criados.

O problema com a suposta descoberta da origem de Colombo é que ela não passou por nenhum desses passos de validação científica. O documentário desbanca as outras teorias sem apresentar os dados necessários para explicar como a equipe chegou a nova conclusão bombástica. Não há nenhum artigo escrito que demonstre os detalhes da pesquisa.

José Antonio Lorente afirmou ao jornal El País que vai revelar toda a base científica para o documentário em uma conferência de imprensa em novembro, e, depois disso, vai enviar o artigo para publicação. Isso não muda que o documentário já está no ar, tratando a ideia de Colombo como um judeu sefardita da Catalunha cientificamente comprovada, mesmo sem muitas evidências para sustentar isso.

O documentário se baseia na teoria do arquiteto Francesc Albardaner, que defende que Colombo era um judeu sefardita (ou seja, parte da população judaica da Península Ibérica). Segundo ele, o navegador seguia os costumes da religião na sua vida privada, mas se apresentava como cristão em público.

Cientistas que assistiram ao documentário ficaram incomodados pela falta de especificidade sobre como o DNA de Colombo foi estudado. Não se sabe o método de análise do material genético, as regiões do DNA que foram examinadas ou mesmo quais foram os resultados obtidos.

A equipe de Lorente tem trabalhado com os supostos restos mortais de Colombo desde 2003. Só 150 gramas de fragmentos de ossos – o maior deles com quatro centímetros – restaram. Cientistas envolvidos no começo do estudo, como o antropólogo Miguel Botella e os geneticistas Ángel Carracedo e Mark Stoneking, saíram do projeto por causa da dificuldade de conseguir alguma informação genética de boa qualidade com aqueles restos mortais degradados.

Já em 2006, Lorente afirmou que os restos mortais encontrados na Catedral de Sevilha eram certamente de Cristóvão Colombo. A informação percorreu o mundo inteiro, mas, de novo, sem provas científicas.

A tecnologia de análise de DNA evoluiu muito nos últimos 20 anos, o que pode explicar os avanços recentes na história. Porém, mesmo que esse seja o caso e a análise do DNA tenha dado certo, ainda há alguns problemas científicos com afirmar onde Colombo nasceu por meio do teste genético.

No fim do documentário, é falado que o material genético recuperado de Cristóvão Colombo é uma parte do cromossomo Y. Essa é uma fração muito pequena de todo o DNA de um ser humano. Segundo o geneticista Antonio Salas, em entrevista ao El País, não há como confirmar uma origem sefardita só com base no cromossomo Y.

O problema não é só de escassez de material genético. Nem se tivessem todo o DNA de Colombo daria para dizer, com certeza, que ele nasceu na Espanha e foi um judeu sefardita. 

Nenhum exame de DNA pode revelar se alguém tinha uma identidade cultural e religiosa ou uma certa nacionalidade, já que esses são conceitos sociais, e não biológicos. O máximo que se pode descobrir com material genético é se há uma alta probabilidade de Colombo ter tido parentes judeus ou da Espanha, comparando com o DNA de pessoas comprovadamente judias ou espanholas.

Enquanto as informações científicas não forem disponibilizadas e publicadas, não dá para afirmar que Colombo é um judeu sefardita da Espanha. O documentário pode até ser legal, mas (ainda) não é ciência.

Fonte: abril

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo