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Tecnologia

Capcom Arcade 2nd Stadium, preservação e emulação

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Vamos direto ao ponto: Capcom Arcade 2nd Stadium é uma coletânea para entusiastas da Era de Ouro dos Arcades. Ela reúne 32 títulos do estúdio, entre clássicos como os das séries Street Fighter e Darkstalkers, e outros mais variados e antigos, traçando uma interessante linha do tempo evolutiva da produtora japonesa.

Nem tudo é perfeito, entretanto: ela comete o erro de repetir títulos presentes em outra de suas coletâneas recentes, e com recursos a menos, sem falar que pacotes de títulos ipsis litteris dos originais, com algumas perfumarias, sempre conflitam com um poderoso adversário: a emulação.

Um acervo mais eclético

Capcom Arcade 2nd Stadium acerta em oferecer uma seleção bem variada de títulos. São 32 ao todo, entre eles alguns considerados importantes para a desenvolvedora, como SonSon (gratuito para jogar), sua versão para o clássico romance chinês Jornada ao Oeste, do qual o mangá/anime Dragon Ball também derivou.

Há diversos games conhecidos pela geração que devorava beat ’em ups na saída da escola nos anos 1980 e 1990, como Knights of the Round, Magic Sword e The King of Dragons, que incorporavam elementos de RPG, diversos shoot ’em ups, como 1943 Kai, Black Tiger, Eco Fighters e Last Duel, e títulos de Arcade que ficaram esquecidos por muito tempo, como os dois Mega Man, The Power Battle e The Power Fighters, que removem a jogabilidade de plataforma e focam nas batalhas contra os Robot Masters.

Há até mesmo duas coletâneas dentro do pacote, cada uma reunindo três jogos diferentes: a de esportes Capcom Sports Club e a clássica Three Wonders, que reúne dois jogos bem conhecidos dos fãs, o plataformer Midnight Wanderers e o shoot ’em up Chariot.

Há uma boa seleção de jogos de luta (mais sobre isso a seguir), com o destaque indo para o relativamente obscuro Saturday Night Slam Masters, que traz uma participação de Mike Haggar, trocando sopapos com diversos adversários no ringue, um dos poucos games de Arcade que explorava o gênero de luta-livre. Você também encontra aqui puzzles, como Block Block, Pnickies e Don’t Pull (o 3.º título de Three Wonders, e o menos lembrado).

Da parte de perfumarias extras, há diversos filtros de tela diferentes, para emular monitores antigos de Arcade e TVs, molduras com artes variadas, inclusive uma que simula um gabinete, com a inclinação típica. Todos os games são apresentados em suas proporções de tela originais, seja 4:3 ou vertical para alguns shoot ’em ups, mas é possível ajustar o zoom para mais perto ou mais longe, ou selecionar a opção de tela cheia, que claro, distorce os pixels.

Por fim, há leaderboards online para comparar pontuações com outros jogadores, desafios para cada título, e uma opção para rebobinar a ação e voltar a um ponto anterior, para evitar erros e mortes bobas. Você também pode selecionar entre ROMs japonesas ou ocidentais.

Albúm da Capcom com figurinhas repetidas

Este é o grande calcanhar de Aquiles de Capcom Arcade 2nd Stadium. Assim como aconteceu com a anterior Capcom Arcade Stadium, alguns dos títulos aqui reunidos, especialmente os de luta, já podiam ser encontrados em outros pacotes, como Street Fighter 30th Anniversary Collection, Capcom Beat ’em Up Bundle, e a recente Capcom Fighting Collection.

No presente caso, os títulos já lançados são os três títulos principais da série Darkstalkers (o primeiro, The Night Warriors e Vampire Savior), Super Puzzle Fighter II Turbo, Super Gem Fighter Mini Mix, Hyper Street Fighter II: The Anniversary Edition, e o primeiro Street Fighter, também conhecido como Fighting Street.

Excluindo este último, os demais sofrem da limitação padrão da coletânea: diferente das cópias incluídas em compilações anteriores, nenhum jogo aqui possui suporte a partidas online. A jogatina a dois só pode ser realizada localmente.

Isso é uma pena principalmente porque limita a possibilidade de curtir com outras pessoas ao redor do mundo a trilogia Street Fighter Alpha, que rendeu títulos de qualidade excelente e adicionou personagens memoráveis à franquia, como Rose, Charlie Nash, Sakura, Karin, R. Mika, e o impagável Dan Hibiki, um pastiche descarado de Ryo Sakazaki e Robert Garcia, protagonistas da série Art of Fighting, da então rival SNK.

Ela também serviu para resgatar vários lutadores de títulos mais antigos para os games modernos, como Gen, Adon e Birdie do primeiro Street Fighter, e Guy, Cody, Sodom e Rolento de Final Fight.

“Vamos faturar” ou emular?

Tecnicamente, não há nenhuma diferença entre as ROMs incluídas em Capcom Arcade 2nd Stadium e as originais do Arcade. Há inclusive um botão dedicado para “colocar uma ficha”, de modo a adicionar um crédito e jogar. O intuito era reproduzir, em detalhes, a sensação de jogar nas antigas casas de fliperama, apelando para os jogadores mais velhos, na faixa dos 35 a 55 anos.

Do ponto de vista da preservação de jogos, tema que vira e mexe discutimos, é uma boa iniciativa. Claro que há a turma que não deixará de emular esses games, pelo simples motivo de poder encontrar as mesmas ROMs na internet, e rodá-las em seus PCs ou dispositivos dedicados, tecnicamente de graça (excluindo custos com hardware).

A Capcom percebeu inclusive que isso prejudicou a performance inicial de vendas de Capcom Arcade Stadium, que inicialmente só permitia comprar mais jogos em packs. Posteriormente, ela liberou a opção ao jogador de adquirir cada título separadamente, estratégia padrão em Capcom Arcade 2nd Stadium.

Ambas abordagens são válidas, dependendo do contexto. A Nintendo, por exemplo, enquanto completamente avessa à emulação, insiste com sua estratégia confusa de “preservar suas marcas” com jogos novos, o que não significa nada para manter os títulos individuais vivos, vide, por exemplo, a recente decisão de vender jogos com prazo de validade; o caso de Super Mario Bros. 35 foi pior, já que ele efetivamente deixou de existir.

A Capcom tem, enquanto dona das franquias, o direito legal de lucrar com games antigos, e ao menos está se esforçando para manter esses títulos acessíveis a cada nova geração de consoles. Há gente séria, dentro do mercado (Phil Spencer, por exemplo) que defende a emulação como a única alternativa para resgatar jogos que não foram republicados, ou a última linha de defesa contra a amnésia do setor.

Eu consigo aceitar um cenário onde um estúdio pode manter seus jogos clássicos vivos, mesmo que cobre por eles, embora muitos que defendem a emulação em todos os casos de uso, prefiram não abrir a carteira; no meu entendimento, e mesmo com seus defeitos, Capcom Arcade 2nd Stadium já é muito mais do que algumas empresas fazem.

Estou olhando para você, Nintendo.

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Capcom Arcade 2nd Stadium — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS4, Xbox One, Nintendo Switch e Windows (analisado no PS5, com cópia cedida pela Capcom);
  • Desenvolvedora — Capcom;
  • Distribuidora — Capcom;
  • Classificação Indicativa — 12 anos.

Pontos fortes:

  • Vasta seleção de jogos, e bem variada entre gêneros;
  • Títulos raros, obscuros e que indisponíveis (legalmente) há muito tempo;
  • Diversas opções de customização.

Pontos fracos:

  • Sem multiplayer online;
  • Games repetidos de compilações anteriores;
  • Capcom insiste em dividir coletâneas em diversos volumes.

Capcom Arcade 2nd Stadium, preservação e emulação

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