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Política

Abilio Brunini: trajetória política e preparação para Eleições 2024

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Polêmico, cômico e, agora, pacífico? Pois é. O pré-candidato à Prefeitura de Cuiabá Abilio Brunini (PL) está de ‘skin’ nova para 2024. Mais experiente, o político de mandato explica ter tomado fôlego para mais uma vez sair de sua zona de conforto e lutar pela cidade que sonha para o futuro dos filhos Sebastian e Ana Regina. 

Em entrevista ao Leiagora, Brunini relembrou a trajetória do estudante de Arquitetura e Urbanismo ignorado em meio a uma audiência pública, que ganhou espaço em um programa de rádio local, filiou-se ao partido do capitão Jair Bolsonaro na época o PSC (Partido Social Cristão) e, com muito esforço, conquistou uma cadeira na Câmara Municipal de Cuiabá.

No parlamento, viu na fiscalização do Executivo uma oportunidade de mostrar seu trabalho, especialmente por ocasião da ‘Operação Sangria’, que ajudou a desarticular um esquema na Saúde, culminando no afastamento e na prisão do ex-secretário Huark Douglas. Apesar dos ‘dias de glória’, teve o mandato cassado em 2020 por quebra de decoro, no mesmo dia em que recebeu a notícia de que seria pai pela primeira vez.

O agora deputado federal já disputou a prefeitura em 2020 e por pouco mais de 1% dos votos perdeu para o atual gestor Emanuel Pinehrio (MDB) no segundo turno. Veterano na corrida pelo Alencastro, de forma bem-humorada, ele relembra as principais derrapadas que dificultaram sua vitória na época. Por exemplo, ter negado um aperto de mão a Dorileo Leal, um dos maiores empresários da mídia mato-grossense.

Caso eleito desta vez, Abilio garante uma imprensa livre, um bom relacionamento com o governo de Mato Grosso, ‘mas nada de submissão’, além de boas propostas e representatividade feminina. Mas, claro, tudo à moda conservadora, valor defendido pelo postulante a prefeito.

Confira a entrevista completa:

Leiagora – Qual foi a trajetória política de Abilio Brunini para chegar até aqui?

Abilio – Comecei a me interessar por política através da Arquitetura e Urbanismo, onde comecei a discutir o da cidade, ainda na época de estudante da Unic e, aí, eu fui participar de uma audiência pública em Cuiabá para discutir o plano diretor, em 2015, da gestão Mauro. E o secretário do governo perguntou quem era eu para dar uma opinião lá. Falei que era estudante de Arquitetura e o cara falou: ‘no dia que você for alguma coisa, você vem participar’. Como estudante eu não pude participar naquele momento. 

E eu fiquei com aquilo: um dia eu vou ser alguma coisa e vou tirar esse cara daí. Soma-se isso com um descontentamento político que eu já tinha. Em 2013, fui para a rua, naquela discussão que não era só por R$ 0,20, estávamos cansados da situação política, mensalão, petrolão e tudo que havia acontecido. Em 2014, eu fiquei super chateado de que a Dilma se reelegeu. Inacreditável, todo mundo foi para a rua, todo mundo brigou, veio a frustração. Passou um tempo, montei um programa de rádio para discutir política, mas eu não tinha intenção de ser candidato. Nisso, Bolsonaro veio em uma entrevista ao meu programa de rádio. Ele falou que ia acontecer uma convenção do partido dele: ‘você não quer ir lá e se filiar?’. Fui, era do PSC [Partido Social Cristão] e, nisso, eu me filei. Não tornei isso público e ele me chamou para ser candidato a . Fui candidato, não tinha muitas expectativas, porque achava que o Oséias, que era o vereador de mandato, fosse se reeleger. Mas trabalhei em tudo que eu podia trabalhar, sem dinheiro e consegui me eleger. 

Quando eu me elegi, eu pensava com cabeça de arquiteto: quero uma cidade mais arborizada, mobilidade urbana, habitação. E me deparei com o caos na Saúde. Fui pesquisar, estudar, me aprofundei no regimento interno da Câmara, Lei Orgânica do Município e eu percebi que o vereador tinha não só a função de legislar, como também de fiscalizar. Decidi colocar em prática esse exercício. Vou lá na UPA ver, lá na obra parada. Eu tinha facilidade com as redes sociais, comecei a fazer isso por vídeo. Começou a ter repercussão, audiência e ter uma atenção da sociedade, inimizade dos vereadores, chegou ao ponto de fazermos uma ‘live’ no Pronto-Socorro de Cuiabá que estava sendo inaugurado sem estar pronto. A parte de dentro do hospital toda inacabada.

Fiz uma live mostrando tudo. Tinha alguns ‘puxas-saco’ batendo palma e mais de mil pessoas assistindo a minha live. Para piorar, isso não contribui muito com a minha fama de ser bonzinho, eu fui na frente do palco e gritei: ‘está inacabado’. Virou meme eu correndo dentro do estacionamento do hospital. Abri a CPI da Saúde, descobrimos o maior escândalo de corrupção da Saúde de Cuiabá chamado ‘Operação Sangria’. Por meio da minha denúncia, tivemos o primeiro secretário afastado e preso. O Huark Douglas, secretário do Emanuel.  

Para piorar, veio o vídeo do Emanuel do paletó depois, o que desencadeou uma série de atividades. Gerei uma certa provocação aos vereadores na Câmara, fui cassado, voltei na Justiça, fui candidato a prefeito, perdi por 1%. Muita gente falou que eu não ganhava nem para presidente de bairro. Os vereadores que nos sucederam fizeram um trabalho muito ruim, a lembrança do nosso trabalho ficou evidente, e a população me elegeu como o segundo mais votado de Cuiabá. 

Leiagora – A partir daí começa uma história de desafios e de turbulência na sua carreira, principalmente por conta da cassação em 2020.

Abilio – No dia da cassação, a minha esposa Samanta estava lá me dando todo o apoio eu fui cassado e, ela: ‘parabéns, amor. Você está do lado certo, lutando por seus ideais, mas eu tenho uma ótima notícia para te dar, eu tô grávida’. Se ela tivesse me dito um pouquinho antes, talvez eu tivesse encarado toda essa guerra [risos]. Na época da eleição, bem na véspera, tivemos nosso primeiro filho, o Sebastian, que nasceu com fissura labiopalatina e me deu uma super educação sobre pessoas com deficiência. Descobrimos que ele tinha autismo e, graças a Deus, eu tenho condições de ajudar. Na segunda eleição, a gente teve a Ana Regina e eu chamo eles de ‘Alegria e Desespero’. Sebastian é calmo e a Ana é mais bagunceira. Me envolvi mais com a causa do autismo, importância do pré-natal, dificuldades enfrentadas por mulheres ao longo da gestação em Cuiabá. 

Leiagora – Aqui em Mato Grosso, você foi um dos políticos pioneiros por ter uma comunicação mais direta com os eleitores, principalmente por meio das redes. Como você defende esse estilo?

Política não se faz com celular. Política não se faz com bajulação, papelzinho assinado, negociatas de bastidores. O celular é ferramenta, que me auxilia a me comunicar com os cidadãos de Cuiabá e de Mato Grosso. É instrumento de transparência e a rede social de comunicação. Antigamente, essa comunicação ficava restrita aos veículos de comunicação e que diziam o que aquelas pessoas queriam dizer.

Leiagora – Falando em relação à mídia. Seu principal cabo eleitoral, o ex-presidente Jair Bolsonaro, tinha uma relação muito complicada com a imprensa. Como será a relação do Abilio prefeito com a mídia?

A imprensa é recheada de excelentes jornalistas, mas que são limitados às suas publicações, aos donos dessas publicações. O site, ele tem um nome e às vezes o dono site fecha lá em cima com alguém que está patrocinando e não deixa o jornalista publicar a matéria que é perfeita. O jornalista está lá escrevendo uma linha editorial que você acredita, de acordo com toda a sua capacidade ética, que você estudou na sua faculdade e, na hora de botar em prática, o cara fala: ‘não vai publicar’. A internet te dá a capacidade de não precisar passar por isso. 

A minha relação com a imprensa já foi turbulenta, até que eu entendi como funciona. Hoje, eu sei que a imprensa é um negócio. Tem que pagar jornalista, a mulher do cafezinho que trabalha lá dentro, a menina da recepção, o cara que escreve, isso, no site. Na TV e Rádio, é outro negócio. Eu gosto da imprensa livre. Tem liberdade de falar bem de mim e mal de mim. Imprensa que não é pautada pelo governo.

Os bons profissionais aqui em Mato Grosso, Cuiabá, principalmente, eles se frustram. Se fala tanto na faculdade que o jornalismo tem que ser livre, questão ética, não tô nem entrando na questão ideológica. 

Leiagora – Recentemente, o jornalista Rafael Costa foi alvo de dois mandados de busca e apreensão por suposta fake news contra o seu oponente à prefeitura, Eduardo Botelho. Vários veículos noticiaram, inclusive que o Rafael era seu assessor. O que você tem a dizer sobre a situação?

Abilio – Ele não é meu assessor e trabalha para mim como ‘freela’. Eu gosto da escrita dele, a linguagem que ele adota na escrita eu gosto. Eu mesmo contrato, ele ou outros jornalistas, para escrever alguns releases para mim. […] Ele não é meu assessor. É um freelancer que trabalha nessa área e eu respeito. […] O Rafael, como todos os outros jornalistas, ele tem outras coisas, outros clientes, ele tem o jornal dele mesmo, que é esse impresso. A linha editorial dele é dele. Tanto que ele mesmo assinou o jornal. Infelizmente, o Rafael está sendo injustiçado. Ele é um excelente jornalista. Eu me solidarizo a ele e acho que também outros jornalistas devem se solidarizar. 

Leiagora – Em 2020, por muito pouco você não venceu as disputas pela prefeitura no segundo turno. O que você fará de diferente este ano para de fato ganhar?

Abilio – Tem muita coisa para fazer de diferente. Cuiabá está diferente. Uma das coisas que eu entendo é o seguinte: em 2020, eu avisei que Cuiabá tinha vários problemas, da Saúde e financeiro. Hoje, esses problemas são criados. Em 2020, a dívida da prefeitura estava em R$ 1 bilhão e, hoje, em R$ 1,7 bilhão. Tínhamos menos obras paradas e, hoje, 21 operações da polícia. Em 2020, muito se falou sobre servidor público, eu falei que mandaria embora 3 mil servidores. Mas já teve intervenção, tem o TAC e esses servidores já foram mandados embora. Teve concurso público, teve seletivo. Em 2020, eu não estaria te cedendo essa entrevista e nem a outros veículos de imprensa. Em 2020, eu nem cumprimentei o Dorileo (Leal). 

Eu pretendo até lançar um livro, pretendo lançar só depois da eleição, para não dar dicas aos meus adversários agora: ‘Dez dicas para perder a eleição’. A primeira é ‘Não cumprimente o Dorileo [risos]. A segunda: ‘Comente que vai mandar embora 3 mil servidores públicos’. A forma de como perder é um jeito da gente refletir para saber como ganhar. 

Leiagora – Muita coisa mudou, inclusive o próprio Abilio. Você também se vê de forma diferente que em 2020?

Abilio – O que tem me amadurecido é que eu consigo separar o processo político eleitoral, da jornada política. São coisas distintas. O processo político eleitoral é de luta, sangue, trabalhoso, não é fácil. Mas a jornada política é diferente, é o que se pretende ao longo do tempo. Por isso, hoje, eu faço uma separação das coisas, mesmo que seja profundo e intenso, o processo durante uma campanha, a gente não pode se perder ao longo do caminho. Hoje, eu tenho essa visão diferenciada. Sei que no processo eleitoral deste ano vamos apresentar o melhor da gente. 

Mas eu sei que o resultado não depende de mim. Farei o meu melhor, melhor postura, melhores propostas. Só que depende das pessoas. Elas precisam escolher. Existe político corrupto também porque existe eleitor corrupto. Se você tem um prefeito corrupto, vereadores corruptos, você não vai ter uma obra pública entregue do jeito certo. E tudo isso é porque uma parte dos eleitores negociaram seus valores por preço, cinquentão, cesta básica, combustível. Na maioria das vezes, um candidato com ideias diferentes é tachado como louco. O sistema vence porque ele tem um bom marketing para poder desqualificar os demais candidatos.

Em 2020 eu fui o cara tachado de louco, escolheram o que tá aí. Em 2024, talvez as pessoas esperem que eu fique no ‘eu avisei, eu avisei’. Mas eu quero ser o cara que diz ‘vou resolver, vou resolver’.

Leiagora – O que te credencia para essas eleições e te colocam em uma posição melhor que seus adversários?

Abilio – Eu tenho uma paixão por Cuiabá muito grande. Essa paixão me faz fazer sacrifícios, sair da minha zona de conforto, da minha vida, que dá para ser mais tranquila, para entrar em uma rota de colisão com um dos maiores grupos políticos de Cuiabá e de Mato Grosso. Meus adversários vão destruir a minha imagem… E fazer tudo isso para recuperar Cuiabá, na intenção de resgatar minha cidade. Essa dedicação e esse sacrifício não sei se todos os candidatos teriam coragem de ter. 

Percebo isso quando muitos não reclamam das mesmas coisas que eu reclamo. Por exemplo, eu fui o primeiro a reclamar do BRT. Falei que estavam entregando o BRT para o grupo da família do Botelho. Naquele momento, tentaram me desacreditar, saiu em sites que o Abilio não leu direito. Passou pouco tempo, surgiu o documento passando o BRT para ele. Só que eu não sou deputado estadual, sou deputado federal. Com o modal sendo viabilizado com recursos estaduais, caberia aos deputados estaduais fiscalizar (sic). 

Eu não sei nem porque não abriu uma CPI. Se eu fosse deputado estadual, estava lá todo dia ‘tem que abrir uma CPI’. Tem que apurar se a decisão de trocar VLT por BRT foi técnica ou para apoiar o grupo político do Botelho. Até chegar em um limite e falar ‘foi puramente técnico’ e acabar essa dúvida.

Leiagora – Como vai ser sua relação com a gestão Mauro Mendes? Emanuel teve um relacionamento muito conturbado com o Estado e você também já teve atritos com o governador.

Abilio – Eu não tenho atrito nenhum com o Mauro. Mas eu também não tenho submissão. Existe uma diferença muito grande entre ter um bom relacionamento e ser submisso. Apoiei o Mauro para o governo do Estado. Passando essa eleição, é provável que a gente tenha um projeto político para Cuiabá. O Mauro tem só mais um ano de mandato. É mais fácil discutir como vai ser a relação do futuro prefeito com o Pivetta, se ele vier a ser governador, ou o Wellington. São os dois mais cotados. Posso dizer com tranquilidade que sou amigo do Pivetta, bom relacionamento com Wellington. Então, qualquer que vier a ser o próximo governador, nós temos um relacionamento ótimo. 

O Mauro tem feito muitas coisas que é contra a vontade dele para manter a governabilidade. Uma delas é desistir do Fabio Garcia, candidato muito melhor, e colocar o Botelho. Foi contra a vontade dele. Se não ele não demorava tanto para decidir.

LeiagoraAlém de já ter afirmado que faz questão de que sua vice seja mulher, há também a preocupação de representatividade feminina no quadro de possíveis secretários?

Abilio– A gente não quer que seja só mulher na pasta da Secretaria da Mulher. Queremos que tenha mulher cuidando da segurança pública, da saúde, da educação, do esporte. Por que não? 

LeiagoraEm relação às polêmicas, dentre as mais recentes e que mais geraram repercussão no país, foi em relação ao PL 1905, que ficou conhecida como PL do Aborto. O senhor fez uma fala na tribuna que gerou muitas críticas. Se arrepende, acredita que esse tipo de fala possa te prejudicar?

Abilio – Eu chamo de PL da Vida. Sete meses de gestação, esse bebê já tem perninha, bate coração, mente, é uma vida. O que estamos discutindo no PL 1905 é que essa vida já formada tenha o direito de viver. Se fosse para praticar um aborto, que seja antes desse desenvolvimento da vida. Se eu tiver que sofrer, apanhar, ser criticado, difamado por defender a vida, que seja. Mas eu não vou deixar de defender a vida para poder agradar modinha.

: leiagora

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