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Tecnologia

Acervo traz versões digitais dos manuais de jogos do PS2

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Houve uma época em que parte do prazer em adquirir novos jogos estava em abrir suas caixas e folhear seus manuais. Com alguns daqueles livretos trazendo uma grande quantidade de informações e ilustrações, eles eram a porta de entrada para os mundos que estávamos prestes a conhecer, mas aquele é um ritual que ficou no passado.

Com a distribuição digital tendo tomado a indústria, foi na sétima geração de consoles que as editoras começaram a abandonar a ideia de incluir manuais em cada cópia física de seus jogos. De repente nos vimos forçados a ter que recorrer às informações mostradas na tela para aprender os comandos ou as mecânicas básicas dos títulos.

Para quem nunca deu muita importância para os manuais impressos, a sua extinção certamente passou despercebida. Já para todos aqueles que adoravam passar alguns minutos lendo os compêndios ou mesmo para os colecionadores, só restou a lamentação e a busca por alternativas.

Pois uma dessas opções para continuarmos aproveitando o fascinante mundo dos manuais é a dedicação de alguns em tentar manter viva a história dos videogames, como no caso de Jonathan “Kirkland” Grimm. Após 22 anos de uma impressionante dedicação, ele conseguiu escanear os manuais de todos os jogos lançados para o PlayStation 2 nos Estados Unidos. Sem dúvida um feito e tanto.

Ao todo, o colecionador escaneou 1795 títulos, além de cerca de 100 variantes que incluem livros de artes, miniguias e revistas em quadrinhos. Com o acervo sendo capturado numa resolução 4K, o melhor de tudo é que o autor o disponibilizou no Internet Archive, tornando-o disponível gratuitamente para qualquer pessoa.

Ao todo, o pacote tem 17 GB e impressionantes 230 GB quando descompactado. Porém, o que faz com que os manuais sejam bastante acessíveis é o fato deles também estarem listados individualmente e por ordem alfabética. Assim, se você estiver procurando pelo manual do Capcom vs. SNK 2- Mark of the Millennium 2001, do Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King ou do Okami, não precisará baixar todos os outros.

“O objetivo é aumentar a conscientização em relação aos esforços para a preservação de jogos,” declarou Kirkland em entrevista ao site Kotaku. “Tantos jogos com que crescemos moldaram a maneira como olhávamos e experimentávamos o mundo. É claro que a medida em que ‘crescemos’, passamos para outras coisas, mas há muitos de nós com nostalgia por essas coisas e querem que os nossos filhos possam aproveitar o que aproveitamos. Todo o negócio de ‘ler os livros que o seu pai lia.'”

Jonathan Grimm ainda afirmou que embora sejam louváveis as iniciativas para manter os jogos antigos vivos, como o Video Game History Foundation, o Strong Museum ou até mesmo o MAME e o redump.org, faltava algo voltado para os manuais, já que sem eles, “nós não saberíamos como jogar [aqueles títulos].”

E para chegar ao tão sonhado objetivo, Kirkland teve que gastar muito tempo e dinheiro. Usando três scanners de mesa, ele precisava tirar os grampos dos manuais e escanear página por página. Porém, a qualidade nunca ficava perto do ideal e para isso ele ainda recorria a programas como o Adobe Acrobat Pro, Photoshop, Textpad e PDF Combiner Pro para remover qualquer imperfeição na imagem.

Mesmo assim, ele admite ter passado várias férias de verão escaneando manuais de jogos apenas para descartar os arquivos depois, quando eventualmente adquiria equipamentos melhores. Além disso, Kirkland estima ter investido cerca de US$ 40 mil na aquisição de jogos de PS2 ao longo dos últimos 22 anos. “Eu peguei novos jogos quando eles baixavam para US$ 20 para os primeiros 800 lançamentos, então comecei a pegar jogos esportivos usados em boas condições e então estava caçando as variantes estranhas (o que nunca acaba),” afirmou.

O curioso é que mesmo com os arquivos compartilhados por ele apresentando uma qualidade absurda, o colecionador garante que ainda não está satisfeito. Para Grimm, a esperança é de que no futuro a inteligência artificial possa “reconstruir os textos e as imagens como foram planejadas, corrigindo distorções e eliminando as retículas.”

Mas enquanto essa busca pela perfeição não for concluída, Jonathan Grimm pretende continuar com o seu árduo e louvável trabalho, preservando os manuais de outras plataformas. Ele já conseguiu disponibilizar todos os manuais de jogos do Super Nintendo lançados nos Estados Unidos, já publicou alguns de Atari, obteve mais de 260 manuais do Game Boy e outros 300 para o primeiro PlayStation.

Segundo Kirkland, hoje ele possui cerca de 7500 manuais, sendo que desses, apenas 3000 já passaram pelo processo de preservação. O trabalho de uma vida que o colecionador gostaria que não ficasse nas mãos de pessoas como ele, já que o ideal seria as próprias empresas tomarem o partido e liberarem suas criações para que fossem preservadas.

Infelizmente, num mundo em que muitos donos das propriedades intelectuais ainda resistem em tentar manter seus clássicos vivos e acessíveis, essa é uma postura que nem devemos esperar. Além disso, com o preço dos jogos antigos se tornando cada vez mais altos, iniciativas como a de Jonathan Grimm se tornarão mais raras e difíceis de serem concluídas.

Para mim, que sempre admirei os manuais e ainda hoje me pego folheando aqueles que tenho em minha coleção, visitar os arquivos disponíveis no Internet Archive é poder fazer uma bela viagem no tempo. Eu poderia passar horas e mais horas apenas navegando por aqueles manuais e por mais que não seja uma experiência tão legal quanto a de ter os livretos impressos, ela já serve para  matarmos a saudade de como era aquela época.

Sim, eu adoro as muitas facilidades trazidas pela distribuição digital, ao ponto de achar que a indústria seria muito pior se ainda estivéssemos presos aos “jogos de caixinha”. Porém, se tem algo pelo qual nunca a perdoarei, foi por os jogos digitais terem ajudado a matar os manuais impressos.

Acervo traz versões digitais dos manuais de jogos do PS2

Fonte: terra.com.br/gameon

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