Em um ato surpreendente, um professor da USP (Universidade de São Paulo) doa a fortuna de R$ 25 milhões, que recebeu de herança, para estudantes que pertencem a minorias e em situação de vulnerabilidade.
Ele registrou em testamento, um imóvel da herança como doação para o Fundo Patrimonial da USP e explicou o motivo. “Eu não tenho filhos. Mas se eu tivesse ou viesse a ter, não deixaria tudo para eles. Na sociedade em que vivemos, a melhor herança que eu poderia deixar é um gesto de solidariedade social”, disse o professor em discurso reproduzido pela revista Exame.
Acadêmico respeitadíssimo na área de ciências sociais, Stelio Marras é professor e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Defensor da igualdade de direitos, da inclusão e do debate amplo sobre minorias e diversidade, o professor que é antropólogo colocou em prática sua teoria. Também afirmou que a iniciativa é um recado direto às elites, que resistem aos processos que abarcam os vulneráveis.
Belíssimo discurso
Stelio Marras destacou que quando doa o imóvel da sua herança para o Fundo Patrimonial da USP, quer que esse dinheiro seja utilizado em bolsas de permanência estudantil de alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Ele construiu sua carreira na Universidade de São Paulo (USP), da graduação ao doutorado e busca compreender a interação social do ser humano e o meio, como as influências das mudanças climáticas, por exemplo.
Stelio Marras lembrou que o momento é de para dar atenção às pessoas em situação de vulnerabilidade.
“É uma aposta que faço em parte das elites brasileiras, que pode então passar a conhecer e, quem sabe, agir por orientação dessas iniciativas”, disse o professor.
Em seguida, Marras prosseguiu: “É a aposta de que tais elites não são completamente tomadas pelo pior no país marcado pelas terríveis consequências da escravidão, estas que infelizmente permanecerão por muito tempo entre nós, conforme previu, há mais de século, a lucidez do abolicionista Joaquim Nabuco”.
Gratidão ao pai
O professor agradeceu a fortuna em herança de R$ 25 milhões à família e, ao pai Edoardo Luciano Marras, que morreu em 1981.
Ele lembrou da concentração de renda e dos problemas patrimoniais históricos do país.
“Entendi que a partir do momento em que eu tivesse a chance de legar aos vulneráveis, que compõem a grande maioria dos brasileiros, e minoritários sociais, que ainda o são na nossa universidade, a herança do que recebi e também do que construí ao longo da vida, isso desde então já não seria uma opção para mim”, ressaltou.
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A herança da família
Filho de pai migrante italiano, que chegou ao Brasil sem nada no bolso, o professor contou que a fortuna da família foi construída com o trabalho. Nos últimos anos, ele perdeu o pai, a mãe e o irmão caçula. Diante deste cenário, resolveu repensar a vida e doar sua herança.
O imóvel avaliado em R$ 25 milhões fica em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, um local de turismo, que muitos procuram para tratamento com as águas da região. O prédio abriga um cinema no térreo e um conjunto de apartamentos residenciais.
“Conheço o trabalho da universidade e fiquei muito seguro de que essa doação vai ser bem gerida e o dinheiro bem aplicado”, afirmou Marras.
Fundos patrimoniais
A contribuição de R$ 25 milhões do professor é a maior recebida pelo fundo, que foi criado em 2021. Criado para financiar e fomentar as atividades da USP, que é responsável por 20% da pesquisa acadêmica produzida no país.
Sem incluir a doação de Stelio Marras, o Fundo Patrimonial da USP tem R$ 34 milhões de patrimônio.
Os fundos universitários são comuns nos Estados Unidos e na Europa. A proposta é manter como permanente a sustentabilidade dos investimentos filantrópicos: os recursos principais são aplicados e é o rendimento deles que banca projetos específicos.
Os fundos patrimoniais vêm se tornando cada vez mais populares no Brasil, desde uma lei aprovada em 2019 após o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que lançou as bases legais para sua constituição.
O Fundo Patrimonial da USP é único que reúne a universidade como um todo.
Fonte: sonoticiaboa