Uma das maiores artistas do teatro brasileiro, Nany People retorna a Campo Grande, neste sábado (15), para falar de amor, ou melhor, falar sobre os desafios de manter a chama da paixão acesa, diante da rotina, do passar dos anos, das diferenças.
“Como Salvar um Casamento” tem Nany em toda a sua criatividade, sabedoria e irreverência. Em entrevista exclusiva ao Primeira Pagina, a multiartista falou sobre o processo de criação do espetáculo.
Nany estreou a peça há 17 anos. Naquela época, a peça não era um monólogo e ainda tinha um viés muito heteronormativo, explica a artista.
Conforme os anos foram passando, Nany sentiu a necessidade de atualizar o texto para os dias atuais, levando em conta os novos formatos de casais e as inúmeras formas de demonstrar afeto.
“Dezessete anos depois, tivemos, graças a Deus, muitas conquistas, emancipações, direitos adquiridos. A sexualidade se tornou mais fluída, mais discutida, mais democrática. Então adaptamos o texto para uma linguagem universal, mais democrática e mais abrangente. Antes eram dois atores em cena, eu e mais um fazendo um jogo de basquete. Um ator recebe, quica a bola e manda para o outro que faz a cesta. Agora é um pingue-pongue, sou eu sozinha com a plateia. O meu antagonista é a plateia”.
Nany People, atriz.
Na peça Nany interpreta uma palestrante que fala sobre os mais diversos assuntos do dia a dia de um casal, de forma hilária.
As pautas vão desde fecundação do óvulo pelo espermatozóide “machista”, à discussão com a namorada por causa do futebol. Assim como os conceitos distintos do homem e da mulher sobre a “primeira vez” e detalhes do cotidiano de um casal com 60 anos de casamento.
O tema principal do espetáculo, ressalta Nany, é o amor, e o texto traz muitas das vivências pessoais da artista.
“O amor é um assunto que não esgota nunca, é universal e temporal”.
Nany People, atriz.
Mas e como salvar o casamento? Para saber a resposta, Nany lembra que é preciso assistir a peça. Mas, ela dá um spoiler que serve de lição para qualquer casal, nesta semana de Dia dos Namorados.
“A receita existe, mas para cada um o bolo cresce de um jeito, porque cada um tem o seu jeito de bater. Cada um tem a sua temperatura e as pessoas às vezes insistem em substituir os ingredientes. Mas, um ingrediente que eu acho imprescindível, que não pode faltar, é respeitar a essência do outro. As pessoas insistem na idiotice de querer mudar o outro. Muda tanto que desconstrói o que o outro é, ele não se conhece mais e não te encanta mais. Ou então busca uma perfeição que não existe. Respeito e liberdade é algo que todo casal deve manter”
Nany People, atriz.
Nany People x Campo Grande
Nany já se apresentou tantas vezes em Campo Grande que até perdeu a conta. Ela lembra das vezes em que se apresentou na Bistrô, boate que é um verdadeiro marco na cultura LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bi, trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais) do estado, responsável por colocar MS na rota das apresentações de drag queens do país.
A comediante também já se apresentou em Dourados e Ponta Porã.
“A minha secretária particular é de Dourados. Já fui inúmeras vezes a Campo Grande e apesar de não ter conseguido aproveitar o estado, eu sempre fui muito bem recebida aí”.
No mês do Orgulho LGBT, Nany People comenta que a comunidade ainda tem muitos desafios pela frente. No entanto, é preciso comemorar as inúmeras conquistas.
“Houve uma época em que não era nos dado o direito de existir. Eu lutei 18 anos para conseguir colocar o artigo ‘a’ no meu documento. Hoje em dia, a temática da transexualidade já é abordada na novela das 21h, tem universidades que oferecem cotas para trans, casais formados por pessoas do mesmo sexo podem casar. Existem injustiças? Claro que existem o Brasil é muito grande. Mas a gente tem que celebrar as vitórias”.
Natural de Minas Gerais, foi em São Paulo que Nany começou a estudar teatro e alcançou o estrelato fazendo da própria personalidade irreverente, um show. Prestes a completar 59 anos, Nany se orgulha da trajetória que ela construiu como mulher trans e artista, transitando nos palcos e na televisão como atriz e comediante.
“Eu estou no pódio das conquistas, porque vivo em um pais onde uma pessoa trans não passa dos 35 anos. Chega uma momento na nossa vida que até comprar um pão é uma política. Eu fiz a minha carreira no palco. E consegui o meu direito de ser como eu sou, pela minha profissão. O teatro me levou para o mundo. E não foi fácil”.
E aí, ficou curioso para assistir a Nany People em “Como Salvar um Casamento”?
O espetáculo acontece neste sábado (15), às 21h, no Palácio Popular da Cultura, no Parque dos Poderes.
Fonte: primeirapagina
