Após alguns anos de especulações, rumores e até mesmo um certo descaso com os fãs, a Konami enfim resolveu acabar com o mistério e revelou seus planos para a franquia Silent Hill. Agora, a pergunta que muitos estão se fazendo é: será que dessa vez a marca receberá o tratamento que ela tanto merece?
Dos anúncios feitos pela editora japonesa em seu canal no Youtube, o maior deles certamente é o tão aguardado remake do Silent Hill 2. Contando com a colaboração do compositor Akira Yamaoka e do artista Masahiro Ito, o título está sendo desenvolvido pelo Bloober Team, estúdio polonês que nos deu jogos de terror como Layers of Fear, Blair Witch e The Medium.
Segundo o produtor Motoi Okamoto, um dos objetivos principais dos envolvidos no projeto é “preservar a atmosfera que tornou Silent Hill 2 tão excepcional, e, ao mesmo tempo, modernizar muitos aspectos da jogabilidade geral do jogo.” Com a câmera localizada sobre o ombro do protagonista e um novo sistema de combate, a ideia é fazer com que o jogo seja o mais imersivo possível.
O que também poderá contribuir para isso é a adoção da Unreal Engine 5 como kit de desenvolvimento. Aproveitando os recursos Lumen e Nanite oferecidos pela engine, Okamoto explicou como eles poderão tornar a história de James Sunderland muito mais assustadora:
“A Lumen é uma solução de iluminação global totalmente dinâmica que reage instantaneamente às mudanças de cena e de luz. Isso significa que a luz interage com o ambiente de maneira realista, como no mundo real. Todo o ambiente do jogo é iluminado de forma mais natural com esse recurso. A tecnologia Nanite, por outro lado, é uma ferramenta incrível para o trabalho dos designers. Com ela, os artistas conseguem criar mundos cheios de detalhes e ambientes mais realistas que parecem até ser de verdade.”
Porém, todas essas novidades cobrarão um preço, com o remake do Silent Hill 2 não saindo para os consoles da geração anterior ou exigindo um bom computador. Segundo a página do jogo que já apareceu no Steam, será preciso no mínimo uma máquina com 12 GB de Ram, um Intel Core i5-8400/AMD Ryzen 3 3300X e uma Radeon RX 5700/GeForce GTX 1080.
Também vale mencionar que quando se trata dos interessados em jogar em um console, o título será exclusivo do PlayStation 5, barreira esta que deverá ser apenas temporária. A boa notícia, no entanto, é que o pessoal do Bloober Team garantiu que aproveitará alguns recursos do aparelho da Sony, como a sua capacidade de gerar áudio 3D, o feedback tátil e os gatilhos adaptáveis do DualSense e a velocidade do SSD, que eliminará as telas de carregamento durante a exploração da amaldiçoada cidade.
Press F to Pay Respects
Já a revelação que me deixou mais empolgado e consequentemente desconfiado, foi o Silent Hill f. Primeiro capítulo inédito para a série principal em uma década, o jogo representará mudanças importantes para a franquia, a começar pela ambientação. Ao contrário do que vimos nas histórias anteriores, essa não se passará nos Estados Unidos, mas sim numa zona rural do Japão e durante a década de 60.
Sem que maiores detalhes sobre o enredo tenham sido revelados, no teaser divulgador pela Konami podemos ver uma garota andando por uma vila enquanto algo parecido com um fungo se aproxima dela. O desfecho mostra a personagem tomada por assustadoras flores, até que o seu rosto cai e podemos ver que ela se transformou num monstro.
Escrita por Ryūkishi07, um autor japonês que tem se destacado por visual novels que tratam de assassinatos e terror psicológico, acredito (ou seria espero?) que essa mudança de ares possa ser boa para a franquia. O que me preocupa é o fato de o jogo estar sendo desenvolvido pelo Neobards Entertainment, estúdio de Hong Kong mais conhecido pelo Resident Evil Re:Verse e pelas remasterizações do Onimusha: Warlords e do Devil May Cry: HD Collection.
Meu medo é que o Silent Hill f acabe decepcionando tanto quanto os últimos lançamentos que a franquia recebeu, mas darei um voto de confiança à Konami e às pessoas que estão responsáveis pelo jogo.
Os jogos guiados pela história
Outra proposta tão misteriosa quanto interessante é o Silent Hill: Ascension. Descrito como uma “experiência de vídeo interativo por streaming”, o jogo multiplayer colocará os espectadores para decidir como a narrativa se desenrolará, com novos pedaços da história e personagens sendo adicionados gradualmente.
Desenvolvido através de uma parceria entre a Genvid Entertainment, a Bad Robot Games, a Behaviour Interactive e a dj2 Entertainment, o título com foco no enredo deverá ser uma maneira bem diferente de experimentarmos o universo Silent Hill.
Ainda no campo dos games, teremos o Silent Hill: Townfall, jogo que também deverá ter como ponto principal a história e que está nas mãos da Annapurna Interactive (Stray, Outer Wilds, Gone Home) e do estúdio indie No Code Studios (Stories Untold, Observation). Considerando o portfólio dos envolvidos, podemos esperar um enredo muito interessante, mas para quem gosta de um pouco mais de ação, dos novos capítulos talvez esse não seja um dos mais indicados.
Infelizmente quase nada foi revelado sobre o jogo, fazendo com que a empolgação com ele se deva muito mais aos profissionais encarregados pela sua produção.
Silent Hill de volta ao cinema
Eu sempre defendi que de todas as adaptações de jogos para o cinema, Terror em Silent Hill está facilmente entre as minhas preferidas. Mesmo alterando consideravelmente o que tínhamos nos videogames, ele conseguia manter a atmosfera das criações da Konami e ainda nos apresentou à assustadora cena do zelador que se encontra no banheiro da escola.
Por isso fiquei feliz ao saber que um novo filme baseado na franquia será dirigido por aquele que nos deu a primeira adaptação, o francês Christophe Gans. Para ser sincero, se pudesse escolher eu adoraria ver como Ari Aster trataria esse universo, com a sua habilidade para criar um terror psicológico casando perfeitamente com o principal característica dos jogos.
Mesmo assim, estou curioso para saber como o Return to Silent Hill ficará e o fato de o roteiro ser baseado no segundo jogo já me parece um bom sinal.
A Konami como mera observadora. Bom ou ruim?
Quem acompanha a indústria de games sabe que os últimos anos da Konami não foram muito positivos. Com a editora preferindo deixar as grandes produções de lado, alguns fãs até defendiam que a empresa fosse adquirida por alguma gigante ou que pelo menos suas propriedades intelectuais fossem vendidas.
Como nem uma coisa, nem outra aconteceram, restava a esperança de que os japoneses voltassem a investir em suas marcas mais famosas e com a Silent Hill isso acontecerá através das parcerias citadas anteriormente. Ao participar desses projetos apenas como editora, isso poderá distanciar um pouco a empresa da imagem negativa formada nos últimos anos, mas isso não significa que o resultado será bom.
Em 2019 a empresa já tinha feito algo parecido com o Contra: Rogue Corps, jogo desenvolvido pela Toylogic e que foi muito mal-recebido tanto crítica quanto pelo público. Mas só para ficarmos dentro da franquia Silent Hill, os últimos capítulos (Homecoming, Downpour e Book of Memories) também tiveram seus desenvolvimentos terceirizados, com os resultados sendo igualmente criticados por não alcançarem o padrão de qualidade que os fãs esperavam.
Portanto, a menos que os executivos da Konami tenham interesse em produzir os melhores jogos possíveis e não estejam olhando para os quatro novos títulos (além do filme) como meros pachinkos caça-níqueis, existe um grande risco de a franquia continuar presa nesse incômodo ciclo de anúncios promissores, lançamentos medíocres, críticas e descrença por parte dos fãs.