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Política

Dante de Oliveira: papel crucial na retomada da democracia, por Carlos Avallone

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O plenário do Senado sediou uma sessão especial em homenagem a Dante de Oliveira e aos 40 anos da memorável campanha das Diretas Já, iniciativa do senador Wellington Fagundes (PL-MT). Integrante da mesa de autoridades, o deputado Carlos Avallone (PSDB) destacou a importância da sessão para manter viva a memória do maior movimento popular da história do país e especialmente a trajetória do grande democrata, estadista e gestor público Dante de Oliveira. Ele destacou a iniciativa do senador Wellington Fagundes de promover a justa homenagem, reunindo no plenário do Senado Federal tantos amigos, ex-parlamentares que conviveram com Dante e toda a família.

“Temos vivido momentos difíceis no Brasil quando se fala sobre democracia. E quando falamos de Dante a primeira palavra que vem à minha mente é democracia, foi ele quem me mostrou na prática o que é democracia. Aprendi muito com ele na condição de secretário em suas gestões na prefeitura e no governo estadual. Eu convivi e trabalhei com Dante por doze anos, um período muito rico para mim, minha esposa Maria Avalone, aqui presente, minha mãe Ida e minhas filhas. Hoje vemos parte da juventude e da sociedade esquecendo o valor e o significado da palavra respeito. E Dante, apesar da eloquência e da voz alta, respeitava todas as pessoas, ouvia todas as comunidades e tinha a participação popular como um valor muito forte dentro dele. Nossa sociedade está precisando cada vez mais de respeito entre as pessoas e de respeito pela população”.

Avallone relembrou uma passagem que simboliza a essência democrática de Dante. “Ele havia acabado de perder a eleição para o Senado, eu era seu suplente, e todos ficamos muito abalados. E Dante na primeira entrevista à imprensa respondeu uma pergunta instigante. A repórter perguntou: “Dante, o povo não elegeu o homem das Diretas, o governador que transformou Mato Grosso, que saiu do governo com 80% de aprovação do governo, tinha 78% das intenções de voto para o Senado. O povo não soube votar?”. Dante responde: “eu lutei a minha vida toda pelo direito do povo votar. O povo não erra e me deu quatro anos para eu ver onde errei. Esse era o democrata e estadista Dante de Oliveira, meu amigo, meu irmão”, disse Avallone.

A viúva, ex-deputada federal e ex-prefeita Thelma de Oliveira lembrou os grandes comícios em todo o país, especialmente o grande comício realizado na Praça Rachid Jaudy em Cuiabá no dia 20 de fevereiro de 1984, na frente da casa de dona Maria e da família Oliveira. “Foi emocionante ver a população em peso pedindo diretas já, com o cuiabano Dante sendo reverenciado e prestigiado pelas maiores lideranças políticas do país, de todos os partidos. Ao relembrar aquela campanha memorável que mudou o país, que possamos refletir sobre este movimento cívico que não teve um único ato de violência ou agressões, foi um movimento pacífico, de alegria e esperança. Que possamos fazer disso exemplo para o momento que vivemos de radicalização e polarização e assim como Dante nos ensinou, termos a capacidade e a maturidade de unir o país novamente”. E finalizou: “o legado de Dante vive até hoje em todos que lutam por um país mais justo e democrático. Ainda ecoam nos meus ouvidos os gritos do povo brasileiro, que em uníssono bradava uma palavra de ordem depois da derrota da emenda Dante: a luta continua!. Estejamos atentos e vigilantes em defesa da nossa jovem democracia. Obrigada Dante, viva as Diretas Já”.

O ex-senador e ex-deputado federal Antero Paes de Barros relembrou a carreira política ao lado de Dante no MR-8 e no MDB. Em 1982, recorda, a oposição elegeu 9 governadores e já na época se defendia a apresentação da emenda. “No início da década de 80 Dante era um jovem de quase 30 anos que já sonhava com o Brasil livre da ditadura. O estreante deputado federal rapidamente ganhou a confiança de Ulysses Guimarães, o senhor Diretas, e se tornou o bambino de ouro da campanha, ao lado das principais lideranças do país”.

Antero recorda que depois da rejeição da emenda Dante, setores comandados pelo PT lançaram uma campanha intitulada Só Diretas, rejeitando a participação da oposição no colégio eleitoral. “Tentaram convencer Dante, mas ele teve a maturidade de dizer não, a luta continua. A eleição de Tancredo Neves foi no colégio eleitoral, mas a vitória de Tancredo foi nas ruas, ao lado de Ulysses e Dante, construída na memorável campanha como se fosse uma eleição direta”. Antero destacou a serenidade, a humildade e a capacidade de análise política de Dante, que sabia que o correto era apoiar Tancredo no colégio eleitoral para abrir caminho para as diretas.

O ex-deputado federal e grande amigo de Dante, Domingos Leonelli, lembrou que Dante era “sabido, rápido, elétrico” e apresentou uma emenda que era óbvia, já havia até outras propostas semelhantes tramitando na Câmara. Mas a de Dante era a mais simples e objetiva e acabou representando um atalho histórico e político. “A emenda era alternativa real de mobilização popular e foi esta possibilidade que Dante captou ainda na sua própria campanha a deputado federal. Quando falava sobre a necessidade de retomar as eleições diretas para presidente, ele sentia a reação do povo. E a liderança política nacional que percebeu imediatamente a importância deste caminho e o tomou como bandeira, como um projeto democrático nacional, foi o grande Ulysses Guimarães, que se tornaria padrinho político e depois de casamento do jovem Dante”.

Leonelli destacou que essa ideia protagonizada por Dante se transformou na maior mobilização popular do século XX no Brasil, que mudou efetivamente a história do país e nos devolveu a democracia. “Como disse no meu livro escrito à quatro mãos com Dante, Os 15 meses que abalaram a ditadura, foi a campanha das Diretas Já a real responsável pela derrubada da ditadura”.

A engenheira civil Inês Martins de Oliveira, irmã de Dante, agradeceu a homenagem propiciada pelo senador Wellington Fagundes e relembrou passagens da vida familiar de Dante. “Ele foi candidato a vereador pela primeira vez contra a vontade da família, que achava que ele deveria se dedicar à engenharia, profissão em que se formou no RJ. Ele perdeu essa eleição, mas não desistiu. Não admitia que Mato Grosso continuasse como um estado periférico tendo tanto potencial econômico. Com a emenda e a campanha das Diretas, conseguiu um espaço de protagonista das mudanças que o cidadão brasileiro ansiava. Depois foi prefeito de Cuiabá e governador de Mato Grosso, foi ministro da Reforma Agrária e colocou a questão da terra na agenda política nacional. Como governador, resolveu os problemas de infraestrutura, das estradas, da energia, trouxe o gasoduto e a ferrovia. Modernizou a máquina pública, atraiu investimentos e criou as condições para o salto econômico que Mato Grosso deu nas últimas décadas. Nunca desistiu de mudar a realidade das pessoas mais carentes”.

Inês também reforça os ensinamentos de Dante, que aprendeu rápido a inutilidade e o preço dos enfrentamentos diretos com outras forças políticas. “Ele dizia que era preciso ouvir e dialogar com todos os segmentos sociais, inclusive os que pensam diferente, pois os políticos representam a pluralidade da sociedade e todos têm direito de melhorar seus entendimentos e rever posições. E vamos em frente defendendo a democracia com ousadia e coragem, como fez Dante”, disse a irmã.

No momento mais emocionante da sessão, a mãe de Dante, dona Maria Benedita – prestes a completar 103 anos, participou online da sessão e agradeceu a homenagem em nome de toda a família.

O deputado e professor Wilson Santos (PSB) fez um resgate histórico da luta pela democracia no Brasil e destacou o papel do cuiabano Dante de Oliveira, cuja determinação devolveu ao povo o direito de votar para presidente.

Fonte: odocumento

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