Ao contrário da Dory, o peixinho cirurgião-patela de Procurando Nemo que sofre de perda de memória recente, o Poecile atricapillus, conhecido também como Chapim de Bico Preto ou Chapim de Cabeça Preta, possui uma memória invejável. Um único indivíduo pode esconder até 500 mil alimentos por ano – e se lembrar de onde os escondeu.
Agora, pesquisadores da Universidade de Columbia, nos EUA, conseguiram descobrir como. O estudo, publicado no periódico científico Cell, mostrou que as aves formam uma memória do local e de cada item escondido. Quando as memórias foram registradas, o padrão no cérebro dos animais era similar a um código de barras.
Vamos explicar melhor: primeiro, os pesquisadores pegaram um Chapim, e o colocaram em uma pequena arena com sementes de girassol e 120 locais disponíveis para esconder o alimento.
Os pesquisadores então instalaram uma pequena sonda no cérebro das aves, e registraram todo o seu comportamento e atividade em vídeo. Ao mesmo tempo, eles também monitoram a atividade cerebral da região do hipocampo – uma das responsáveis pela formação de memórias.
Sempre que os Chapins escondiam o alimento em um local, um padrão de neurônios era ativado. Os pesquisadores observaram que os neurônios se iluminavam de forma diferente para cada local que a ave escondia as sementes, de forma que os padrões da atividade cerebral se assemelhavam a códigos de barras.
Cada local apresentava um código cerebral diferente para os animais, que também se iluminavam quando a ave ia recuperar o alimento – e apresentava o padrão específico para o local na qual ela guardou.
Essas memórias codificadas como códigos de barras são diferentes das memórias de lugar, responsáveis por registrar memórias relacionadas à localização. Na verdade, os pesquisadores observaram que os neuronios dos dois tipos podem estar envolvidos durante o processo de esconderijo e localização dos objetos.
“Os dois se sobrepunham aleatoriamente, de modo que os neurônios podiam ser nenhum, um ou ambos,” disse ao The Guardian Selmaan Chettih, pesquisador do Instituto Zuckerman da Universidade Columbia e um dos autores do estudo.
De acordo com o pesquisador, os neurônios do tipo código de barra podem estar ligados a uma experiência episódica específica, única em lugar e tempo na vida das aves. Para eles, um determinado mecanismo pode estar funcionando quando os pássaros estão formando memórias de eventos específicos, e outro quando estão criando um mapa mental de uma área.
“A mensagem é que, quando você forma uma memória de um evento específico, seu cérebro pode gerar um rótulo aleatório que usa para armazenar informações associadas a esse evento, de uma maneira análoga à forma como uma loja registra informações associadas a cada produto para serem recuperadas quando o rótulo é escaneado”, conclui Chettih.
Fonte: abril