Por Padre Carlos Probst
No ano de 1929, a Companhia de Terras Norte do Paraná iniciou a colonização da vila que viria a ser elevada a Município de Londrina em 10 de dezembro de 1934. Neste ano foi criada, pela Cúria Diocesana de Jacarezinho, a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, sendo assistida pastoralmente pelos padres da Paróquia de Sertanópolis. Em razão da distância da sede da Paróquia, através de sertão fechado, com o ritmo acelerado da colonização, alguns atritos do Vigário de Sertanópolis com a Cúria Diocesana e o interesse dos habitantes de Londrina por terem um padre fixo na cidade, favoreceram a fundação de uma nova sede paroquial nesta cidade.
Antes da chegada oficial dos Palotinos em Londrina, o então delegado provincial dos Palotinos, Pe. Erasmo Raabe, em 1931, a convite da CTNP, fez uma visita na tão rica e fértil zona setentrional do Paraná, o trem o conduziu de Ourinhos até Cornélio Procópio, última estação onde os engenheiros ingleses estavam trabalhando. Uma jardineira o levou de Cornélio Procópio até Londrina, passando quatro horas por densa mata. Em Londrina havia uma única casa, o hotel da imigração da Companhia Inglesa. Nesta época já eram existentes as colônias: Heimtal, Nova Dantzig e Rolândia cujos moradores, em sua maioria, eram alemães.
A grande afluência de colonos e compradores de lotes, gente de todas as nacionalidades cresceu de tal forma que em 1933 centenas de famílias, em geral de origem italiana, se dirigiam ao Bispo Diocesano com o pedido de lhes enviar um sacerdote e vigário, visto que a única sede paroquial de Sertanópolis ficava insuficiente e apertada demais. Vale ressaltar que, até então, não se tinha uma igreja construída na cidade, os colonos viajavam mata adentro para poderem participarem das missas em Sertanópolis.
Dom Fernando Taddei em conversou com o Superior dos Padres Palotinos, Pe Erasmo Raabe – que já conhecia a região de Londrina – entregou aos cuidados da congregação a administração pastoral da nova sede paroquial, sendo escolhido para ser o primeiro Vigário de Londrina o Pe. Carlos Dietz.
No dia de 9 de março de 1934, o próprio Bispo Diocesano, Dom Fernando Taddei, acompanhado pelo Delegado Provincial, Pe. Erasmo Raabe, e o Pe. Carlos Dietz, vieram em viagem para Londrina, para assim apresentar Pe Carlos Dietz como Vigário de Londrina. Dr. Willie Davids, diretor técnico da Companhia Inglesa, esperou na estação final do trem, em Jataizinho, as autoridades eclesiásticas e levou-as, no seu automóvel, até Londrina.
Grande parte dos moradores reunira-se na entrada da cidade para aguardar a chegada da comitiva. Ao se aproximarem, ouviram-se o som de foguetes e a banda de música iniciou a tocar acolhendo o Bispo e os padres. Na praça, o Bispo fez uma breve alocução, em que apresentou ao povo o seu primeiro Vigário, que ao final recebeu os cumprimentos dos presentes, aperto e beijo das mãos e a alegria geral do povo contente. Na residência de Dr. Davids, onde ficaram hospedados, foi oferecido um grande jantar para as autoridades eclesiásticas, estava presente Arthur Thomas, o chefe da Companhia de Terras, com a sua esposa. Após o jantar, foram apresentados os membros da comissão pró-construção da Matriz.
No dia 11 de março, Domingo Laetare – ou seja, o quarto domingo da Quaresma –, o povo londrinense assistiu, com imensa satisfação e profunda gratidão, a três missas campais, rezadas no local onde se havia de levantar a igreja do Sagrado Coração de Jesus. Este padroeiro fora escolhido por Dom Fernando Taddei na primeira missa do dia, oferecendo uma imagem para ser colocada na Igreja que seria erguida. Após o evangelho da última missa o Vigário, Pe. Carlos Dietz, fez o seu primeiro pronunciamento carregado de carinho e solicitude pastoral. Após a missa, os sacerdotes foram levados em procissão à residência de Dr. Willie Davids e de noite, Mister Thomaz ofereceu-lhes um banquete na sua casa.
Em 1º de abril, Domingo de Páscoa, encerraram-se as solenidades da inauguração da nova sede paroquial e da posse do primeiro Vigário. Foi erguido um cruzeiro de 7 metros de altura, em frente à futura igreja, doado pelo Sr. Eugênio Brugim, que se tornara o símbolo da posse da fé nos sertões do norte do Paraná.
Ninguém era mais apropriado para trabalhar nesta nova missão do que Pe. Carlos Dietz, homem forte, sadio e zeloso. A primeira qualidade que a situação exigia dele, era a modéstia, pois a Paróquia não possuía ainda casa paroquial e nem igreja. O Vigário instalou-se provisoriamente numa casa alugada cuja salinha de 30 m² foi transformada em oratório para as funções religiosas até que se construísse a primeira igreja.
A planta da Igreja foi desenvolvida pelo engenheiro técnico Willie Davids – que mais tarde viria a ser prefeito de Londrina. As dimensões da igreja matriz haviam de ser vinte por doze metros para a nave, seis por seis para o presbitério e quatro por quatro para cada sacristia. A construção começou no dia 1º de junho de 1934, sob a direção do engenheiro Ernesto Rosenberger e do mestre de obras Armando Piantin. Progrediu, porém, lentamente, devido à falta de material e de mão de obra. Embora a C.T.N.P. cobrisse a metade das despesas e o povo contribuísse generosamente, a igreja não saiu com as dimensões previstas, a nave perdeu quatro metros do comprimento, e as duas sacristias foram separadas dentro do espaço do presbitério.
No dia 19 de agosto de 1934, a igreja foi inaugurada, abençoada e entregue à sua função pelo Pe Erasmo Raabe, SAC, que na ocasião representando o Bispo Diocesano. Dom Fernando Taddei presenteou a nova matriz com a imagem do Sagrado Coração de Jesus, como prometera na instalação da Paróquia. A Sra Carlota Davids doou o primeiro missal, um grupo de motoristas, o cálice, e alguns alemães, a pedra d’ara. De início servia de sino um pedaço de trilho, dobrado à guisa de triangulo, mas, no dia 21 de outubro, o Vigário pode benzer dois sinos um maior, de aço, dedicado a Nossa Senhora e doado por Hikoma Ukhara, e um menor, de bronze, dedicado aos Santos Anjos, presente de Mr. Thomas.
A igreja foi construída de madeira, distinguia-se das demais igrejas da época pelas amplas dimensões, a arquitetura e o acabamento muito bem-feito, assim, resolveu as necessidades religiosas e culturais.
Em 9 de outubro de 1933 foi dado início à construção da casa dos padres, em terreno doado pela Companhia de Terras, que ofereceu a quadra 39 inteira para aquele fim. No dia 14 de junho 1934 foi entregue ao Pe. Carlos Dietz a chave da casa paroquial. Em 19 de junho foi feita a mudança do Padre da casa provisória para a casa paroquial.
Este local [onde hoje está o condomínio São Paulo Towers] foi a primeira casa dos Padres Palotinos no Norte do Paraná. Na época servia como “casa dos padres” e como Seminário Menor da Comunidade Palotina e ainda como residência do Vigário da Paróquia, pois, por ser a administração da Paróquia entregue aos Palotinos, não se pensava já logo na construção de uma casa paroquial separada, problema que ficou resolvido bem mais tarde com a aquisição de uma fazenda onde se construiu o Seminário São Vicente Pallotti. A casa foi uma das primeiras feitas em alvenaria, com ampla área construída, mas muito simples e sem estilo por falta que havia naqueles primeiros tempos de profissionais e empresas construtoras.
— Carlos Probst (1902-2004) foi um sacerdote e professor da Sociedade do Apostolado Católico (Ordem dos Palotinos). Nascido na Áustria, ele chegou a Londrina em 1934. Foi o segundo vigário atuante na cidade e cofundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina, que veio a dar origem à Universidade Estadual de Londrina. Em 1978, já aposentado, foi o primeiro docente agraciado com o título de Professor Emérito da UEL. Escritor prolífico e pregador memorável, é autor da “História da Província de São Paulo Apóstolo”, em quatro volumes. Faleceu aos 102 anos em Londrina, a terra que ele tanto amou.
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Fonte: BSM