“Já se foram três anos desde a última BGS! Estamos felizes de voltar”, diz o executivo Bill Van Zyll, contemplando do alto o espaço da Nintendo na Brasil Game Show, feira que ocorre em São Paulo desde a última quinta (6).
Há quase uma década e meia no cargo de diretor geral para a América Latina da Nintendo of America, o holandês Zyll está à vontade no Brasil, país que visita com regularidade e cujas inconstâncias da economia local lhe são muito familiares. Ainda assim, ele continua empenhado em sua antiga missão de agradar os apaixonados fãs brasileiros – os “nintendistas”, como se assumem em redes sociais os seguidores fiéis da centenária franquia japonesa.
No que depender dos esforços recentes – como o avantajado estande no evento, repleto de jogos para experimentação do público –, a Nintendo demonstra ter um plano de ação para marcar ainda mais presença no imaginário do consumidor brasileiro. Normalmente econômica em suas ações, a empresa reservou a visita para fazer anúncios relevantes ao nosso mercado – ainda que muitos fãs impacientes considerem tais iniciativas “não mais do que a obrigação”.
A principal notícia divulgada no evento foi a disponibilidade, em lojas brasileiras selecionadas, das versões físicas de jogos do console Nintendo Switch – entre eles os já consagrados The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Mario Kart 8, Super Mario Odyssey e Animal Crossing: New Horizons. Até então, esses títulos estavam disponíveis no mercado nacional somente em opções digitais. “Todas as principais franquias estão representadas”, elabora Zyll, sobre a lista de dez jogos. “Focamos nos grandes games que sabemos que os brasileiros adoram e que vão vender bem. Queremos seguir um passo por vez.”
@terragameon Nintendo Brasil confirma planos de jogos em Mídia Física com lançamento mundial simultâneo no Brasil #BGS22 #Nintendo #Gamesnotiktok #Videogames ♬ som original – Terra GameOn
Varejo decide os preços
Em meio à dezena de títulos que chegam ao Brasil na versão “em caixinha”, chama a atenção Splatoon 3, lançado há menos de dois meses no Japão e nos Estados Unidos. Isso significaria que outros futuros títulos seriam lançados simultaneamente ao mercado internacional? Não exatamente.
“Temos tentado trabalhar com o Brasil de uma forma muito deliberada, metódica. Queremos fazer as coisas do jeito certo. Queremos estar aqui a longo prazo”, explica Zyll. “Esse é o nosso objetivo, é o que os fãs querem e é o que meu chefe [Doug Bowser, CEO da Nintendo] está me pedindo para fazer também. Levará algum tempo para chegarmos a esse ponto. [Os lançamentos simultâneos] vão acontecer eventualmente, mas ainda estamos trabalhando para isso.”
Outra questão pertinente diz respeito aos preços desses games físicos no mercado brasileiro (R$ 349), que custam mais caro do que suas versões digitais, vendidas a R$ 299 em média. “No fim das contas, são os varejistas que decidem a que preço vão vender. Nós até podemos fazer sugestões, mas há diversos fatores e limitações”, diz o executivo, citando “moeda, impostos, toda a estrutura de distribuição e cargas tributárias diferentes para diferentes jogos”.
Ainda assim, segundo Zyll, a intenção é “trazer a experiência da Nintendo o mais acessível possível ao consumidor brasileiro, porque nós queremos interagir com o maior número de pessoas. Mas sempre há alguns desafios.”
A lenda do game em PT-BR
Dos dez games físicos de Switch que a Nintendo coloca à disposição no país, somente Mario Party Superstars (2021) e Mario Strikers: Battle League (2022) trazem legendas e narração em português brasileiro (PT-BR, na sigla). A tradução dos jogos, aliás, permanece como um dos temas de grande interesse para os “nintendistas”, há décadas acostumados a consumir os produtos da empresa com sons e textos em inglês.
Ao ser questionado sobre possíveis dificuldades em lançar futuros títulos em nosso idioma, especialmente o aguardado The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom (previsto para 12 de maio de 2023), o representante da Nintendo não se permitiu soar tão otimista.
“A Nintendo quer trazer a melhor experiência para os consumidores, então tem que fazer do jeito certo”, afirma Bill Van Zyll. “É um processo complexo, não é simplesmente traduzir: é uma localização, em que se traz toda a emoção e o humor para o jogo – a experiência completa. É isso que torna tudo tão complicado. Tudo é realizado internamente, estamos aumentando nossas capacidades, e isso leva tempo. Então, por favor, sejam pacientes.”
Sobre a equipe responsável pelas localizações, Zyll também ofereceu poucos detalhes. “É um time pequeno que está crescendo. É interno, então eles trabalham próximos aos melhores”, explica. “Não há muito a dizer sobre isso, além do fato de terem processos de qualidade muito altos, porque não cuidam só do português brasileiro, mas também do espanhol latino-americano. Mas eles estão empenhados em trazer a sensação de qualidade aos consumidores.”
Há tempos, a questão do idioma tem sido a bandeira mais alardeada pelos fãs brasileiros nas redes sociais: são frequentes as campanhas coletivas e hashtags que solicitam mais atenção da Nintendo para a questão da adaptação de seus games à compreensão local. Ainda que o peso do empenho online não garanta qualquer investimento da empresa nesse sentido, Zyll não desestimula os “nintendistas” a continuarem a militância.
“Será um processo gradual”, ele diz, sobre quais os possíveis títulos futuros adaptados para o idioma do Brasil. “Que os brasileiros saibam que estamos trabalhando nisso. O feedback dos fãs é sempre bem-vindo, então vocês estão fazendo a coisa certa. Continuem.”
Console mais recente da Nintendo, o Switch OLED, já está disponível nas principais lojas do país.