Um remédio usado no tratamento da leucemia ficou em falta por 19 dias na Santa Casa, em Campo Grande. Nesse período, os pacientes viveram momentos de apreensão em relação à doença. O problema foi resolvido na segunda-feira (19).
Durante quase três semanas, Gilberto Luiz Martinovski ficou sem o Dasatinibe, medicamento utilizado no tratamento contra leucemia mieloide crônica. Há 22 anos, o professor aposentado convive com a doença.
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“Impacta muito em toda a vida social, no próprio organismo porque você fica apreensivo, você não tem uma data quando vai ter o remédio. E isso, para nós termos a leucemia, já é uma espada na nossa cabeça. Você imagine a gente não ter o remédio para tomar”, diz o aposentado.
O Antônio Jesus de Oliveira, diagnosticado há nove anos, diminuiu as doses por conta própria para não ficar tanto tempo sem o remédio. Mesmo assim, foram 12 dias com o tratamento interrompido.
“Ficamos sem a medicação. Eu tomo 140 miligramas dessa medicação. Os de 20 miligramas me foi concedido. Então, eu tomei ele durante sete dias. Dividi ali as doses, deu sete dias e acabou lá pelo dia 7 de fevereiro. Após essa data, não foi nos comunicado nada”.
Segundo a dona Cleonice, que mora em terrenos e busca o remédio em Campo Grande, não é a primeira vez que falta Dasatinibe na Santa Casa. Em 2022, para não parar o tratamento, passou a usar Nilotinibe, outro remédio com a mesma linha de atuação, mas sofreu com os efeitos colaterais.
“Tinha dor no estômago demais, tinha náusea porque doía demais o estômago, então é uma coisa assim que não tem explicação, para nós, ficar sem o Dasatinibe”.
Ela disse não ter interrompido o tratamento naquela época. “Não chegamos a parar porque era necessário tomar, mesmo tendo todo esse efeito colateral. Por quê? Porque nós precisamos nos manter vivos e nós precisamos do medicamento, sem ele como que a gente fica?”.
O Dasatinibe é indicado para o tratamento de adultos com leucemia mieloide crônica e custa por volta de R$ 10 mil reais. Para muitos, a compra se torna inviável. Não tomar o remédio pode interferir de forma direta na saúde do paciente.
Segundo a Santa Casa, a ausência do medicamento durante 19 dias foi causada pelo atraso na entrega por parte do Ministério da Saúde. O problema foi resolvido na tarde de segunda-feira (20) e os pacientes já tiveram acesso ao medicamento. A nova remessa deve durar até o próximo mês.
“Dasatinibe é um inibidor que a gente chama de tirosina-quinase de 2ª geração. Então você troca o de 1ª geração porque já está tendo uma falha. E quando a gente acaba de trocar e ter esses 19 dias pacientes para alguns é perda e resposta e piora clínica. Para outros não porque está em uma fase mais avançada de uso da medicação, então às vezes a doença acaba ficando estabilizada”, explica a médica hematologista Deise Ferreira.
Segundo ela, o tratamento é para a vida toda. “Quando você não tem, muitos pacientes podem perder resposta ou ficar refratários ao tratamento. E isso desde quando pode surgir aumento do número de leucócitos, o paciente que não estava sintomático pode começar a ficar sintomático, ter anemias, ter plaquetopenias, aumento do basso, sintomas B, que a gente chama de emagrecimento, sudorese. Então, o grande problema de ficar sem essas medicações muitas vezes é por medo de você ficar refratário a esse tratamento”, complementa a médica.
Para quem ficou 19 dias sem o remédio, retomar o tratamento traz uma sensação de alívio.
“Nós não pedimos para ter leucemia, nós temos família, nós temos filhos, nós temos esposa, então a gente precisa ter paz, tranquilidade para poder, sabe, chegar aqui, ter o nosso remédio, ter o nosso tratamento digno”, enfatiza Gilberto.
Fonte: primeirapagina