Se você colocar uma caixa de madeira super pesada em cima de um travesseiro de espuma, ele vai se comprimir e ficar parecendo uma panqueca achatada. Assim que você tirar o peso, ele vai, aos poucos, voltar pro formato relaxado original (quem tem o tal “travesseiro da Nasa”, que não tem nada a ver com a Nasa, sabe bem como é).
É mais ou menos isso que acontece na Groenlândia. O gelo acumulado sobre a ilha faz uma pressão tão grande que comprime a rocha lá embaixo. Conforme esses glaciares vão derretendo – culpa do aquecimento global –, a rocha vai retornando ao seu estado relaxado, e a ilha se ergue mais e mais em relação ao nível do mar.
Acontece que o nível do mar também está aumentando, justamente por causa do tanto de gelo derretido que anda escorrendo nos oceanos. Ou seja: a Groenlândia e o Atlântico estão disputando uma corrida para ver quem sobe mais.
Esse fenômeno já é conhecido pelos cientistas há décadas. Contudo, um grupo de pesquisadores da Universidade Técnica da Dinamarca usou dados refinados sobre diversos locais onde ocorre degelo no Atlântico Norte para estimar com precisão inédita a rapidez com que a Groenlândia está subindo.
Esses dados incluem as chamadas geleiras periféricas, distribuídas ao longo do litoral. Elas representam pouco do gelo groenlandês em termos absolutos (apenas 4%, já que a maior parte fica no miolo da ilha), mas são as mais afetadas pelo aquecimento global em termos relativos – cerca de 15% do degelo da ilha vem delas.
Baseados nas informações colhidas por uma rede de 61 estações de medição distribuídas pela costa da ilha, os pesquisadores estimaram que a Groenlândia subiu cerca de 20 cm na última década – equivalente a 2 metros por século. Já o nível médio do mar sobe a 3,4 cm por década. Por enquanto, a ilha está ganhando a corrida.
“São elevações de terra bastante significativas que podemos agora demonstrar. As mudanças locais na Gronelândia acontecem muito rapidamente, impactando a vida na região”, afirma Danjal Longfors Berg, um dos autores do estudo, publicado no periódico Geophysical Research Letters. “O fenômeno também afeta o mapa da Groenlândia. À medida que novas terras emergem do mar, dão origem a novas pequenas ilhas”.
Se estiver procurando um lugar diferente para morar, eis aí a opção mais exclusiva que o planeta tem a oferecer: ilhas tão novas que dá para ser o primeiro a pisar nelas.
Fonte: abril