Sophia @princesinhamt
Ciência & Saúde

Como o cérebro do bebê se prepara para o mundo: a incrível jornada de desenvolvimento após o nascimento

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O cérebro em desenvolvimento não é apenas uma versão reduzida do cérebro de um adulto, mas é projetado exclusivamente para se preparar para o mundo externo. Ele possui estruturas e funções cujo único papel é estabelecer os circuitos básicos necessários à vida após o nascimento, que desaparecem depois de cumprirem seu dever. Sabemos, pelo estudo de bebês nascidos prematuramente, que mesmo nesta fase inicial o cérebro já é extremamente ativo, mas de uma forma altamente específica para este momento de vida.

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Alguns estudos em animais mostraram, por exemplo, que células cerebrais imaturas disparam sozinhas, assim como as células no coração. Contudo, o disparo dessas células é extremamente coordenado para que possa fornecer as instruções iniciais para a fiação e manutenção dos circuitos neuronais do cérebro, que, se interrompidos ou perturbados, podem alterar todo o processo pelo qual o cérebro amadurece

Dada a sua importância, quisemos estudar estes passos em recém-nascidos prematuros e os impactos no seu desenvolvimento.

Explosões de atividade

A comunicação dos neurônios dentro do cérebro é realizada através de sinais elétricos, por isso pode ser medida como “ondas cerebrais” usando sensores de eletroencefalografia (EEG) posicionados na cabeça. Sendo assim, nos últimos , alguns pesquisadores da University College London utilizaram, com sucesso, tal método, para observar a atividade cerebral durante as convulsões e para estudar como o cérebro de um bebê pode processar o toque e a dor, mesmo antes do parto normal.

Além disso, a eletroencefalografia também foi usada para registrar a atividade no cérebro de um bebê prematuro em repouso, e mostrou enormes explosões que normalmente não são vistas em nenhum outro momento. Porém, embora saibamos há muito tempo sobre a aparência da atividade com a eletroencefalografia e quando acontecem as ondas cerebrais, nunca soubemos em que parte do cérebro a atividade está realmente ocorrendo.

A
chave para resolver esta questão foi combinar gravações de EEG com ressonância
magné funcional (fMRI), já que quando os neurônios disparam, precisam
de combustível (oxigênio e glicose), que é levado a uma área “ativa” através da
corrente sanguínea. Assim,
usando a ressonância magnética funcional é possível medir com precisão as
mudanças nos níveis de oxigênio e fluxo sanguíneo em todo o cérebro, com precisão
de alguns milímetros.

Portanto,
a combinação de EEG (que pode medir a atividade elétrica rápida, mas se esforça
para localizá-la) e fMRI (que mede a resposta do fluxo sanguíneo lento acoplado,
mas pode localizá-lo com precisão) foi ideal para descobrir de onde os surtos
de atividade estão vindo de dentro de um cérebro do bebê prematuro.

Campo específico do cérebro é responsável pelo seu amadurecimento

Esse
tipo de experimento nunca havia sido feito antes e sabíamos que seria extremamente
desafiador, então contamos com a colaboração de uma equipe do King’s College
London que tinha vasta experiência e conhecimento de métodos de ressonância
magnética funcional, registrando, com as duas técnicas simultaneamente, a
atividade cerebral de dez bebês prematuros enquanto eles dormiam naturalmente.

Cada bebê apresentava picos de atividade frequentes em seu EEG e, com fMRI, pudemos ver que a maioria deles vinha de uma região do cérebro em forma de pirâmide chamada ínsula. Esta é uma ilha do córtex que em adultos realiza papéis muito diversos, pois reúne informações físicas básicas com sinais emocionais, cognitivos e motivacionais.

Mostramos
em nosso estudo que essa região específica do cérebro – à qual pouca atenção
foi dada até agora – também desempenha um papel importante na geração da
atividade crítica que molda o cérebro em desenvolvimento, já que cresce
mais rápido do que outras regiões do cérebro e também forma conexões com o
resto do cérebro durante o último trimestre de gestação. Por isso, o uso de
drogas na gravidez, assim como a prematuridade de um bebê podem causar efeitos
adversos nessa região cerebral.

Entender como funciona o cérebro minimiza lesões

A
taxa de partos prematuros está aumentando em muitos países europeus, causando grande
preocupação, já que, embora tenham maior probabilidade de sobreviver graças aos
avanços modernos nos cuidados hospitalares, estão expostos a um risco maior de
problemas no desenvolvimento neurológico.

Isso
pode se justificar por terem nascido muito cedo e seu cérebro simplesmente não
estar pronto, pois ainda está passando pelas etapas de desenvolvimento que
deveriam ter acontecido no ambiente protegido do útero. Como resultado, o
cérebro prematuro é mais suscetível a lesões que podem levar à deficiências.

Por isso, acreditamos que é de fundamental importância entender como funciona o cérebro em desenvolvimento para os cuidados que as devem ter com os nascimentos prematuros e uma nova compreensão de como lesões precoces levam a deficiências neurológicas.

*Lorenzo Fabrizi é pesquisador bolsista do Medical Research Council (MRC), do Reino Unido.
**Tomoki Arichi é palestrante Clínico Sênior no Centro para o Desenvolvimento do Cérebro, do King’s College London, no Reino Unido.

©2022 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

Fonte: semprefamilia.com.br

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo