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Pais narcisistas: como sua superexposição afeta o desenvolvimento dos filhos

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Todo pai ou mãe deseja que o seu filho se destaque por suas habilidades, e é claro que o seu coração se enche do orgulho diante dos êxitos do filho. Mas e quando o sucesso das crianças e jovens se torna uma obsessão e os pais passam a servir-se da visibilidade dos filhos para suprir as suas próprias necessidades de atenção? É o que pode acontecer com pais narcisistas que, sem conseguir ser admirados pelas próprias habilidades, terceirizam para si o reconhecimento que os filhos conquistam.

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O narcisismo é um amplo espectro de comportamentos caracterizados
pela busca de admiração e aprovação constantes. Quando chega ao ponto em que esse
inchaço do ego começa a afetar a funcionalidade da pessoa no trabalho ou
socialmente, pode ser diagnosticado psicologicamente como o transtorno de personalidade
narcisista. Se os filhos passam a ser instrumentalizados por esse desejo de
atenção, então as consequências para eles podem ser graves.

“Quando os pais são narcisistas patológicos e fazem uso dos
talentos ou imagem de seus próprios filhos para obter lucros e vantagens, o
impacto emocional negativo é uma conta que será paga pelos filhos”, afirma
Leninha Wagner, doutora em psicologia e em neurociências. “Estar submetida desde
cedo a situações de extrema pressão e a ambientes para os quais o seu cérebro
ainda não está preparado para lidar pode trazer uma série de problemas para a
criança no futuro”.

Graves consequências

Segundo a especialista, o estado de tensão, ansiedade e
estresse crônico provocado pelas expectativas de fama, sucesso e perfeição
depositadas sobre a criança pode levar à estafa mental e física e a um estado
de depressão que pode impactar todo o seu desenvolvimento. “Pais que depositam
em seus filhos a responsabilidade de rentabilizar ou monetizar através de
aparições de impacto que gerem fama e sucesso, invariavelmente podem transmitir
aos filhos a sensação de carregar o peso de ser a ferramenta de resolução dos
problemas de uma família”, exemplifica Leninha.

Já a psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz chama a atenção
para um aspecto nem sempre visível dessas tensões: “É interessante observar que
o movimento que pais narcisistas fazem é: aplaudir e enaltecer para os outros;
criticar e rebaixar no privado. Para quem ‘não é de casa’ eles expõem as
habilidades ou a imagem dos filhos como maravilhosas, perfeitas, sublimes… No
entanto, em casa a validação não vem na mesma intensidade. Os aplausos e
holofotes são substituídos por críticas duras, relatos de insuficiência e busca
descontrolada pela perfeição”.

“A conexão imposta pelo pai ou mãe narcisista com o filho é
tão intensa que a criança vai aprendendo de forma distorcida sobre quem é. Os
interesses dos filhos são desvalidados, assim como as necessidades particulares
desta criança”, continua a psicóloga. Isso afeta a autoestima da criança, o
conceito que ela tem de si e o desenvolvimento da sua autonomia. A sua relação
com os pais fica condicionada por aquilo que ela faz: os pais a amam apenas
quando ela age de determinada maneira, e não do jeito como realmente são.

Autoconhecimento

Dessa maneira, procurar examinar-se a fim de reconhecer se
esse tipo de comportamento está presente na relação com os filhos é
fundamental. “Nem sempre é tarefa fácil nos percebemos em todas as camadas que
nos compõem, mas é preciso se questionar sobre os próprios excessos, ouvir as
queixas, reclamações e sugestões das pessoas próximas, membros da família e
amigos íntimos, e refletir se tangenciam a verdade de seu comportamento, para
então buscar ajuda profissional na psicoterapia”, indica Leninha.

“Questione-se: ‘Estou fazendo isso por mim ou pelo meu
filho? Isso vai agregar no desenvolvimento dele? Isso ajudará meu filho em quê?
Qual é a expressão do meu filho quando ele faz isso? Ele gosta? Ele se diverte?’”,
recomenda Ana Caroline, apontando que, como estamos falando de uma
psicopatologia – o transtorno de personalidade narcisista –, quando pais e mães
notam em si essa busca por atenção às custas dos seus filhos, a procura por
opiniões qualificadas e profissionais é fundamental.

Tudo isso é importante sempre no exercício da parentalidade,
mas é ainda mais urgente na cultura narcisista que as redes sociais
consolidaram. Expor os filhos para satisfazer as próprias necessidades de
atenção não é uma novidade – como atestam os velhos concursos de beleza
infantis –, mas com as dinâmicas virtuais se firmaram como uma plataforma
perfeita para receber a aprovação social instantânea que os pais narcisistas
precisam. “No entanto, em troca de um ganho imediato, instantâneo e fugaz, há
perdas concretas e danos emocionais por tempo indeterminado”, afirma Leninha.

Um risco concreto

A superexposição de crianças e adolescentes na internet por parte de seus pais é um fenômeno típico da sociedade da informação em que vivemos e tem até nome: sharenting (do inglês share, compartilhar, e parenting, o exercício da parentalidade). “Os perfis de bebês sob a administração dos responsáveis seriam um exemplo. Ali se coloca em situação de risco a imagem, a dignidade, a segurança e a saúde desses sujeitos”, explica a pesquisadora Letícia Prazeres, mestra em direito e professora da Idea Escola de Direito.

“Quando tratamos de uma exposição em demasia de crianças e
adolescentes, pelos próprios pais ou responsáveis, sob a justificativa da ação
fazer parte da rotina familiar, é preciso ter em mente que não se trata apenas
de fotos e sim de dados e localizações que, se veiculadas da forma errada,
podem colocar crianças e adolescentes em situações de risco”, diz Letícia.

Além das consequências psicológicas para as crianças, casos
que cheguem a acarretar problemas de maior severidade podem ter até mesmo
consequências judiciais. “Em situações extremas e de grave violação na esfera
de garantias infanto-juvenis, pode-se falar inclusive na perda do poder
familiar”, sublinha a pesquisadora.

Fonte: semprefamilia.com.br

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo