A família é um tesouro, mas não está isenta de problemas que podem afetar muito a vida de todos os envolvidos. E um dos mais comuns é a atitude controladora que alguns membros podem exercer sobre os outros. Quer nos relacionamentos conjugais, quer entre pais e filhos ou em outros contextos, lidar com uma pessoa controladora não é nada fácil. As tensões que se criam podem ser uma bomba prestes a estourar a qualquer momento.
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“Uma pessoa controladora fica decepcionada ou frustrada se o
outro corta o cabelo de uma forma que a desagrada, veste uma roupa que ela
considera inadequada ou tem amigos com os quais não concorda”, diz a psicóloga
Tatiana Festi. “Há uma supervigilância em relação à organização da casa, à
rotina, às redes sociais, etc. Quando a pessoa sente que o outro não está sob
seu controle, gera-se uma ansiedade muito intensa. E então essa ilusão de
controle serve muitas vezes para aplacar essa ansiedade”.
Para a também psicóloga Lariza Monteiro, a tendência ao
controle vai precisamente na contramão do que um relacionamento, de qualquer
tipo, se pretende ser. “Precisamos entender que os relacionamentos são
compartilhados: são pessoas que compartilham suas vidas e constroem a partir
disso. Entendendo isso, é importante ressaltar que nem sempre temos controle
sobre as situações e muito menos sobre as pessoas”, comenta ela.
Conexão genuína
Segundo Tatiana, um vínculo real com o outro exige que a
preocupação com ele saiba incluir o respeito à sua liberdade como elemento
fundamental. “A preocupação genuína pelo outro envolve a empatia. Ela permite
que o outro tenha a liberdade de ser quem é. Há o desejo de que o outro possa
se realizar independentemente da expectativa que eu tenha a respeito dele”,
explica a psicóloga. “Quando entramos no domínio do controle, deixamos esse
lugar de empatia e liberdade. A pessoa tem então uma grande dificuldade de
lidar com a autonomia do outro – do outro sendo o outro, e não somente uma
extensão dela mesma”.
“Vejo muitos conflitos de interesse atingirem os
relacionamentos sociais. É necessário compreender a conexão que se tem com cada
pessoa e aprimorar esses laços afetivos”, corrobora Lariza. “Num relacionamento
de qualquer tipo, o que se reúnem são duas cargas emocionais e dois estilos de
vida diferentes, e entender isso é fundamental para o bom convívio”.
O que leva alguém, entretanto, a se tornar uma pessoa
controladora? “Não há uma única causa que leva a esse comportamento. Para cada pessoa,
há uma origem diferente”, explica Tatiana, que elenca como algumas hipóteses
situações de negligência, de trauma, de insegurança, ou ainda traços
marcadamente mais sádicos.
“Por exemplo, um adulto que na infância vivenciou muitas
negligências, teve uma experiência em que faltou muito o cuidado, sobretudo o de
ordem afetiva, e assim viveu a necessidade de dar conta de muitas coisas
sozinho. Essa pessoa se habituou a estar no controle das coisas, porque aquilo
que foge do controle pode levar a sentimentos de angústia que já foram
experimentados antes”, indica a psicóloga.
O que fazer
Precisamente por essa diversidade de razões, o caminho do
autoconhecimento é fundamental para que a pessoa controladora que reconhece o
seu comportamento possa deixa-lo para trás. “É importante cuidar desses traços,
tendências, feridas ou tramas, para que a pessoa possa se sentir razoavelmente
segura para abandonar essa necessidade de controlar o outro”, esclarece
Tatiana.
Já a pessoa que se percebe controlada ou constrangida precisa
buscar em primeiro lugar uma comunicação clara sobre a questão. “Quando se
percebe essa problemática aflorada, é necessário o diálogo para restabelecer os
espaços individuais e reconectar a pessoa a um relacionamento coparticipativo,
em vez de abusivo”, diz Lariza.
“Isso não vai surtir um efeito imediato positivo”, antecipa
Tatiana. “Muito provavelmente a pessoa controladora vai explodir, vai ficar
nervosa. Não raro ela pode ir pelo caminho de uma chantagem emocional,
começando a chorar ou virando o jogo e despejar acusações sobre o outro. Mas
esses limites são necessários, para que a pessoa que está sendo controlada
tenha espaço de existir nesse relacionamento”. A tarefa, no entanto, vai além
do diálogo.
“Em paralelo a essa comunicação, é importante a pessoa que se sente controlada entender por que está em uma relação como essa, num trabalho de autoconhecimento”, indica a psicóloga, que afirma que a terapia de casal ou familiar pode trazer bons resultados se os envolvidos estiverem dispostos a reconfigurar a relação. Contudo, quando a pessoa controladora não dá nenhum indício de flexibilidade ou de querer buscar ajuda, o melhor caminho talvez seja o afastamento, já o que está em jogo é a própria possibilidade de ser quem se é.
Fonte: semprefamilia.com.br