Na estimulante Era Pós-Lava Jato, uma discussão bizantina ocorre nas redes sociais sobre o Índice de Percepção da Corrupção, relatório anual da Transparência Internacional.
No relativo a 2023, divulgado nesta semana, o Brasil perdeu dez posições em relação ao relatório anterior e hoje ocupa a 104ª posição entre 180 países. Em uma escala de notas de 0 a 100, tiramos 36. Para se ter ideia, a Dinamarca, líder em honestidade, obteve 90.
Desde a divulgação, petistas e bolsonaristas tentam jogar a culpa para o campo adversário. Há também quem procure tirar a credibilidade do índice, dizendo que a metodologia é falha, porque os países do ranking medem a percepção de corrupção com termômetros diferentes.
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Senhoras e senhores, não nos enganemos, por favor: com metodologia falha ou não, qualquer cidadão com um mínimo de lucidez percebe que a corrupção piorou no país. Basta ler o noticiário. Qualquer cidadão com um mínimo de lucidez sabe também que a culpa é de petistas e bolsonaristas. Está no relatório, aliás.
Com a prestimosa ajuda das instituições-que-estão-funcionando, ambos os lados “enfrentaram a Lava Jato”, e as instituições-que-estão-funcionando agora completam o serviço para deixar tudo como sempre foi e até melhor do que jamais foi.
Veja-se o caso do ministro Dias Toffoli. Na esteira da anulação das provas do acordo de leniência da Odebrecht e de suspender a multa de R$ 10,3 bilhões da J&F, o ministro suspendeu os pagamentos do acordo de R$ 3,8 bilhões da empreiteira.
Nos Estados Unidos, onde também fez lambanças, o Departamento de Justiça referiu-se à Odebrecht como protagonista do “maior caso de suborno estrangeiro da história”. Mas, você sabe como é, a Lava Jato foi arquitetada pelos norte-americanos para criminalizar Lula e o PT, afundar a Petrobras e roubar o nosso petróleo.
No próximo dia 9, as instituições-que-estão-funcionando devem cassar o mandato do senador Sergio Moro, se o plano do PL de Jair Bolsonaro e do PT de Luiz Inácio correr como o previsto. Será a chave de ouro do “enfrentamento da Lava Jato”: dar uma lição ao ex-juiz da operação e tirar os seus direitos políticos por oito anos. É imperioso cair ainda mais no ranking da Transparência Internacional. O nosso potencial ainda não foi inteiramente explorado.
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Uma última constatação, por favor: a percepção de que a corrupção aumentou não significa que os cidadãos do país estejam preocupados com o problema. A maioria não está nem aí. Acha contingência inevitável e até desejável, se sobrarem uns trocados.
Aquela história de prender corrupto poderoso foi um desvio da alma nacional, devidamente corrigido pelas instituições-que-estão-funcionando. No fundo e na superfície, quem “enfrentou a Lava Jato” foi o povo brasileiro.
Fonte: revistaoeste