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‘Sobrinho de advogado de Mandela revela preocupação de judeus na África do Sul: muitos consideram partida’

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Aos 64 anos, Misha Magun, sobrinho do advogado de Nelson Mandela, olha para trás e vê que teve uma vida privilegiada na África do Sul. De origem judaica, ele viveu sob o regime do apartheid. Agora testemunha de perto a repercussão causada na comunidade local com a decisão do governo sul-africano de, em dezembro último, denunciar no Tribunal de Haia.

A acusação era que o governo israelense pratica genocí com o povo palestino, depois dos ataques do Hamas, em 7 de outubro, que deixaram 1,2 mil mortos no sul de Israel e no qual mais de 230 pessoas foram sequestradas.

Misha é sobrinho de Joel Joffe, irmão de sua mãe, um dos poucos advogados brancos que defenderam Mandela, líder sul-africano que lutou contra o apartheid e, depois de ficar 27 anos na prisão, se tornou presidente em 1994.

Joffe ganhou o título de Lorde na Inglaterra, para onde foi morar por ter ficado impedido de viver na África do Sul naqueles tempos. Ele morreu em 2017, aos 85 anos.

Agora, Misha vê Israel ser acusada de intolerância. Sentimento que ele afirma repudiar, usando como exemplo sua atuação contra a existência de um regime de segregação no ís.

“Quando eu era jovem, muitos dos meus amigos, muitos dos quais eram judeus, e eu, envolvemo-nos em atividades anti-apartheid“, conta a . “Na minha família meu tio [Joel Joffe] foi um advogado que desempenhou um papel fundamental na defesa de Nelson Mandela. Ele me inspirou a me levantar contra a segregação racial e a opressão.”

As dificuldades econômicas no pais, muito em função do que ele define como falta de credibilidade e corrupção do governo, também estão afetando a comunidade judaica, que, segundo ele, vivia em uma “bolha” nos tempos do apartheid.

Os judeus, no entanto, mantiveram boa relação com a comunidade negra depois do fim do regime. A acusação do país contra o Israel, diz ele, foi apenas mais um fator que tem estimulado muitos judeus a deixarem o território sul-africano. Outros, ele diz, não criticaram o governo.

“Muitos judeus não tinham fé ou perderam a fé no governo do Congresso Nacional Africano (CNA) e foram embora antes e depois de 1994 (fim do apartheid)”, ressalta Misha, que é psicólogo aposentado. “Agora muitos estão saindo do país novamente, isto estava acontecendo antes de 7 de outubro, mas desde então o governo da África do Sul ficou do lado da Palestina e muitos judeus pensam em sair.”

O parecer do Tribunal de Haia não reconheceu que Israel cometeu de genocídio, apesar de alertar para que o país fique em alerta para que isso não ocorra. Também não pediu um cessar-fogo, conforme solicitação sul-africana.

Crise econômica no país de Mandela

Cidade do Cabo África do SulCidade do Cabo África do Sul
Misha vive do Cabo, próximo da | Foto: Reprodução/Pixabay

Misha conta que a comunidade judaica sempre teve uma presença relevante para a África do Sul. Ele trabalhou para uma durante 22 anos apoiando crianças vulneráveis do continente. Mora com a esposa japonesa, Kyoko, e os dois filhos do casal.

“Os judeus desempenharam um papel dominante na vida econômica do país e destacaram-se em muitos outros campos.”

, onde mora, Misha encontra tempo para pedalar e surfar, aproveitando as paisagens e o contato com a natureza.

Ele, porém, ressalta que o momento não está fácil e que a crise econômica também está afetando os brancos. Não mais apenas os negros, como ocorria durante o regime do apartheid.

“É mais difícil para os brancos encontrar emprego e isso se estende aos judeus”. De forma surpreendente, ele afirma que não têm prevalecido manifestações antissemitas no país. “Se existe antissemitismo, eu não o experimentei.”

Para ele, os ataques de 7 de outubro foram horrendos e injustificáveis.

“Ficamos chocados com o massacre de civis judeus pelo Hamas, em 7 de outubro. Isso foi indesculpável e horrível”, ressalta Misha. No entanto, ele é um dos que defendem o fim dos bombardeios de Israel à Faixa de Gaza.

“Por aqui, muitos judeus como eu, embora reconheçamos os direitos históricos dos judeus à região e o direito à existência do Estado Judeu, somos contra a política militar de Israel que envolve bombardeamentos indiscriminados e perda de vidas de civis e crianças e queremos ver um cessar-fogo o mais rápido possível.”

Fonte: revistaoeste

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