O futuro aumento no tráfego de veículos pesados pela Estrada-Parque de Piraputanga (MS-450) tem preocupado moradores e o setor do turismo. É que um trecho da rodovia de Mato Grosso do Sul vai servir de rota para o transporte de madeira para a fábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo.
🎧 Ouça abaixo reportagem da Morena FM:
Com um conjunto de morros da Serra de Maracaju, a Estrada-Parque de Piraputanga é um dos mais belos cenários de Mato Grosso do Sul. Ela corta dois municípios – Dois Irmãos do Buriti e Aquidauana – e passa pelos distritos de Palmeiras, Piraputanga e Camisão, conhecidos pelo potencial turístico. Hoje, ela é toda asfaltada, uma melhoria que levou décadas para sair do papel.
“Todo segmento de hotelaria, gastronomia, trilhas, esporte, natureza, tudo isso veio alavancar a economia pela pavimentação da Estrada-Parque.”
Ely Souza, empreendedor do turismo
O movimento de veículos é tranquilo, mas isso pode mudar a partir do mês que vem. A Suzano, empresa que inaugura neste ano uma fábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo, fechou um contrato com uma fazenda que fica em Dois Irmãos do Buriti. O acesso à propriedade é pela Estrada-Parque. A empresa quer usar 12 quilômetros pra transportar madeira em direção à BR-262. Seriam pelo menos 20 caminhões por dia com peso aproximado de 70 toneladas.
A MS-450 é de pista simples e não tem acostamento. A grande preocupação de quem vive na região é sobre os impactos para o trânsito com um fluxo intenso de veículos pesados, todos os dias, ainda mais em trechos de curva, uma característica comum ao longo da rodovia. Moradores fizeram até um abaixo-assinado contra a autorização do transporte de madeira.
A Estrada-Parque de Piraputanga tem 42 quilômetros de extensão. É uma área de proteção ambiental, criada há 24 anos. Para o biólogo Milton Longo, o movimento de caminhões é uma ameaça à fauna.
“Infelizmente nossas estradas carecem de elementos de mecanismos para mitigar esse atropelamento, com “passa faunas” adequados e cercas de condução. O que não temos na Estrada-Parque Piraputanga. As passagens de fauna que existem lá são as naturais. Pavimento não suporta, não foi projetado pra suportar tráfego de caminhões nessa magnitude.”
Milton Longo, biólogo
O empreeendedor do turismo Jamil Albuquerque mora na comunidade quilombola Furna dos Baianos, às margens da MS-450. São mais de 20 famílias que vivem no local. Na propriedade dele, de 12 hectares, tem atividades como rapel, contemplação em mirantes e sítios arqueológicos. O turismo é a principal fonte de renda.
“Então a gente tem essa preocupação, mas a gente vai conversar e procurar um entendimento. Acho que isso é o mais importante.”
Jamil Albuquerque, empreendedor do turismo
O titular da Seilog (Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística) Hélio Peluffo, confirmou que a empresa vai começar o escoamento da produção pela rodovia. O secretário garantiu que medidas serão adotadas para minimizar os impactos na região.
“Não há interferências que possam prejudicar o trânsito. É uma retirada de uma floresta que a Suzano adquiriu na região, isso está bem balizado. A secretaria recomendou a retirada dos quebra-molas em Palmeiras e a colocação de radar. Isso é uma solução técnica para que não haja frenagem e prejudique o asfalto com o peso da carga. Então o radar permite que os caminhões façam a diminuição gradativa da velocidade sem prejudicar o pavimento. A ponte está em condições, o asfalto também foi vistoriado e está em condições e a responsabilidade total de manutenção da rodovia, eventualmente, se ocorrer alguma coisa.”
Hélio Peluffo, secretário estadual de Infraestrutura e Logística
O empreendedor de turismo Ely Souza mora em Piraputanga há 40 anos, tem uma pousada e teme que o tráfego pesado afaste os turistas.
“Isso só vai complicar mais ainda, aumentar a incidência de acidentes com relação à fauna atropelada e também ciclistas. Também o próprio tráfego de turistas que vem aos fins de semana e mesmo durante a semana estão passando por aqui para ir em outros destinos de turismo aqui no estado.”
Ely Souza, empreendedor do turismo
Em nota, a Suzano informou que está em estudo o uso de um pequeno trecho da MS-450 e que está seguindo todos os trâmites legais, com a apresentação da documentação necessária aos órgãos responsáveis pela liberação da via. Além disso, a empresa afirmou que tem estabelecido um diálogo com a comunidade local, para esclarecer dúvidas e apresentar um plano de transporte sustentável.
Fonte: primeirapagina