Por muito tempo, houve quem dissesse que eles são verdadeiros inimigos das dietas. No entanto, é possível usar os lanches entre as refeições a favor de uma alimentação equilibrada e saudável. Basta acertar nas escolhas e tomar cuidado com os excessos.
Para começar é importante lembrar que os nutrientes e as vitaminas contidos nos alimentos permitem que nosso corpo funcione adequadamente, fornecendo a energia necessária para a realização de todos os processos metabólicos e atividades diárias.
A ingestão de calorias por dia sugerida é de cerca de 2.000 para as mulheres e 2.500 entre os homens. A recomendação de boa parte dos especialistas em nutrição é que esse valor seja dividido.
A ideia é fazer as três principais refeições balanceadas —café da manhã, almoço e jantar— com 350 a 600 calorias cada, e de 1 a 3 lanches ao longo do dia com aproximadamente 150 a 200 calorias. No entanto, isso varia de acordo com uma série de fatores, como peso, altura, idade, gênero, nível de atividade física e condições de saúde.
Por que comer entre as refeições?
O raciocínio por trás disso é que você deve comer pelo menos a cada cinco horas, o que ajuda a evitar picos de fome e assim sair devorando tudo o que você encontrar pela frente. Quando ficamos muito tempo sem comer, a tendência é tomar decisões inadequadas na hora de escolher o que consumir, buscando alimentos sem considerar seu valor nutricional.
Nessas ocasiões, há ainda uma probabilidade maior de comermos em excesso. E alimentos consumidos além do necessário possivelmente vão se transformar em gordura no corpo —resultando em aumento do peso. Assim, os lanches entre as refeições nos ajudam a comer com moderação, bem como fazer melhores escolhas alimentares.
Outros benefícios
Estudos apontam ainda que a taxa metabólica das pessoas que comem entre as refeições é geralmente mais alta do que as que não têm esse hábito, o que auxilia no controle dos quilos na balança.
Além disso, o lanche tem o objetivo de equilibrar o nível de glicose (açúcar) no sangue. Comer entre as refeições também pode contribuir para o funcionamento regular do sistema digestório.
Um alerta: fome x vontade de comer
Pressão no trabalho, rotina agitada, acúmulo de responsabilidades, falta de tempo, prazos a cumprir, correria… Cenário que acaba afetando negativamente os hábitos de muitas pessoas. Situações assim levam a perda dos horários das refeições principais e a redução da duração da alimentação. Como resultado, cresce a necessidade dos lanchinhos para enganar a fome.
Muitos ainda usam esse costume de “beliscar” para suprir o tédio, estresse, ansiedade, frustração, preocupação ou como forma de recompensa para momentos ruins.
Nesses casos, o ato de comer passa da questão física para a emocional. Por isso, é importante estar atento ao que motiva essa busca por alimentos ao longo do seu dia.
Mas não é qualquer lanche!
Quando falamos em lanches é preciso enfatizar que há diferentes tipos de alimentos consumidos nesses momentos, dos mais saudáveis ao que são considerados prejudiciais, como o que chamamos de fast food ou junk food, ou seja, alimentos de baixo valor nutricional, pobres em fibras e com quantidade substancial de sal, açúcares e gorduras adicionados.
Alguns exemplos:
- salgadinhos
- biscoitos
- bolos
- achocolatados
- sorvetes
- refrigerantes
- sucos adoçados
- produtos industrializados, congelados e prontos para consumo (como macarrão instantâneo, pizzas, hambúrgueres e nuggets)
- guloseimas de modo geral
Riscos e danos
O consumo desenfreado desse tipo de alimento pode provocar o ganho de peso, redução do apetite (pular refeições), além de vários problemas de saúde. Isso porque a ingestão de produtos assim está relacionada ao desenvolvimento de doenças cardíacas e fatores de risco para o coração, como hipertensão, colesterol elevado, diabetes (tipo 2) e obesidade, além de estarem ligados às inflamações sistêmicas do organismo.
Vale destacar que estudos realizados ao longo dos últimos anos apontam que boa parte dos junk foods contêm ingredientes que estimulam o desejo intenso, a vontade de comê-los compulsivamente e dificultam o controle de consumo, viciando o cérebro e o paladar.
Comer sem parar
Suponhamos que você acabou de fazer uma refeição e decidiu comer outra coisa pouco tempo depois, em cerca de uma ou duas horas. O que seu estômago faz? Termina de digerir os alimentos consumidos primeiro ou começa a fazer a digestão do que acabou de receber?
De modo geral, ele não consegue fazer as duas coisas corretamente ao mesmo tempo. A digestão é um processo e o estômago não pode estar em dois estágios simultaneamente. Portanto, nenhum desses lotes de alimentos será digerido de maneira adequada.
Assim, comer entre as refeições aumenta o tempo de esvaziamento do estômago, uma vez que ele vai tentar fazer duas tarefas ao mesmo tempo. Isso pode causar indigestão e azia.
Há risco de os efeitos também repercutirem no intestino e perturbarem as ações do cólon, levando à constipação, por exemplo. Esse comportamento, dependendo do quadro e do que é consumido, pode ser bastante estressante para o corpo.
Além disso, o pâncreas normalmente produz insulina quando há um pico nos níveis de glicose, o que geralmente ocorre depois de comer. Isso significa que quanto mais você come, mais picos de insulina poderá ter.
Quando há excesso de glicose no sangue, a insulina faz com que o corpo armazene esse açúcar na forma de glicogênio —que quando não utilizado se transforma em gordura. Entre as consequências estão o ganho de peso e, em alguns casos, o diabetes.
Esses lanches intermitentes podem ainda provocar respostas inflamatórias temporárias. Entretanto, se tal comportamento virar costume e ocorrer com frequência, é possível que o organismo entre em um estado quase constante de inflamação, o que causa um estresse desnecessário ao sistema imunológico.
O que então devemos comer entre refeições?
A ideia é priorizar alimentos in natura ou minimamente processados, que normalmente contém os nutrientes que o corpo precisa, sem a adição de conservantes e aditivos.
Se a vontade de comer não se tratar apenas de um desejo momentâneo e sim fome, aqueles compostos por um grande percentual de água, como folhas e frutas, e fibras são a melhor opção.
Cientistas da Harvard School of Public Health apresentaram uma lista com sugestões saudáveis para serem consumidas entre as principais refeições.
Entram nessa lista, as castanhas (de caju e do Pará, por exemplo), nozes e amêndoas, que graças ao seu teor de proteínas e fibras conseguem promover a saciedade, mesmo se ingeridas em porções pequenas.
Vegetais crus (palitos de cenoura, pepino ou tomate cereja), acompanhados de molho, como homus ou iogurte são outras opções saudáveis e saborosas.
As sugestões ainda incluem:
- frutas secas
- chocolate amargo (com pelo menos 60% de cacau)
- biscoitos integrais
- iogurtes desnatados
- sanduíches de pão integral, aqui vale, entretanto, atenção ao recheio. Dê preferência a queijos magros, tomate, alface (ou outra salada), cenoura, frango e atum
Vale ressaltar, entretanto, que qualquer alimento, por mais saudável que seja, quando consumido em excesso, pode trazer malefícios à saúde. Por isso, mesmo dentre essas opções é preciso sempre prestar atenção ao tamanho das porções.
Outras recomendações
Se você é uma pessoa que esquece ou adia a hora de comer por ter um cotidiano agitado, planejamento é fundamental. Primeiro, reserve espaço na agenda para as suas principais refeições —não ter tempo eventualmente não trará problemas, o que não pode ocorrer é pular ou trocar sempre um prato de comida por lanches rápidos.
Para quem mantém a rotina de café da manhã, almoço e jantar, é interessante definir horários de pausas ao longo do dia para comer entre essas refeições, especialmente se seu corpo aponta essa necessidade. Isso ajuda a evitar lanches contínuos.
Em dias em que você já sabe que vai ficar fora ou em um compromisso por mais de 4 ou 5 horas, procure ter por perto alimentos alternativos para evitar o risco de não conseguir encontrar nada no caminho ou não ter tempo de fazer uma pausa. Além disso, mantenha-se hidratado: a falta de água no organismo pode se disfarçar de fome.
E atenção aos sinais: sentir fome com frequência, mesmo garantindo uma boa alimentação, talvez seja sinal de algum distúrbio. Procure orientação de um profissional especializado para descobrir a origem do problema, que pode ser física ou emocional.
Não podemos nos esquecer ainda que é preciso considerar as caraterísticas e necessidades individuais de cada um, assim como ter em mente que há opiniões diversas sobre o tema —alguns especialistas recomendam comer de 3 a 5 horas, outros fazer apenas um lanche ao longo do dia e até aqueles que aconselham períodos mais longos de jejum.
Lembre-se, contudo, que é fundamental nutrir seu corpo quando estiver com fome, em vez de mastigar desnecessariamente calorias vazias que não saciarão de verdade.
O ponto é achar uma dieta balanceada, equilibrada e saudável que faça bem para o seu organismo. Entretanto, se permita eventualmente aqueles lanchinhos que você sabe serem menos nutritivos, mas adora.
Comer também é prazeroso e está relacionado ao nosso bem-estar.
Fonte: uol