Um grupo de judeus, por meio da organização StandWithUs Brasil, enviou uma carta aberta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à sociedade brasileira com suas preocupações em relação às consequências da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas para o Brasil. “Fale em alto e bom som que Hamas é um grupo terrorista”, pediram.
O é uma organização global que educa sobre Israel e combate o antissemitismo. Israel foi invadido pelo Hamas em 7 de outubro. O grupo terrorista fez um massacre de 1,2 mil mortos naquele dia, com brasileiros entre as vítimas.
E sequestrou outras cerca de 240 pessoas, inclusive estrangeiros de 40 nações. Michel Nisenbaum, brasileiro de cidadania israelense raptado pelo Hamas, ainda segue refém do grupo terrorista.
Lula fez diversas críticas a Israel desde que o país começou a se defender do ataque do Hamas. Em 13 de novembro, por exemplo, o presidente disse: “Nessa guerra, depois do ato de terrorismo provocado pelo , as consequências, a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi a do Hamas, porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério.” Em resposta ao presidente, os judeus brasileiros disseram que “doem as falsas equivalências”.
“Um povo que se defende não pode ser equiparado àqueles que querem massacrá-lo”, diz a carta. “E um Estado democrático que protege seu povo (a única democracia do Oriente Médio) não pode ser equiparado a um grupo terrorista que usa civis inocentes como escudos.”
No momento em que as manifestações antissemitas crescem no país, os judeus também lembraram que Lula prometeu combater as fake news o discurso de ódio contra as minorias em sua campanha durante as eleições de 2022.
Eles ainda pediram que o presidente preste homenagem aos brasileiros assassinados no massacre de 7 de outubro: Karla Stelzer, Bruna Valeanu e . E, ainda, Celeste Fishbein, filha e neta de brasileiras.
Confira a carta do StandWithUs Brasil para o presidente Lula na íntegra:
“Nós, judias e judeus brasileiros, junto a muitos não judeus que compartilham nossa dor, vimos por esta carta aberta expressar ao presidente da República e à sociedade nossa preocupação pelas consequências por aqui da guerra do Hamas contra Israel.
O massacre de 7 de outubro, há pouco mais de dois meses, foi a maior matança de judeus por serem judeus desde o Holocausto. Mais de 1.200 pessoas foram assassinadas a sangue frio num atentado terrorista macabro que incluiu estupros, corpos queimados ou mutilados, famílias inteiras mortas no próprio lar e mais de 200 crianças, idosos, mulheres e homens sequestrados. Quase todos e todas nós — uma comunidade formada por pouco mais de cem mil brasileiros que amam o país — conhecemos alguém por lá que foi morto, ferido, perdeu um familiar ou aguarda a liberação de um refém.
Israel tem o direito de se defender dessa barbárie, como o Brasil teria se o massacre tivesse sido aqui. Mas foi lá numa terra distante que sempre foi alvo de preconceito e desinformação. Desde o início desta guerra, assistimos a um aumento alarmante do antissemitismo, nas ruas e nas redes.
Falas até pouco impensáveis encontram agora livre vazão. Já vimos, inclusive, passeatas com bandeiras do Hamas no Brasil, que assiste a uma horrenda normalização do terrorismo e à banalização dos chamados a ferir e matar judeus. Entenda que tudo isso ameaça a segurança das nossas famílias — e de toda a sociedade.
Não é um caso especial: está acontecendo no mundo, e nós não queremos chegar à situação de outros países onde os judeus e judias precisam tirar as mezuzás das portas, andar na rua sem kipá e esconder a estrela de Davi pendurada no pescoço. Não queremos ter que pedir aos nossos filhos, aqui no Brasil, que troquem de roupa para não ser vistos na rua com o uniforme de uma escola judaica — e tem famílias que já estão passando por isso. É urgente que autoridades e políticos comecem a agir com determinação e fazer pedagogia social. Não aceitaremos viver sob o temor permanente de ser vítimas do ódio e da violência.
Presidente Lula, na última campanha, Vossa Excelência pregou o fim dos discursos de ódio, fake news e ataques às minorias, e prometeu trabalhar pela união dos brasileiros e brasileiras. É mais do que necessário. Acreditamos nestas suas falas e esperamos que honre o compromisso. Por isso mesmo, tem palavras que doem e silêncios ensurdecedores.
Doem as falsas equivalências: um povo que se defende não pode ser equiparado àqueles que querem massacrá-lo, e um Estado democrático que protege seu povo (a única democracia do Oriente Médio) não pode ser equiparado a um grupo terrorista que usa civis inocentes como escudos — um grupo fundamentalista religioso que instaurou uma ditadura militar em Gaza há mais de 15 anos e mantém sua população de refém, violando os direitos humanos, oprimindo as mulheres e perseguindo a população LGBT.
Doem as declarações que, por desconhecimento, reproduzem fake news e teorias conspiratórias sobre Israel, que alimentam o preconceito sobre os judeus e o sionismo — nome próprio do movimento nacional de autodeterminação do povo judeu. Ensurdece a ausência de vozes que repudiem o antissemitismo naqueles setores políticos e sociais onde ele se espalha perigosamente. Recentemente, o senhor recebeu a irmã e a filha do brasileiro Michel Nisenbaum, ainda refém do Hamas.
Foi um passo importante, mas a gravidade da situação exige muito mais. As falas, decisões e posturas públicas da máxima autoridade do país podem nos trazer segurança ou insegurança — e, se acertadas, podem educar, ajudando a construir uma sociedade pacífica e consciente dos males do antissemitismo.
A nossa dor, contudo, não nos leva ao distanciamento: queremos dialogar, conversar, ser ouvidos. Sabemos que Vossa Excelência é uma pessoa aberta, que sabe ouvir, e esperamos que compreenda o quanto seria importante, pela sua influência, que fale em alto e bom som que Hamas é um grupo terrorista — pelos fatos que todo o mundo viu, apesar da cegueira da ONU — e exija nos fóruns internacionais a liberação incondicional todos os reféns.
Que ouça o testemunho dos compatriotas que voltaram de Israel depois do massacre e que ainda não foram recebidos. Que preste homenagem aos brasileiros assassinados, Karla Stelzer, Bruna Valeanu e Ranani Glazer, e também Celeste Fishbein, filha e neta de brasileiras.
E, sobretudo, que se empenhe pessoalmente, como representante do povo brasileiro, na luta contra o preconceito que nos atinge também aqui, em casa, adotando oficialmente — como já fizeram, entre outros, Fernández, na Argentina; Biden, nos EUA; Macron, na França; Sánchez, na Espanha, e Merkel, na Alemanha — a definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) e liderando, aqui no Brasil, uma mudança social na compreensão de um problema tão antigo e infelizmente tão atual.”
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Fonte: revistaoeste