No entanto, pessoas ciumentas “por natureza” não costumam aceitar que sofram desse problema. É fácil focar no externo: “sinais” do parceiro, cultura que alimenta comportamentos de ciúme, advertências de amigos e familiares e assim por diante. Libertar-se do ciúme, portanto, não implica apenas lutar contra si mesmo.
Grande parte do problema está na falta de confiança, seja na própria pessoa ou nos outros. Portanto, para dominar o ciúme, é necessário rever profundamente os próprios valores e trabalhar os aspectos pessoais que permitem superá-los. Aqui você encontrará algumas dicas para iniciar esse caminho.
“Se o ciúme é sinal de amor, é como a febre no doente, que tê-la é sinal de ter vida, mas uma vida doente e mal disposta.”Miguel de Cervantes
Para que serve o ciúme?
O ciúme, como qualquer outra emoção, tem uma razão de ser. Na verdade, faz todo o sentido dentro da etologia humana, que é uma espécie gregária e forma fortes laços entre iguais. Nesse sentido, o ciúme surge quando se percebe a ameaça de que alguém que amamos nos abandona, quase sempre com a intenção de formar outro vínculo.
Com ciúme, portanto, o instinto nos leva a manter nossos entes queridos por perto. Dessa forma, nossos genes se perpetuam, pois aumenta a sobrevivência do grupo social ao qual pertencemos.
O problema de tudo isso é que o ciúme tem um componente de possessividade. E quando esse sentimento de que o outro nos pertence se torna o eixo central da relação, o ciúme se torna prejudicial. Embora o ciúme seja natural, ele não justifica um comportamento prejudicial à outra pessoa.
Perfil psicológico de uma pessoa ciumenta
Como é uma pessoa ciumenta, então? Onde está a linha entre a emoção natural e o ciúme prejudicial? Vejamos de forma simples:
- São frequentes as ideias de que o ente querido está sendo infiel em qualquer uma de suas formas.
- Apesar das evidências em contrário, os sentimentos de ciúme persistem e são encontrados detalhes que os perpetuam.
- Aparecem comportamentos controladores (checar o celular, criticar amigos em comum, proibições, etc.).
- Medos e angústias sobre a perda de entes queridos são frequentes.
- Há uma insegurança sobre o próprio valor que se projeta na forma de ciúme.
- Existem pensamentos distorcidos e vieses cognitivos que favorecem a ideia de que alguém está sendo traído.
O ciúme patológico
Saber medir até onde vão esses comportamentos é essencial para deixar de ser uma pessoa ciumenta. Às vezes basta refletir e mudar hábitos, mas em outras é necessária a intervenção de um profissional. É o caso do ciúme, ou ciúme patológico, que se identifica através dos seguintes sinais:
- No nível cognitivo: pensamentos irracionais que podem se tornar delírios, comparações constantes, emoções intensas de angústia, raiva, medo e nervosismo, estado de alerta permanente. Existe um medo excessivo de perder a outra pessoa e uma tendência bastante grande à impulsividade.
- No nível fisiológico: insônia, palpitações, desconforto gástrico e outros sintomas físicos de estresse e ansiedade.
- No nível comportamental: o comportamento se aproxima ou chega de fato à violência. Comportamentos de controle são comuns, como nunca deixar a outra pessoa sozinha ou proibi-la de interagir com outras pessoas. Isso também incluiria atos de violência física.
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Como deixar de ser uma pessoa ciumenta?
Poderíamos afirmar que não existe uma cura 100% eficaz para o ciúme, pois, como dito anteriormente, é uma emoção natural. Portanto, o trabalho pessoal é feito sobre o próprio comportamento e ideias. Lembre-se de que o apoio social é muito importante para deixar de ser uma pessoa ciumenta. No entanto, vamos ver outras ações que podem ser tomadas.
1. Aceite suas emoções
Esse é o primeiro passo, embora não seja mais fácil. Não se trata apenas de aceitar suas próprias emoções, mas de assumir a responsabilidade pelas ações prejudiciais que você cometeu por causa desse ciúme. Portanto, reserve um tempo para refletir e processar o que sente.
2. Para deixar de ser uma pessoa ciumenta, apoie-se nos outros
Cuidado, não se trata de sentir pena ou tirar o destaque das pessoas que sofrem com o seu ciúme, e sim abrir-se para os seus entes queridos, mostrar-se vulnerável e deixar claro que você deseja mudar e reparar suas ações. Essa também é uma etapa difícil, pois não é fácil mostrar suas fraquezas em meio a um conflito aberto.
Tente encontrar o momento certo e usar as palavras certas.
3. Ouça
Ouvir é o próximo passo para deixar de ser uma pessoa ciumenta. Os outros têm o direito de se expressar, e essa informação será muito útil para você mudar. Aceite suas palavras e suas emoções e inicie um diálogo construtivo e positivo.
Construir relacionamentos saudáveis é assunto de todos. Se o ciúme tomar conta, ninguém estará ao volante, nem você.
4. Trabalhe sua autoestima
Lembre-se de que parte do seu ciúme vem da sua insegurança e falta de autoestima. Portanto, uma das tarefas da sua pessoa deve ser fortalecer essa parte da sua identidade. Você é uma pessoa válida, suficiente e digna de amor, e ser abandonado não significa que você vale menos, e sim que às vezes as pessoas não são compatíveis.
5. Verifique seu sistema de crenças
O ciúme que toma conta de seus relacionamentos também tem a ver com a educação que você recebeu e a cultura em que vive. De modo geral, pode-se dizer que vivemos em uma sociedade onde as relações são concebidas como pertences. Portanto, a nível psicológico, é possível considerar que uma pessoa é “roubada”.
Um relacionamento saudável não compreende posses, mas limites e acordos. Se você é uma pessoa monogâmica e deseja um relacionamento próximo, é melhor encontrar alguém que trabalhe da mesma maneira. Dessa forma, não há infidelidades, mas quebra de acordos que levam ao fim do relacionamento, não a tentar manter alguém ao seu lado.
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Para deixar o ciúme de lado: procure um psicólogo
Por fim, vale ressaltar a utilidade de recorrer a um profissional de psicologia para ajudar você a eliminar o ciúme de seus relacionamentos. Nesses espaços seguros, o trabalho é feito em todos os níveis, do cognitivo ao comportamental, para lidar com o ciúme excessivo e prejudicial.
Em relação ao ciúme, podem aparecer transtornos como depressão ou ansiedade, ou estes podem ser o resultado de quadros clínicos, como um distúrbio de personalidade ou um vício.
Muitas vezes, quando uma pessoa decide mudar, ela já está imersa em conflitos com seus entes queridos, então é importante considerar fazer terapia de casal ou familiar para reconstruir essa felicidade. É possível sentir tudo o que há dentro de você sem perder a alegria de estar ao lado de quem você mais ama.
Os episódios de ciúme patológico são os que requerem mais atenção. Como adverte um estudo publicado na Psychiatry, a longo prazo, eles representam riscos perigosos para o sujeito, o parceiro e o rival real ou imaginário. Em certos contextos, o uso de medicamentos antipsicóticos e intervenções destinadas a melhorar a autoestima de ambos os parceiros são alternativas que podem ser consideradas.
Sobre o ciúme e como superá-lo
O ciúme é uma reação emocional normal, pelo menos quando você tem algum controle sobre ele e quando não ultrapassa a fronteira do irracional. Caso contrário, pode-se falar de ciúme patológico, delirante, irracional e assim por diante. Buscar apoio é a melhor coisa a se fazer, principalmente quando a emoção está atrapalhando diversos aspectos do dia a dia.
Fonte: amenteemaravilhosa