Em Mato Grosso, o valor do aluguel da terra não acompanhou a desvalorização da soja e pesa nos custos da nova safra.
Esse foi um dos temas do terceiro episódio do Programa Soja Brasil, que também falou de como a guerra entre Israel e palestina afeta o agronegócio, além de destacar as pragas e doenças que mais preocupam os produtores. Veja o programa na íntegra:
Arrendamento lá em cima
No município de Diamantino, onde aproximadamente 45% da área produtiva é composta por arrendamentos, o cenário é de preocupação, ameaçando a atuação de pequenos e médios produtores.
O produtor Fabricio Pereira Conci semeia em área própria, mas também arrenda 660 hectares junto com a família para o cultivo de soja e milho. O contrato vai até 2025, mas a procura aquecida e a valorização da terra na região o deixam apreensivo quanto à renovação do aluguel.
Ele conta que o custo da área arrendada é de cerca de 14 sacas de soja por hectare. “Tudo acompanhou a alta do grão, mas a soja baixou de preço e nada baixou junto, ou seja, está tudo lá em cima ainda. Quem tem área própria vai ter que concentrar a produtividade e quem depende do arrendamento vai ter que pagar o preço, porque não vai ser barato”.
Concorrência pela terra
O cenário também preocupa o agricultor Rafael Augusto Rodrigues. Ele arrenda 100% da área onde vai cultivar 4 mil hectares de soja.
“A gente precisa renegociar. Existe sim uma concorrência grande [pela terra], é um tema sensível, tanto em termos de custo quanto de segurança. O arrendamento não desce, ele só sobe ou se mantém [de preço]. No passado recente quando as produtividades começaram a subir e o milho começou a entrar com mais força, não só em nossa região, mas em várias regiões do estado e do Brasil, os arrendamentos subiram bem, mas era um cenário bom, com soja a 160 reais, de bons anos agrícolas. Só que quando essa soja cai, a nossa margem diminui, os riscos aumentam”.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Diamantino, Altemar Kroling, a valorização da terra nos últimos cinco anos elevou em mais de 50% o custo dos contratos de arrendamentos no município, que variam entre 13 e 20 sacas de soja por hectare.
“As commodities estão assim em um momento difícil, muito contrato de arrendamento vencendo, os proprietários com intenção de aumentar o valor de arrendamento e hoje não fecha a conta. Então a gente vê com preocupação quem tem que renovar os arrendamentos nesse período. É mais uma dificuldade que o produtor tem que atravessar e, infelizmente, todo ano está eliminando uma quantia de produtores. As commodities caíram, mas o valor dos arrendamentos não caíram. Eu acho que seria uma hora de procurar o dono da propriedade e tentar fechar em um contrato em porcentagem”.
Custo médio do arrendamento no estado
O custo médio do arrendamento por hectare de soja nesta safra 2023/24 gira em torno de R$ 341 por hectare, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O valor é 13% superior ao registrado na temporada passada, de R$ 301,41.
José Cazeta era arrendatário de uma área com 2.200 hectares agricultáveis no município. No entanto, para tentar garantir a segurança financeira, decidiu permanecer apenas com 860 hectares, onde cultiva soja e milho.
“A gente está plantando por causa do compromisso que a gente tem porque não pode deixar de plantar, quem paga arrendamento alto, no valor de 12, 13 sacas, vai precisar ter uma produção média bem alta para não ficar no vermelho”.
Fonte: canalrural