Nos 46 anos de Mato Grosso Sul, não dá para deixar de falar da rica e variada gastronomia cultivada aqui. O estado possui uma cultura versátil e plural, que mescla diversos povos, transformando a sua culinária em algo único e muito apetitoso.
Pratos como sobá, sopa paraguaia, caldo de piranha e saltenha, muitas vezes, são conhecidos apenas pelos sul-mato-grossenses, que fazem questão de manter a tradição, passando para as próximas gerações.
Sarravulho pantaneiro
A empresária Kelly Neiva é corumbaense e mora há 29 anos em Campo Grande. Ela aprendeu a fazer o Sarravulho, um dos pratos mais tradicionais de Corumbá, com a mãe ainda adolescente. Mesmo morando na capital de Mato Grosso do Sul, nunca deixou de lado um dos seus pratos favoritos.
“Aprendi a fazer com a minha mãe, que aprendeu com meu pai. Cozinho para matar a saudade das raízes que nunca deixei de lado, além de amar o sarravulho pantaneiro. Culinária igual à nossa não tem”, conta ao Primeira Página.
Ainda segundo ela, o prato traz ótimas lembranças da infância. O sarravulho leva diversos miúdos bovinos, como rim, coração, fígado e carne moída, e seu preparo não é rápido. Às vezes, acaba sendo finalizado no dia seguinte pelo capricho pantaneiro.
Quem é corumbaense, com certeza, se lembra de quando tinhas festas e aniversários, o prato principal sem dúvida era o sarravulho!
E é assim que Kelly se recorda do pai, que perdeu ainda criança.
“Esse prato tem um sabor de infância, me traz memórias afetivas ótimas. Antigamente, as pessoas passavam o dia inteiro picando os miúdos, o preparo em si já era uma festa. Lembro do meu pai, que era muito conhecido na cidade e sempre chamavam ele para fazer o sarravulho. Tinha festa, tinha casamento, chamavam Seu Baiano para cozinhar”, afirma.
Como forma de matar a saudade da cidade, ela cozinha pratos tradicionais, além do próprio sarravulho para aqueles que ainda não conhecem a gastronomia pantaneira ou para aqueles corumbaenses que moram em Campo Grande.
“É uma forma também de divulgar a cultura gastronômica da minha cidade. O campo-grandense às vezes torce o nariz quando a gente fala como é feito o prato. É forte, sim! Mas quando se experimenta não tem como não gostar”.
Chipa Paraguaia
Moradora de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, Walquiria Escobar é pedagoga e se considera “brasiguaia”. Segundo ela, na família, a chipa é um dos pratos típicos mais tradicionais. Por lá, na Semana Santa, a matriarca da família, com 109 anos, reúne toda a família para a produção.
“Temos muito orgulho de pertencer a um lugar, onde todos somos irmãos, independente do seu país. A nossa culinária e a nossa cultura são riquíssimas, quando não temos pão de manhã ou a chipa, costumamos fazer a tortilha para tomar com café”, conta.
Ainda segundo ela, para os netos, a chipa tem um toque especial. A massa é moldada e assada em forma de pombinhos, que somente os bisnetos comem. Tudo feito pela matriarca da família. Casada com japonês, Walquiria tem dois filhos, considerados “japaguaios”.
“Mesmo com a mistura das raças, temos muito orgulho de pertencer a um lugar, onde todos somos irmãos, independente do seu país”, pontua ao PP.
E não é só a chipa o destaque na mesa da família. Por lá, os pratos variam. O Guazu, por exemplo, é um prato regional feito de milho-verde e a sopa paraguaia é saboreada aos domingos.
Além disso, no inverno cada um se esquenta como consegue. Na casa da brasiguaia, não pode faltar o Cocido, chá do Paraguai, acompanhado de biju, para aquecer.
Fonte: primeirapagina