Imagine que você sonhou com a próxima grande sinfonia, mas ao acordar, esqueceu completamente como era a melodia da música. Bom, seus problemas acabaram. Ou… quase isso.
Um estudo conduzido por uma equipe da REMSpace – uma empresa especializada em estudos sobre os sonhos – conseguiu com que padrões rítmicos emitidos em sonhos fossem identificados por máquinas aqui no mundo real. Não é uma música inteira, mas é um começo.
O experimento, liderado pelo pesquisador Michael Raduga e publicado no periódico científico especializado Dreaming – nome sugestivo do tema da revista –, usou como voluntários pessoas capazes de induzir sonhos lúcidos em si próprias.
Sonhos lúcidos são aqueles em que você fica consciente de suas ações sem acordar – e pode fazer o que quiser no mundo imaginário. A expressão foi cunhada pelo psiquiatra holandês Frederik van Eeden, em 1913.
Mas o fenômeno só começou a ganhar a atenção da ciência no começo dos anos 1980, quando o psicólogo alemão Paul Tholey definiu as três condições que definem um sonho lúcido: ter a consciência de estar sonhando, poder tomar decisões nele e conseguir memorizar o que aconteceu.
Desde os anos 1970, pesquisadores vêm tentando descobrir uma forma de enviar sinais para o mundo real durante esses momentos peculiares do sono.
No teste publicada nesta semana, o pessoal da REMSpace escolheu quatro voluntários com experiências anteriores com sonhos lúcidos (acessá-los de propósito é possível, mas exige prática), e pediram para que eles treinassem tocar, com as mãos, o ritmo simples de “We Will Rock You” do Queen enquanto estivessem acordados.
Depois, os pesquisadores solicitaram para que os participantes entrassem em um sonho lúcido, e reproduzissem o mesmo movimento com as mãos enquanto sonhavam.
Como o sono é um momento de repouso muscular, os movimentos do corpo são bem escassos. Dessa forma, os pesquisadores tiveram que encontrar uma forma de detectar os movimentos realizados pelos participantes-bateristas no mundo dos sonhos, por menor que eles fossem. Assim, eles instalaram sensores de eletromiografia nos participantes, que é uma técnica para detectar impulsos elétricos passando por nossas células musculares.
Os sinais foram então enviados para um programa de computador, que conseguiu identificar o ritmo da canção nos impulsos elétricos enviados pelo cérebro aos braços. Após algumas gravações, os pesquisadores conseguiram detectar algo claramente reconhecível como o hit do Queen nos exames de três dos quatro participantes.
Os pesquisadores acreditam que, conforme aperfeiçoarem a técnica, será possível treinar pessoas para tocar padrões rítmicos cada vez mais complexas.
E caso você esteja preocupado de que a transferência de músicas para o mundo real seja o primeiro passo para ladrões de sonhos do filme A Origem, não se preocupe.
Estudos já estimaram que pelo menos metade da população no mundo nunca teve uma experiência de sonho lúcido na vida. Induzi-los de propósito, então, é mais difícil ainda. Ainda serão precisas algumas décadas de neurociência antes da possibilidade de invadir o cérebro alheio sem bater na porta se tornar um medo plausível.
Fonte: abril