O governo da Argentina está se preparando para criar mais uma taxa de câmbio entre o peso e o dólar, na tentativa de aumentar as exportações e tentar obter divisa forte.
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Além disso, a Argentina vai criar um novo imposto sobre as exportações agrícolas, aumentando também as barreiras alfandegárias sobre as importações.
As medidas tributárias e cambiais fazem parte de um acordo entre a Argentina e Fundo Monetário Internacional (FMI) para liberar parcelas atrasadas de um programa de empréstimos de US$ 44 bilhões.
Os produtores de milho e outras culturas vão poder exportar com uma taxa de câmbio de 340 pesos por dólar, contra a taxa oficial de 268 pesos.
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As autoridades fiscais também imporão um novo imposto de 25% sobre a importação de serviços e outro de 7,5% sobre a importação de mercadorias.
Os representantes do agronegócio e da indústria reclamaram das medidas, ao salientar o risco de distorção dos mercados, que aumentam os custos de produção.
Argentina deu mais um calote no FMI
A Argentina e o FMI estão negociando há três meses, após o fracasso do país vizinho em respeitar os termos do acordo de reestruturação da dívida.
A Argentina se beneficiou de um resgate recorde em 2018 pelo Fundo Monetário Internacional, mas no mês passado atrasou um desembolso de uma parcela de US$ 4 bilhões.
As reservas cambiais líquidas argentinas estão negativas, e o déficit fiscal está fora de controle. Buenos Aires atribui essa situação à grave seca, que reduziu as exportações de produtos agrícolas em cerca de US$ 20 bilhões neste ano.
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Sem recursos, o país poderá dar outro calote de cerca de US$ 3,4 bilhões sobre títulos da dívida que vencerão no dia 1º de agosto.
Muitos analistas já manifestaram ceticismo sobre a capacidade da Argentina de reembolsar esses empréstimos.
O ajuste no câmbio e o aumento da carga tributária são medidas ainda distantes da amplas mudanças macroeconômicas necessárias para colocar novamente a economia argentina nos trilhos.
O próprio FMI criticou as inúmeras taxas de câmbio criadas pelo governo argentino em busca no longo prazo. Em seu relatório sobre a economia global publicado na semana passada, o FMI disse que esses câmbios diferentes “introduziram distorções que desencorajam o comércio e o investimento estrangeiro”.
Desestabilização econômica ocorre antes da eleição
A desestabilização da já frágil economia argentina ocorre poucas semanas antes das eleições presidenciais de outubro.
No domingo 23, o FMI e a Argentina divulgaram um comunicado conjunto em que salientaram ter alcançado um acordo sobre “os objetivos e os parâmetros centrais” para “consolidar a ordem fiscal e fortalecer as reservas”, antes de uma revisão do programa de apoio ao país.
O acordo deveria ser finalizado na quarta ou na quinta-feira.
O ministro da Economia, Sergio Massa, declarou que está se preparando para liberar “um pacote muito grande de desembolsos em agosto e outro adicional em novembro”. Entretanto, o político se recusou a fornecer números exatos.
O peso já se desvalorizou em mais de 30% em relação ao dólar somente neste ano no mercado de câmbio paralelo, em que é negociado a cerca de metade da taxa oficial.
Massa tem resistido à opção de desvalorizar a taxa oficial do peso, pois isso poderia gerar um ulterior aumento da inflação, hoje em mais de 115% ao ano.
Isso teria um custo eleitoral elevado, e especialmente entre as classes menos abastadas da população argentina.
Entretanto, essa resistência de Massa gerou insatisfação do FMI. A nova taxa de câmbio e os impostos sobre a exportação parecem ser uma tentativa da Argentina de acomodar as demandas do Fundo.
Fonte: revistaoeste