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Em janeiro de 2018, 14 ovos foram encontrados no recinto do crocodilo-americano (Crocodylus acutus) no Parque Reptilandia, um zoolĂłgico na Costa Rica. NĂŁo seria nada de mais, nĂŁo fosse um detalhe: sĂł havia um animal lĂĄ dentro.
A fĂȘmea de 18 anos era mantida isolada de qualquer outro crocodilo desde 2002, quando chegou ao parque. Expondo-os contra a luz, sete dos ovos pareciam ter algo dentro. Fetos.Â
Isso nĂŁo Ă© algo propriamente inĂ©dito na natureza. Trata-se da partenogĂȘnese, capacidade de uma fĂȘmea se reproduzir assexuadamente, sem a necessidade de um macho. Casos de embriĂ”es que se desenvolvem de Ăłvulos nĂŁo fecundados jĂĄ foram observados em lagostas, cobras, lagartos e atĂ© perus, mas sĂŁo uma novidade para crocodilos.
Depois de examinarem os ovos, a equipe do parque contatou um grupo de pesquisadores para saber como proceder com a descoberta inesperada. Os cientistas sugeriram que eles incubassem os ovos, como se tivessem sido fecundados normalmente.
Acabou que nenhum deles eclodiu. Sendo assim, a equipe decidiu abri-los e analizar seu conteĂșdo. Seis dos ovos continham um material irreconhecĂvel, provavelmente uma mistura de gema e cĂ©lulas nĂŁo desenvolvidas. Um Ășnico ovo, no entanto, abrigava um feto de crocodilo-americano completamente formado, mas sem vida.
A anĂĄlise genĂ©tica feita a partir dos tecidos do coração do feto e da pele da mĂŁe revelou uma correspondĂȘncia de DNA de 99,9% â confirmando a hipĂłtese dos pesquisadores de que nĂŁo houve um pai envolvido na concepção: esse foi um caso de reprodução assexuada.Â

A bebĂȘ crocodilo nĂŁo era, tecnicamente, um clone. Segundo os pesquisadores, nos casos conhecidos de partenogĂȘnese em vertebrados, o embriĂŁo se forma a partir da fusĂŁo do Ăłvulo com um de seus prĂłprios subprodutos, o segundo corpo polar.Â
De maneira simplificada: um gameta como o Ăłvulo tem sĂł metade do material genĂ©tico de um ser vivo (trata-se de uma cĂ©lula haploide). Para isso, ele precisa se dividir e jogar fora a outra metade. A cĂ©lula que fica com essa metade ârestoâ Ă© o corpo polar. Se um Ăłvulo acidentalmente se fundir de volta com um corpo polar, ele volta a possuir um genoma completo, diploide.
Outro detalhe importante Ă© que havia a possibilidade do bebĂȘ ter sido um macho. Nos crocodilos, o sexo Ă© puramente determinado pelas temperaturas externas durante a incubação â o fato dela sĂł ter DNA da mĂŁe nĂŁo significa nada.
âEmbora seja decepcionante que o crocodilo nĂŁo tenha eclodido, nĂŁo Ă© incomum ver fetos inviĂĄveis e anormalidades de desenvolvimento dentro de ninhadas de partenogĂȘnicos, alĂ©m de falha de crescimento de longo prazo, mesmo para indivĂduos nascidos aparentemente saudĂĄveisâ, escrevem os pesquisadores em seu artigo, publicado na Biology Letters, em que descrevem o caso. Apesar da mĂĄ sorte, muitos descendentes partenogĂȘnicos em outras espĂ©cies vivem atĂ© a idade adulta e conseguem, inclusive, se reproduzir sexualmente.
O motivo de algumas fĂȘmeas de rĂ©pteis, peixes e anfĂbios se reproduzem assexuadamente Ă s vezes ainda Ă© desconhecido. NĂŁo Ă© necessariamente a falta de machos, jĂĄ que ela pode ocorrer mesmo quando hĂĄ parceiros Ă disposição. Para os pesquisadores, sĂŁo necessĂĄrias mais pesquisas para entender se essa opção tem benefĂcios evolutivos ou Ă© sĂł acidental, e observar mais casos desse fenĂŽmeno em crocodilos.
Fonte: abril