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Trancar pessoas em casa durante a pandemia: medidas eficazes ou não? Entenda as respostas.

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Números são números – embora obviamente possam ser contestados, como em qualquer estudo científico.

Vejamos o que diz um amplo estudo, feito em cima de dados da Europa e dos Estados Unidos, sobre a eficiência dos métodos mais usados durante a pandemia. São surpreendentes. Um resumo:

1. Manter em casa as pessoas que não exerciam atividades essenciais reduziu a mortalidade por covid em 1,4% na Europa e 4,1% nos Estados Unidos.

2. O fechamento de atividades comerciais não essenciais produziu uma redução de 7,5%.

3. A proibição de agrupamentos (mais de três, quatro, seis ou dez pessoas, dependendo do país e do tipo de atividade) reduziu a mortalidade por Covid em quase 6%.

4. O uso de máscaras, que os países estudados decretaram na maioria em meados de 2020, reduziu a mortalidade em 18,7%, principalmente nos ambientes de trabalho.

5. O fechamento das escolas causou uma redução de letalidade calculada entre 2,5% e 6,2%.

No auge da epidemia, a redução de mortalidade foi de 10,7% – muito menos do que sustentaram na época os autores dos modelos mais alarmistas. Um dos mais conhecidos, do Imperial College de Londres, estimava em 400 mil o número de vítimas excedentes que haveria sem o lockdown. A mesma instituição afirmou que o lockdown evitou 3,1 milhão de mortes em onze países.

“Este é o primeiro estudo que faz uma avaliação geral das pesquisas sobre a eficiência das restrições obrigatórias em matéria de mortalidade”, disse um de seus autores, o professor de economia sueco Lars Jonung.

O trabalho abrangeu 19 646 estudos considerados potencialmente válidos. Ou seja, é um metaestudo. Seus outros autores são Steve Hanke, da Universidade John Hopkins, e Jonas Herby, assessor especial do Centro de Estudos Políticos de Copenhague.

Traduzindo em vidas humanas, o valor mais importante, as conclusões dos economistas significam que o lockdown evitou entre 6 mil e 23 mil mortes por Covid na Europa e entre 4 mil e 16 mil nos Estados Unidos. Especificamente, na Inglaterra e no País de Gales – onde as estatísticas são conjuntas – foram evitadas de 1,7 mil a 6 mil mortes. Na linguagem fria da ciência, os autores fazem uma comparação: nesses dois países, a gripe comum mata 20 mil pessoas em média por ano, na maioria idosos.

Os autores do estudo, que têm o ponto de vista de economistas liberais, consideram que os resultados negativos do lockdown, que ainda estão se desdobrando, pesam contra a restrição. Escreveram Herby e Jonung no Telegraph: “Um exemplo notável pode ser visto nas medidas de apoio do governo destinadas a incentivar a demanda agregada. Estas medidas provocaram um aumento na quantidade de dinheiro detida pelo público, o que posteriormente causou aumentos recordes de inflação em muitos países”.

“O fechamento das escolas aumentou a diferença de desempenho e provavelmente impactará as crianças mais vulneráveis durante muitos anos. O inesperado aumento de mortes não causadas pelo Covid em certos países nos lembra de forma impactante que os lockdowns podem ter provocado efeitos deletérios de longo prazo sobre a saúde pública”.

As consequências sobre o aprendizado dos estudantes mais jovens têm sido apontadas como responsáveis pela queda nos índices do PIRLS, um método internacional que avalia a capacidade de leitura em 57 países – 14 dos quais tiveram que adiar a participação por causa da Covid.

As dez melhores classificações foram nos seguintes países: Singapura, Hong Kong, Rússia, Inglaterra, Bulgária, Suécia, Finlândia, Austrália, Polônia e Nova Zelândia (o Brasil ficou no angustiante lugar número 35, salvo da rabeira por Macedônia do Norte, Azerbaijão, Egito, Jordânia, África do Sul, Irã, Uzbequistão e Kosovo).

A divulgação do estudo, sob forma de livro de 220 páginas, coincide com uma série de reportagens do Telegraph mostrando como o governo de Boris Johnson montou uma rede de “monitoramento” – uma forma de censura nas redes sociais – sobre vozes dissidentes a respeito do lockdown, incluindo cientistas respeitados e até de uma mãe de família que se manifestava pela reabertura das escolas.

O grupo de trabalho chamado Fórum de Políticas para a Contra-desinformação, incluindo acadêmicos e agências de checagem, notórias por fazer o oposto de sua missão, se abrigava inocentemente no Departamento de Cultura, Mídia e Esporte e agia em conjunto com Google, Facebook, Twitter e a BBC. Obviamente, todos achavam que estavam fazendo o bem.

Atenção: isso aconteceu num governo nominalmente conservador, que deveria ser o mais identificado com as liberdades clássicas gestadas justamente na Grã-Bretanha, o que exemplifica os riscos de interferência indevida e perigosa sobre a livre manifestação de pensamento.

Os autores do novo estudo sobre o lockdown obviamente são de tendência econômica liberal e expressam preferência pelo método usado na Suécia, onde só as universidades fecharam para dar aulas online e a população foi aconselhada, não mandatoriamente intimada, a tomar medidas de precaução, com opção aos comerciantes de fechar as portas ou não. Os bares e restaurantes abertos da Suécia viraram um símbolo de manejo “leve” da pandemia – obviamente, um método que só poderia ter funcionado em países com o mesmo padrão de educação, coesão social e espírito cívico.

“Medidas voluntárias, como o distanciamento social e a redução de contatos pessoa a pessoa, efetivamente reduziram a mortalidade por Covid na Suécia, um país que não impôs restrições legais draconianas. Isso se coaduna com a evidência recolhida no começo da pandemia de que as ações voluntárias começaram a reduzir a transmissão antes do lockdown”, diz o estudo.

Resumem os autores sobre os efeitos deletérios do lockdown: crescimento econômico interrompido, grande aumento da dívida pública, desigualdade crescente, prejuízos à saúde e educação das crianças, qualidade de vida relacionada à saúde reduzida, prejuízos à saúde mental, aumento de crimes e ameaças à democracia e à liberdade.

“As vidas salvas foram uma gota d’água comparadas aos impressionantes custos colaterais”, defendeu, controvertidamente, o professor Steve Hanks.

“A pesquisa conclui que, exceto se surgirem evidências alternativas, os lockdowns devem ser rejeitados para controlar futuras epidemias”.

É claro que muitos especialistas que defenderam os lockdowns estão correndo para apresentar “evidências alternativas”. É assim que aprenderemos mais sobre a traumatizante experiência mundial pela qual ainda estamos pagando um preço alto, sendo talvez o pior de todos a educação interrompida das crianças, em especial as de famílias mais pobres.

Fonte: Veja

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