De tempos em tempos a indústria de games se depara com uma nova mina de ouro, promessas de dinheiro relativamente fácil e em que muitas editoras/desenvolvedoras acreditam. Basta alguma ideia fazer muito sucesso para que outros queiram seguir seus passos e foi isso o que aconteceu com a PlatinumGames e o seu Babylon’s Fall.
Querendo aproveitar a febre dos jogos como serviço (GaaS) que tomou a mídia, o estúdio fundado por Shinji Mikami, Hideki Kamiya, Atsushi Inaba e Tatsuya Minami achou que seria uma boa apostar em algo parecido e para tornar o projeto realidade, eles contariam com o aporte financeiro da Square Enix.
Considerando o ótimo portfólio da PlatinumGames e o fato de que dinheiro não deveria ser um problema, muitos ficaram empolgados quando o Babylon’s Fall foi anunciado na E3 de 2018. A ideia de uma espécie de Nier: Automata com uma mecânica de combate melhorada e com multiplayer parecia ótima, com o jogo tendo um enorme potencial para conquistar muitos admiradores.
Eis que três anos depois, também durante a E3, o estúdio revelou que o projeto funcionaria como um GaaS e os primeiros sinais de alerta foram acionados. Embora alguns títulos assim tenham se tornado uma grande fonte de renda para seus criadores, vários outros tiveram uma morte prematura simplesmente por não conseguirem atrair um número suficiente de jogadores e começamos a nos perguntar se o mesmo poderia acontecer com o Babylon’s Fall.
Bom, em março de 2022 finalmente vimos o lançamento do ambicioso projeto da PlatinumGames e o resultado não poderia ter sido pior. Com uma média baixíssima no Metacritic, o título se tornou um dos piores lançamentos do ano, com ele chegando a registrar apenas uma pessoa jogando no Steam no dia 4 de maio, apenas dois meses após o lançamento.
Vendido pelo preço cheio e contando com elementos típicos de jogos free-to-play, não demorou a circular especulações sobre o término do jogo ou pelo menos uma mudança no seu modelo de distribuição. Porém, o estúdio garantiu não haver planos para reduzir a escala de desenvolvimento, chegando inclusive a afirmar que novos conteúdos estavam sendo produzidos e que o feedback dos usuários estava sendo levado em consideração para tornar o jogo melhor.
A declaração pode ter servido para tranquilizar quem estava aproveitando o Babylon’s Fall, mas a calmaria infelizmente não duraria muito. Numa postura que nem podemos considerar surpreendente, a PlatinumGames anunciou que o seu GaaS já tem data para morrer e isso acontecerá em 27 de fevereiro de 2023, poucos dias antes do título completar um ano.
Com isso, todas atualizações que estavam planejadas foram suspensas e o jogo deixará de ser vendido a partir de hoje (13). Contudo, para “expressar gratidão” aos jogadores, a segunda temporada será realizada até 29 de novembro, com a final começando logo a seguir. Além disso, diversos eventos serão realizados até o fatídico dia em que os servidores serão desligados.
O fim de um jogo estritamente online é sempre um evento muito triste, pois isso significa que, ao menos de maneira oficial, ele nunca mais poderá ser experimentado. E para aqueles que investiram tempo e dinheiro no Babylon’s Fall, saber que ele desaparecerá em tão pouco tempo deve ser uma sensação terrível.
O que me incomoda é ver o estúdio falando em trazer uma ou outra novidade para os próximos meses quando, na verdade, essa “gratidão” poderia ser expressa de muitas outras formas. Num mundo ideal, todos aqueles que se sentiram traídos deveriam receber o dinheiro pago no jogo, pois tenho certeza de que ninguém o comprou pensando em jogar por apenas um ano.
Além disso, a Square Enix poderia tentar alavancar o interesse do público tornando o Babylon’s Fall um jogo gratuito, para aí, sim, tentar faturar com microtransações. Essa mudança já foi vista em diversos MMOs e para muitos deles significou uma sobrevida de vários anos. Mas será que isso seria o suficiente para salvar o jogo?
Com problemas que vão desde o visual até o ritmo como a aventura se desenrola, passando ainda pela fraca história e uma avalanche de bugs, a criação da PlatinumGames precisaria ser profundamente modificada para justificar sua existência. E com a Square Enix apontando seus holofotes para outra das febres que prometem tomar a indústria, essa é uma briga que a editora aparentemente não estaria disposta a comprar.
Mas apesar de entender que tal decisão cabe unicamente à empresa, gostaria muito de ver se os competentes profissionais do estúdio de Shinji Mikami seriam capazes de consertar o desastre que se mostrou o Babylon’s Fall. Nos últimos anos vimos isso acontecer com alguns projetos que nasceram repletos de problemas e por isso acredito que com tempo e dinheiro, esse GaaS poderia ter algum sucesso.
Porém, agora a possibilidade de um dia o jogo retornar ficará nas mãos dos fãs, com eles nos oferecendo servidores alternativos, como aconteceu com o Need for Speed World ou o Warhammer Online: Age of Reckoning. A diferença aqui é que esses jogos contavam com uma razoável base de fãs, logo, será que alguém terá interesse em dar uma nova chance a algo tão criticado quanto a criação da PlatinumGames?