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Ciência & Saúde

Dinossauros experimentaram outras perspectivas de animais em seu mundo

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Bebês humanos, até os dois anos de idade, não conseguem imaginar como é ver o mundo pelos olhos de outra pessoa. Eles podem, por exemplo, se esconder atrás de uma cortina e pensar que estão fora da vista dos adultos, ainda que seus pés continuem aparecendo por baixo do tecido. Só depois os baixinhos se dão conta de que sua perspectiva não é parâmetro para a perspectiva alheia.

Há um grupo seleto de animais cabeçudos que também desenvolvem essa habilidade: chimpanzés, golfinhos e outros exemplos bem conhecidos de inteligência não humana. Como eles não costumam brincar de esconde-esconde, existe um experimento engenhoso para descobrir quais bichinhos são capazes ou não de se imaginar nos sapatos de terceiros.

Tal experimento tem um ponto de partida mais simples. Uma característica comum, dentre seres vivos com olhos, é o reflexo de olhar na mesma direção em que seus pares estão olhando. Se você está andando na rua com alguém e sua companhia vira a cabeça repentinamente, você vira junto para espiar o que atraiu a atenção. Até um crocodilo, que não exala essa genialidade toda, faz isso em resposta a outros crocodilos.

Agora, imagine que você está na calçada e alguém na janela do primeiro andar de um prédio vira para olhar algo. É provável que você não consiga ver o mesmo que a outra pessoa está vendo, por causa do ponto de vista diferente. Então, você se move para um lugar mais adequado para tentar reproduzir aquele ângulo (vale subir em uma mureta, por exemplo, ou tentar encontrar um ponto da calçada em que a visão do outro lado da rua não está obstruída por um prédio).

Essa segunda situação tem um grau extra de complexidade. O crocodilo, por exemplo, não a entende: ele não se move de modo a assumir o ponto de vista de outro crocodilo. E é assim que funcionam os experimentos. Eles criam uma situação artificial em que um animal vê outro olhar alguma coisa, e precisa deslocar se quiser ver o mesmo.

Um grupo de biólogos da Universidade de Lund fez esse teste com aves da famílias dos gigantescos emus, bichões australianos parecidos com os avestruzes que estão entre os descendentes mais próximos dos dinossauros vivos hoje (toda ave é um dinossauro, do ponto de vista filogenético). E descobriu que, ao contrário dos crocodilos, eles passam na prova: sabem que precisam andar do ponto A ao ponto B quando sua visão está obstruída. O artigo científico está disponível no periódico Science Advances.

Os biólogos já sabem há um tempão que as aves podem ser muito sofisticadas na seara cognitivo: os corvos têm algo que se denomina teoria da mente, o que significa que eles são capazes de atribuir intenções a outros seres vivos. Isso está um passo além de simplesmente assumir seus pontos de vista. Mas essa poderia ser uma habilidade que evoluiu recentemente, apenas em algumas espécies. 

Por outro lado, o fato de que uma ave tão próxima dos dinossauros extintos exibe uma habilidade cognitiva similar a de mamíferos complexos mostra algo além: que, muito provavelmente, T. Rex e seus amigos já tinham essa mesma capacidade, e que ela evoluiu na linhagem dos dinossauros depois que ela se separou da linhagem dos crocodilos, há mais de 200 milhões de anos. 

“Crocodilos são modelos ideais para estudar as origens evolutivas das capacidades cognitivas dos pássaros”, diz em comunicado à imprensa Stephen Reber, um dos autores do estudo. “As características que eles compartilham provavelmente existiam no ancestral comum de dinossauros e crocodilos. Por outro lado, se os crocodilos não têm uma habilidade que os pássaros possuem, é provável que ela tenha evoluído na linhagem dos dinossauros após a divisão. Isso nos permite estudar a cognição de espécies extintas.”

Fonte: abril

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