Quando convidei o Marcelo Facini para escrever uma matéria sobre Dieta à Base de Plantas ou Plant-based eu tinha um bom motivo.
Antes de mais nada vamos esclarecer: A palavra “dieta” tem origem no latim diaeta, que vem do grego “díaita”, que significa “modo de vida“.
Ou seja, a palavra dieta, que hoje parece sinônimo de sacrifício, distanciou-se bastante do seu sentido original.
E é exatamente por causa desse Modo de Vida, que eu chamei o Marcelo, para escrever sobre Dieta à Base de Plantas ou Plant-based.
Nos conhecemos de longa data, um dia ele me chamou no inbox do Facebook e me convidou pra um jantar na sua casa.
Jantar com vários pratos que organizava para pequenos grupos.
Nos demos bem logo de cara. Aquelas coisas inexplicáveis da vida!
Ele me apresentou uma caixa grande de temperos de várias partes do mundo, prontos para entrar nas suas criações.
Serviu um longo menu degustação, sem proteína animal, sem glúten e sem lactose.
Pratos muito diferentes entre si e bastante saborosos.
O almoço hoje foi no @zakaimorginal para provar as artes do chef @kleinniv e só posso dizer uma palavra: sensacional!
O Marcelo foi a primeira pessoa que conheci que era intolerante a glúten e lactose.
Descobri o quanto essas intolerâncias podiam prejudicar seriamente a vida de uma pessoa.
Então propus que começasse a escrever uma coluna de Gastronomia Funcional no Cuecas na Cozinha.
Foi assim que há muito tempo começamos a escrevê-la (agosto de 2012).
Não por moda, mas para ajudar as pessoas que se descobriam intolerantes.
Propusemos tantas opções para a substituição de ingredientes e elaboração de receitas.
Depois virou moda, todo mundo achando que os problemas do universo eram o glúten e a lactose.
Agora chegou a vez da Dieta à Base de Plantas ou Plant-based, um rótulo novo para vender melhor um conceito antigo que é o veganismo.
Lógico que, mais uma vez, convidei o Facini para escrever sobre esse assunto do momento.
Meu bom motivo?
Esse é o seu Modo de Vida desde que nos conhecemos.
Acompanhei de perto o quanto ele estudou para que várias pessoas hoje pudessem escolher esse modo de vida.
Sem prejudicar a saúde e sem viver de uma alimentação monótona.
Ele nos prova em seu Instagram a cada dia, que existe um mundo de ingredientes e preparos esperando para serem utilizados.
Basta estarmos abertos a novas descobertas.
Mesmo que você consuma carne, nada impede que conheça a riqueza e variedade de alimentos que são plantados e amplie sua dieta.
Experiência incrível no @soul_tavern em Miami. Este gastropub foi fundado pelo Dr. Jason Gordon atuando mais de 20 anos na área da medicina Chinesa, medicina fitoterápica, yoga, meditação e acupuntura.
Mas o que é a Dieta à Base de Plantas ou Plant-based ?
Se baseia em alimentos de origem vegetal: frutas, cereais, cogumelos, grãos, legumes, oleaginosas, sementes, tubérculos e verduras, preferencialmente orgânicos.
Nada de alimentos de origem animal: carne, ovo, mel, leite e derivados.
Nada de produtos industriais processados e recheados de aditivos químicos.
É uma das tendências gastronômicas mundiais.
Assim como a do consumo consciente, da valorização do pequeno produtor e dos ingredientes locais.
E também da biodiversidade, da preservação dos recursos naturais, da extinção de agrotóxicos nocivos, para citar algumas.
Há um batalhão de gente estudando e trabalhando no assunto.
Inclusive vários chefs de todo o planeta.
Alguns restaurantes tem seus cardápios totalmente Plant-based, outros já colocam várias opções para escolha no menu.
Receita do chef Marcelo Facini – Simples assim: cebola, alho, tomate, pimentão amarelo, pimenta verde, páprica, cominho, meu Nutritional Yeast – Chicken-free (Puravida) ou sal e muita salsinha. Cozinhei tudo e depois coloquei um pé de couve-flor triturada crua e só abafei por alguns segundos (crua é melhor nutricionalmente falando) e polvilhei sementes de abóbora.
A Dieta da Alface
por Marcelo Facini
Quando falo que minha alimentação é à base de plantas logo me perguntam com tom sarcástico como eu posso viver só comendo alface!
Primeiramente antes de responder a esta pergunta gostaria de colocar que viver à base de plantas foi a melhor escolha que fiz em minha vida!
E nem sempre foi assim.
Um dia eu já comi carnes, ovos, leite e derivados e achava “normal”.
Não fazia aquela conexão que aquilo no meu prato era um pedaço de um animal, conexão esta que é inevitável quando fazemos esta transição.
Muitos escolhem este novo estilo de vida por motivos diferentes:
Alguns pela questão animal, outros pela questão de sustentabilidade do planeta.
Outros porque esta alimentação melhora o desempenho atlético, alguns por questões de saúde e ainda outros por que… Porque é moda.
No meu caso foi por motivo de saúde e causa animal.
Após intensas pesquisas, estudos em artigos científicos e consulta com grandes nomes da medicina não tive qualquer dúvida:
A alimentação à base de plantas era a melhor alimentação que o ser humano poderia ter.
Com tanto material sobre sustentabilidade, efeito estufa, falta de água e tudo o que tem ocorrido com o nosso planeta, vi que a alimentação à base de plantas é a melhor e mais viável solução.
E, como busco a excelência e o melhor para minha vida e para minha família, não tinha mais razão para esperar.
Fui mudando os poucos.
A retirada de leite, derivados e ovos foi obrigatória, pois meu grau de alergia era imenso.
Ou retirava estes itens ou viveria com enxaquecas, enjôos, diarréias e gripes contínuas.
Então, não tive opção e só fiquei com peixe no início.
As outras carnes eu retirei de uma hora para a outra.
Ver documentários sobre estes assuntos tem um impacto profundo neste sentido.
Mas mesmo só com o peixe, com o tempo, comecei a sentir um cheiro e sabor que não me agradavam mais.
Tentei diversos peixes em diferentes restaurantes, mas nenhum já me apetecia, pelo contrário, não era nada agradável.
Cerca de 160 km de Tel-Aviv existe um vilarejo vegetariano em Amirim. Todos os moradores são veganos ou vegetarianos. Existem alguns restaurantes, padaria, café e um mini mercado. Esse prato é do restaurante El Galil – a comida estava muito boa, com um leve toque árabe de especiarias.
E não era porque pensava no peixinho sofrendo sem ar, se debatendo… Nem pensava nisto.
Era sabor e aroma mesmo. Mudou completamente para mim.
Já haviam me avisado sobre este momento, mas não dava muita atenção até que ocorreu comigo.
A impressão que tenho é como se fosse um fumante que não consegue sentir totalmente o sabor e aroma dos alimentos.
Pois está com as papilas gustativas e olfato calejados pela nicotina, e quando pára, com o tempo, percebe este novo mundo que já existia, mas não pare ele.
Também me veio à mente que praticamente 80% dos nossos pratos já eram à base de plantas: arroz, feijão, legumes, verduras, etc., e carne!
Ou seja, a carne era um pequeno percentual do que nós já comemos naturalmente.
E o que eu ganhei abrindo mão de “tudo” isto?
Ganhei um novo mundo de possibilidades, de sabores, texturas e cores que não tinha noção que pudesse ser possível.
Falafel Hakosem (Tel-Aviv, Israel )
Nunca imaginei que poderia comer tão bem em minha vida sem qualquer produto de origem animal e ainda assim ganhar mais saúde e ajudar na preservação do planeta.
É como ganhar na loteria três vezes!
Sempre ouvia as pessoas falarem isto e achava que era exagero…hoje em dia vejo o quanto isto faz sentido.
A minha conexão com o planeta e todos os seres que aqui vivem, todos os terráqueos, mudou de tal forma que me sinto parte de um todo harmônico.
Conectado com cada ser que aqui vive e mesmo sendo único, me sinto o todo também.
É como se eu estivesse interligado 24 horas por dia com toda uma rede de energia de vida.
Se alimentar da vida faz você ter mais vida!
Cada semente, cada legume, fruta, grãos leva em si a centelha de vida dentro deles.
Basta jogar na terra, ou na água que observará o milagre da vida.
Perceber que eu poderia me alimentar só de vida me fez enxergar o mundo com outros olhos.
Como se estivessem me esperando há muito tempo para este momento de despertar.
Plant-based Shakshouka no @anastasiacafe em Tel-Aviv
Dieta à Base de Plantas ( Plant-based )– experiência em Tel-Aviv
Minha última viagem internacional me abriu novos horizontes neste sentido.
Fui para Tel-Aviv (Israel) e ali eu tive as melhores experiências gastronômicas de minha vida!
São mais de 400 restaurantes oferecendo menus à base de plantas e centenas de outros totalmente voltados a dieta à base de plantas.
Alguns anunciam com orgulho que a partir de tal data se tornaram 100% veganos!
Quem diria que em um país tão distante do nosso eu iria provar os melhores queijos de minha vida!
Camembert, Brie e Roquefort, exatamente iguais aos feitos com leite animal!
Churrasco de um tipo de cogumelo, feito na brasa que parecia ser “carne” animal.
Fora todos os pratos geniais e incrivelmente saborosos que provei todos os dias que estive por lá.
Mas será que esta realidade era apenas em Tel-Aviv?
Almoço no @fouronesix_tlv . Shawarma- carne plant-based, batatas, cogumelos, cebola, tomate, molho curry cremoso. Este prato realmente impressionou. Muito bem temperado e delicioso .
Dieta à Base de Plantas (Plant-based ) – um dos mercados mais rentáveis do planeta
De jeito nenhum!
A alimentação à base de plantas é a que mais cresce em todo o planeta e considerada uma das mais rentáveis.
Grandes empresas estão adquirindo empresas “veganas” por todo o canto.
O gigante Tyson, um dos maiores frigoríficos do planeta, adquiriu parte da Beyond Meat, uma empresa que fabrica carnes à base de plantas.
Eles dizem que este é o futuro e por isto já estão investindo nesta área.
Bill Gates, o co-fundador da Microsoft, e Li Ka-Shing, o terceiro homem mais rico da Ásia, estão entre os investidores da Impossible Foods, outra fábrica que produz carnes de origem vegetal.
E a lista não para: recentemente um príncipe do Oriente Médio anunciou que abrirá vários restaurantes veganos pelo Oriente Médio.
Ou seja, este negócio à base de plantas é saudável, sustentável e muito rentável.
Sendo consultor e desenvolvedor de produtos, a maior procura dos meus serviços é para desenvolvimento de alimentos à base de plantas.
Percebo que se oferecer o mesmo produto, um sendo tradicional e o outro sendo “vegano”, a preferência é para o “vegano”.
Não só pelo momento que vivemos e por tudo que falei acima, mas também pela questão alergia e intolerância alimentar nunca antes presenciada na história.
Ovos, leite e derivados, frutos do mar, estão entre os oito alimentos mais alergênicos do planeta.
Então, por retirá-los dos ingredientes já se atinge um público ainda maior e isto é exatamente o que eu venho fazendo.
Dieta à Base de Plantas (Plant-based ) – tendência gastronômica
Cada vez mais vejo chefs de várias partes do mundo se especializando em cardápios à base de plantas e livre de alergênicos.
Alain Ducasse, o padrinho da gastronomia francesa (repleta de manteiga, creme de leite e queijos) que é um dos únicos chefs que conquistaram um total de 21 estrelas Michelin, foi contra a tradicional culinária francesa, banindo a maioria das carnes do menu no seu famoso restaurante no hotel Plaza Athénée em Paris.
Ducasse disse que explorar uma cozinha mais leve e orientada para vegetarianos era a busca de uma maior “naturalidade” e respeito pelo meio ambiente.
“Os recursos do planeta são raros, devemos consumir de forma mais ética e equitativa”, disse.
Dieta à Base de Plantas – La Chorba des végétariens – chef Alain Passard
Outro ícone da gastronomia, detentor de três estrelas Michelin, Alain Passard (Arpège), tem trabalhado com menus principalmente vegetarianos em seu restaurante desde 2001.
Embora tenha começado seu trabalho de chef aos 14 anos onde disse que nunca mudaria sua decisão, ele chegou à conclusão que não quer mais trabalhar com carne.
Os “Alains” lideraram, e o resto da cidade logo seguiu, de Éric Briffard (chef executivo e diretor de artes culinárias de Le Cordon Bleu Paris) e o famoso Joël Robuchon a Christophe Moret ( Shangri-La Hotel Paris) e Thierry Marx (Mandarin Oriental Paris), que reduziram para metade o inventário de seu açougue, a fim de que pudessem colocar uma forte ênfase em todas “as coisas verdes”.
E, como resultado, pequenas brasseries e bistrôs também começaram a reescrever seus menus, alterando as percepções dos parisienses sobre o que significa ter uma dieta à base de plantas.
Conversando com vários chefs que admiro e que não são vegetarianos ou veganos mas que trabalham com este tipo de menu questionei o porque de tal decisão.
Dieta à Base de Plantas prato da chef Priscilla Herrera – restaurante Banana Verde
A chef Priscilla Herrera, do consagrado restaurante Banana Verde em São Paulo me disse:
“Trabalhar com carne é muito fácil, qualquer chef consegue fazer uma boa carne.
Mas trabalhar com legumes, sem nada de queijo, creme de leite, manteiga e sem carnes, isto é para muito poucos.
Quero ver alguém fazer um prato com legumes e verduras virar algo sensacional!”.
E isto é o que tenho constado pelo mundo afora.
A arte de cozinhar “verde”, à base de plantas, ainda é para poucos.
Precisam ter um conhecimento profundo da estrutura dos alimentos, do mundo vasto das ervas e especiarias, de suas interações com o alimento e das temperaturas.
A gastronomia indiana e a cozinha molecular darão uma boa base para isto.
O resto vai do talento de cada um.
Afinal, a dieta da alface veio para mudar a nossa maneira de explorar a cozinha e o potencial de todos os alimentos.
Estou empolgado com este momento e não vejo a hora de experimentar todas as criações que os chefs que se aventuram neste novo mundo irão criar.
Será uma revolução gastronômica e ainda por cima, mais saudável e consciente e responsável com o nosso planeta.
E quando me perguntam novamente com tom sarcástico se como só alface eu respondo com um grande sorriso:
Sabia que alface é o que menos como?
Receita de Bolo de Banana com especiarias no link.
Marcelo Facini
Instagram: @marcelofacini
Consultoria e Desenvolvimento de Produtos Sem Glúten e à Base de Plantas
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Fonte: cuecasnacozinha