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Tecnologia

Prey e a interferência das editoras no processo criativo

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Quando em 2017 a Arkane Studios lançou um jogo chamado Prey, eles causaram um misto de surpresa e decepção em algumas pessoas. Por um lado, aquele FPS entregava uma direção artística muito bonita e uma jogabilidade viciante, mas por outro, tinha pouco ou nenhuma semelhança com um jogo homônimo lançado em 2006.

Enquanto o título mais novo se passava numa realidade paralela em que a corrida espacial levou a União Soviética a ter contato com uma raça alienígena, o primeiro nos colocava na pele de Domasi “Tommy” Tawodi, um descendente de cherokees que é abduzido por uma nave alienígena. Mas se os jogos são tão diferentes, por que carregam o mesmo nome?

Pois a explicação para essa pergunta está naqueles que controlam a marca, a Bethesda, e para entendermos a intenção da editora, a melhor maneira é ouvir o que tem a dizer o diretor do reboot — se é que aquele jogo pode ser chamado assim.

Fundador da Arkane Studios e tendo atuado também como roteirista do segundo Prey, Raphaël Colantonio deixou a desenvolvedora logo após o lançamento do jogo e ao gravar o podcast AIAS Game Maker’s Notebook, ele falou sobre a interferência da editora.

“Eu não queria chamar aquele jogo de Prey e tive que dizer que queria, de qualquer forma, na frente de jornalistas,” afirmou o game designer. “Eu odeio mentir… Me senti mal por apoiar uma mensagem que não queria.”

Mesmo fazendo questão de ser grato por ter recebido a oportunidade de criar um jogo como aquele, Colantonio garante que a frustração por ter que usar tal título não foi apenas dele, mas de vários funcionários da Arkane.

“O nosso jogo não tinha nada a ver com o Prey. Há um pouco do lado artístico/criativo que é insultado quando você diz a um artista: ‘Sabe o seu jogo? Ele se chamará Prey.’ E você diz, ‘acho que não deveríamos fazer isso. Acho que isso é um erro.'”

A simples escolha de um nome pode parecer uma decisão sem muita importância, mas como bem observou o diretor, manter uma marca que já havia sido aproveitada antes não ajudou em nada sua criação. Para aqueles que adoraram o original, ficou a indignação pelo segundo ser tão diferente, já para os que não gostaram do jogo lançado em 2006, havia a impressão de que o novo não merecia uma chance.

Embora o primeiro tenha sido desenvolvido pela Human Head Studios e publicado pela 2K Games, em 2009 a marca Prey foi adquirida pela ZenixMax Media e o conglomerado obviamente faria o possível para aproveitá-la. Naquela ocasião, um segundo capítulo estava sendo desenvolvido, mas o projeto foi cancelado por, segundo o presidente Pete Hines, não estar dentro do padrão de qualidade da Bethesda Softworks/id Software. Um novo projeto só seria anunciado na E3 de 2016, quando a editora revelou que a Arkane Studios estava responsável por ele.

Quanto a ter sido obrigado a usar o mesmo nome de um jogo desenvolvido por outras pessoas, Colantonio tratou de pedir desculpas à equipe do Human Head Studios. Segundo ele, “aquilo foi um chute na cara dos criadores do Prey original” e que nunca foi sua intenção roubar a propriedade intelectual deles e torná-la como se fosse da Arkane.

Mesmo tendo sido bastante elogiado quando foi lançado, talvez o sucesso comercial do segundo jogo tivesse realmente sido melhor caso ele adotasse outro nome. Com o original tendo sido lançado apenas para Xbox 360 e PC, ele não chegou a fazer um sucesso tão grande que justificasse uma interferência desse tipo, parecendo mais uma decisão tomada por algum executivo que queria justificar aos superiores o investimento feito na aquisição da marca.

O interessante é que mesmo com os muito problemas enfrentados durante sua rodução, o título de 2006 era bom, oferecendo uma jogabilidade com algumas ideias legais e contando com um enredo que nos fazia querer saber o que aconteceria a seguir. Será então que o melhor não teria sido dar toda a liberdade a Raphaël Colantonio e paralelamente tocar uma verdadeira continuação?

O fato é que muito devido à maneira como a Bethesda lidou com o caso do Prey, hoje o game designer está no WolfEye Studios. Foi lá que em março deste ano ele lançou o Weird West, um interessante RPG que nos coloca num velho oeste em que diversos elementos aleatórios são apresentados a cada partida.

Por sinal, esse movimento de deixar a segurança de uma grande editora e buscar a independência em estúdios menores é algo que se tornou comum na indústria de games. Vários profissionais renomados fizeram essa escolha e enquanto as gigantes continuarem usando o dinheiro como principal fator de decisão, situações como a do Prey nunca desaparecerão.

Fonte: Kotaku

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