A funcionária pública Nicoli Dichoff escolheu um local bem improvável para desvendar o que as cartas têm a dizer sobre o passado, o presente e o futuro das pessoas: um pub. Localizado bem no Centro de Campo Grande, o bar pizzaria de clima amistoso, com mesas do lado de fora, virou um ambiente propício para ela oferecer um aconselhamento espiritual gratuito, para quem chegar.
Nicoli conta que descobriu a vocação no centro de umbanda que frequentava. Lá, ela atuou como cambone, que é um tipo de médium preparado para auxiliar mentores e guias durante as celebrações. Como o passar dos anos ela foi aprimorando a leitura de cartas, com amigos e familiares, até que no ano passado, surgiu a ideia de fazer do tarot um diferencial para o novo negócio da família, a Pizza Pub CG.
Aberta desde junho do ano passado, a pizzaria com cara de bar tem fliperama, karaokê e conquista pelo ar boêmio além dos sabores deliciosos das pizzas. Quem administra o local são os empresários Jean Vernochi e Murilo Lotte Dichoff, respectivamente, marido e irmão de Nicoli.
“Comecei a ler as cartas aqui no pub no final do ano passado, porque nós estávamos procurando um diferencial que fosse legal para o espaço. Ao mesmo tempo, ler as cartas é a minha forma de ouvir o que a pessoa está passando, tentar entender aquilo e oferecer algum retorno para ajudar ela a melhorar um pouquinho, ficar mais feliz”, comenta.
Nicoli explica que no geral, os clientes chegam dispostos a saber o que as cartas têm a dizer, sem uma expectativa maior. Mas há também quem esteja em busca de respostas mais específicas sobre algum aspecto da vida.
“A leitura depende muito da pessoa com quem eu estou conversando e das impressões que ela me passa. Eu leio os estímulos que aparecem nas cartas, mas eu troco com a pessoa para que ela também me ajude a completar construir esses significados juntas. Não é uma adivinhação cega”, explica.
Qualquer pessoa pode ter uma sessão de tarot com Nicoli, basta deixar o preconceito de lado. Ela atende ali mesmo, sentada numa mesinha junto dos clientes. Cada leitura dura cerca de 30 ou 40 minutos e é composta de dois momentos.
As primeiras leituras são abertas, Nicoli vai interpretando o que as cartas vão dizendo e debatendo com quem está do outro lado da mesa, se aquilo faz algum sentido para ela. Questões profissionais, afetivas, amorosos todo tema é válido.
Em seguida, caso a pessoa tenha alguma curiosidade ela também pode perguntar para as cartas. Cabe a Nicoli interpretar essas respostas e sugerir uma saída para qualquer eventualidade que os símbolos do baralho apontarem.
“Tem esse espaço tanto para o ‘acaso’, dando abertura para o que vem das cartas, quanto para buscar as respostas que a pessoa procura em áreas específicas da vida dela. Às vezes aparece num primeiro momento algo que talvez nem pareça relevante para aquela pessoa, mas no fundo do coração dela ela sente algo relacionado aquilo”, conta Nicoli.
Sem cobrar nada pela leitura das cartas, Nicoli explica que a sua maior recompensa é poder ajudar quem está em busca de uma resposta.
“Eu fico muito feliz toda vez que alguém retorna e diz que aquilo que as cartas mostraram aconteceu, ou que foi legal eu ter lido para ela, porque ajudou ela a lidar com uma questão ou outra. O mais importante para mim é quando alguém me diz que a leitura das cartas fez o dia dela melhor. Eu não altero o resultado para falar coisas que vão deixar ela feliz, a leitura não serve só para fazer a pessoa se sentir melhor, mas se ela (leitura) puder fazer isso é perfeito. A gente sempre vai investigar formas de resolver o que não estiver legal na vida dela”, sorri.
A Pizza Pub CG fica na esquina da Rua Barão do Rio Branco com a Avenida Noroeste, a Orla Ferroviária, um endereço – que assim como tarot – também é carregado de preconceitos, por conta da presença de usuários de drogas ou moradores em situação de rua.
“Quando a gente conseguiu abrir o pub nós pensamos em fazer algo bem acolhedor, que parecesse que você esta indo na casa de uns amigos, para cantar uma música no karaokê, ou para comer uma comida. E, embora seja uma região conhecida como marginalizada, a nossa permanência aqui sempre foi muito tranquila. Nunca tivemos problema”, garante Nicoli.
Tabus a parte, o Pizza Pub transborda a simplicidade e o intimismo que todo bom estabelecimento tem que ter. E por lá não tem frescura. Mesmo quando o pub está lotado, não faltam banquinhos de plástico para sentar e a pizza deve ser comida com a mão.
São cerca de dez sabores de pizzas individuais, incluindo uma opção vegana e vegetarianas. O microfone também é aberto, inclusive, para os mais desafinados.
“O Centro tem uma carga histórica, cultural, que deveria ser melhor aproveitadas e estarmos aqui deixa a gente feliz nesse sentido, de valorizar um lugar que para a gente é importante. Uma região que devia ter mais ocupação até de bares, restaurantes e de pontos culturais porque ele guarda um pouco da memoria de Campo Grande. Então, quanto mais gente estiver por aqui, melhor para essa região e para quem mora por aqui, inclusive”, defende Nicoli.
Fonte: primeirapagina