Nos últimos dois meses, São Paulo registrou um volume de chuvas acima do usual. Marcadas por vários pontos de alagamento, transbordamento de córregos, desabamento de estruturas e uma morte, apenas em alguns pontos da região sul, a chuva ultrapassou 50 mm.
Contudo, na última quinta-feira (09), a estação meteorológica de Santo Amaro registrou 82 mm em apenas um dia, o que representa metade de toda a chuva esperada para o mês de março. A pergunta que fica é: esse é o novo normal?
Não apenas São Paulo, mas o mundo todo vem sofrendo com as mudanças climáticas e eventos meteorológicos extremos. “O clima, infelizmente, não se comporta mais como se comportava no século passado. Portanto, a gente está diante de uma nova situação, mas não dá ainda para dizer que esse é o novo normal, porque nós não sabemos efetivamente aonde isso vai e onde o novo equilíbrio vai se estabelecer”, explica Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
Segundo o professor, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já previu que haveria alternância de eventos extremos. Um exemplo disso são as secas intensas que vêm acontecendo no interior de São Paulo, e que atingiram a região central do País em 2021, e as chuvas concentradas que caíram sobre o município nos últimos dias.
“Imagina o impacto que isso causa, considerando que a nossa infraestrutura urbana às vezes não dá conta de chuvas um pouco acima do normal”, lembra o professor.
Entretanto, a infraestrutura é um dos pontos mais sensíveis quando o assunto são os eventos climáticos extremos, principalmente considerando que qualquer chuva em São Paulo já causa transbordamentos e alagamentos.
Intensificação do problema
Uma das questões levantadas por Côrtes é qual deve ser a atuação dos governos frente a essa responsabilidade. Não há infraestrutura suficiente para lidar com as mudanças climáticas, que tendem a piorar daqui para a frente. Ele ainda expande o problema para outros países. Como a Itália e a França que têm sofrido com secas muito intensas.
A região central da Itália quase não viu neve, importante fator turístico e econômico da região. “Estamos verificando efeitos muito intensos e cada vez mais frequentes das mudanças climáticas e nós não temos políticas públicas efetivamente implantadas aqui no País para dar conta disso”, ressalta. O panorama serve como um alerta mundial.
Além disso, em sua avaliação, é necessário que cada município tenha um plano de ação e de destinação de recursos para a realização de obras que facilitem, por exemplo, o escoamento das águas da chuva. “Quando a chuva cessar, nós caímos no problema oposto”, diz Côrtes.
Ele ainda lembra dos problemas trazidos pelos períodos de seca prolongados: temperaturas muito altas, concentração de partículas de fuligem provenientes da queima de combustíveis fósseis, problemas de abastecimento e problemas de saúde, principalmente em idosos e crianças.
Mudanças
Sobretudo, por conta das chuvas, os reservatórios estão com níveis muito bons e com um montante de água para chegar ao ano que vem com bastante tranquilidade, diz o professor. Porém, lembra que haverá mudança do regime da La Niña para o El Niño.
“O El Niño traz mais chuva para a região Sul. O Rio Grande do Sul vai ser bastante beneficiado com isso, já que vem sofrendo com secas e quebra de safras há quase dois anos e meio por conta do La Niña, que retira essa chuva do Sul”, ele explica.
No entanto, nem tudo são flores: com o aumento da temperatura, também vai ter aumento das arboviroses. Como a dengue, chikungunya e zika. “O panorama climático exige uma ação integrada não só de adaptação da infraestrutura urbana, mas também de uma ação integrada com as equipes de saúde”, ele ressalta.
Para ele, ações coordenadas e planos efetivos para a adaptação às mudanças climáticas são essenciais, e algo que não acontece efetivamente.
Fonte: canalrural