Percorrer o Brasil a pé! Este é o sonho da empreendedora social Mirian Alvoryna Ferraz Oliveira, de 52 anos, moradora de Santo Antônio de Leverger, a 35 km de Cuiabá. Ela aderiu a prática de caminhante em 2020, aos 50 anos, quando fez seu primeiro percurso: o Circuito Caminhos da Sabedoria de 108 km, em Espírito Santo.  

Mirian Caminhos III
Mirian Alvoryna fez o primeiro percurso em 2020. (Foto: Arquivo pessoal)

O interesse pela prática começou quando ela assistiu uma reportagem sobre os Caminhos de Santiago de Compostela, que são percursos de peregrinos que se espalham por toda a Europa. A partir daí, Mirian começou a pesquisar sobre o trajeto, o que usar, o que levar, alimentação adequada e os custos com o deslocamento.  

Mas, antes de colocar o ‘pé na estrada’, ela iniciou os treinos. Ela começou percorrendo 6 km por dia na região onde mora e foi durante as caminhadas, no período da manhã, que conheceu Ana e Elaine, que treinavam para participar de Santiago de Compostela. 

“Nesses encontros elas me contavam das caminhadas que já haviam feito. A Elaine iria trilhar Santiago pela segunda vez. Essa troca, esse movimento, fazia do cansaço um doce prazer, cujo compartilhamento de experiências criou laços e construiu pontes. Foi assim que me encantei pelos relatos e decidi pesquisar mais a respeito. Isso me motivou e me levou ao Circuito Caminhos da Sabedoria”, disse. 

Com a ajuda de suas filhas, Mirian começou a se preparar e em outubro de 2020 realizou o circuito na cidade de Ibiraçu, no Espírito Santo, com oito pessoas de diversas partes do Brasil. Segundo Mirian, o percurso busca estabelecer um diálogo entre o budismo e o cristianismo. Além disso, valoriza a natureza, a espiritualidade e a conscientização ambiental.  

“O caminho é feito em cinco etapas sempre na mesma cidade, entre fazendas centenárias, matas, cachoeira e igrejas antigas. O nosso grupo não cumpriu esse circuito oficial, pois, devido a pandemia, a comunidade de São Pedro não estava recebendo peregrinos. A chuva contínua também dificultou um pouco alguns acessos, mas não deixamos de fazê-los”, explicou. 

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Ao todo, Mirian Alvoryna já fez quatro percursos no país. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela e os companheiros concluíram o circuito em cinco dias. Em sua avaliação, a experiência não foi tão difícil quanto imaginou. O maior problema foi a chuva constante, mas que no final contribuiu para deixar o percurso mais agradável.  

“Essa experiência me ensinou que o todo é feito de partes, que serão vencidas uma a uma até o objetivo final”.

Após a primeira experiência, Mirian não parou e já participou de outros três circuitos. O primeiro conta que foi por intermédio de uma agência de turismo, mas os outros foram organizados pelas amigas que fez pelo caminho.  

“Fui brindada com novas amizades, em especial, de duas mineiras, Jandira e Mariângela. Criamos um grupo de WhatsApp e continuamos mantendo contato e conversando sobre os percursos”. 

Mirian Santo Antonio
Mirian e os amigos que ganhou (Foto: Arquivo pessoal)

Caminhos do Morro 

Entre os caminhos que percorreu está o do Morro, em Santo Antônio de Leverger, no estado. Mirian é uma das organizadoras do percurso. Ao todo, o desafio tem 100 km, que são divididos em cinco etapas de 20 km, cada. 

“Como o percurso é próximo de Cuiabá quem mora na Capital pode vir e ir todo dia. O desafio é de cinco dias. Mas, aqui tem propriedade que serve alimentação e tem pousadas também, pra quem vem de fora”. 

Livro sobre caminhos  

Tudo o que viveu Mirian não guardou para si, mas compartilhou parte da experiência em uma coletânea. Ao lado de outros 24 autores escreveu a obra “A pé pelo Brasil – Histórias de caminhantes e peregrinos”.

No livro, lançado em dezembro de 2020, ela contou como foi o primeiro percurso que fez: o Caminhos da Sabedoria. “Foi muito gratificante. Ao escrever foi como reviver tudo de novo”.

Para Mirian, mais do que conhecimento, cada caminho possibilitou sentir entusiasmo em descobrir o inusitado, o que está à frente e que muitas vezes não tem tempo para admirar, como o frescor de uma chuva.  

“A pergunta que fica é: o que nos aguarda no próximo caminho? Espero que o próximo proporcione outra oportunidade singular, uma abertura que me prepare para retornar ao cotidiano com outras formas de olhar o mundo, sempre buscando um caminho desconhecido a percorrer”.