A anunciou nesta quarta-feira, 22, que autoridades se reunirão até o final de fevereiro para discutir uma “mudança fundamental” na política agrícola da nação. O anúncio, aparentemente inofensivo, esconde um grande problema: segundo especialistas, por trás dos inúmeros desfiles militares e testes de poderio bélico, a nação está passando por uma grave crise alimentar.
Segundo comunicado emitido pela mídia estatal, reformar as questões agrícolas do país é “muito importante e urgente”. De acordo com imagens de satélite feitas pela Coreia do Sul, os vizinhos do norte produziram 180 mil toneladas a menos de alimentos em 2022 com relação ao ano anterior.
Em junho, o Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP) levantou preocupação com questões climáticas extremas na região, que poderiam afetar a produção de alimentos do país, e no final de 2022, a mídia estatal norte-coreana noticiou que o país passava pela sua “segunda pior” seca já registrada na história.
Pyongyang, no entanto, se recusou a receber auxílio internacional, dizendo que era equivalente a comer um “doce envenenado”. O jornal norte-coreano Rondong Sinmun escreveu nesta quarta-feira que os “imperialistas” ocidentais usam ajuda humanitária como uma “armadilha para saquear e subjugar” seus beneficiários.
O regime fechado da Coreia do Norte dificulta o envio de ajuda para o país, bem como a analise da situação atual das políticas alimentares. Mas a revista norte-coreana com sede no Japão, Rimjin-gang, publicou que o preço do milho no país subiu 20% no início de 2023, devido a colheitas ruins. No entanto, o consumo de milho não caiu, o que significa que ele continua uma alternativa mais barata a produtos como arroz – e que o preço dos alimentos no país, no geral, está subindo.
A Coreia do Norte é considerada um dos países mais pobres do mundo. Há poucos dados recentes, mas o CIA World Factbook estimou que seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita era de cerca de US$ 1.700 (cerca de R$ 5 mil na cotação da época) em 2015. Para efeito de comparação o PIB per capita do Brasil naquele ano era de US$ 8.783, ou mais de R$ 26 mil.
A organização sem fins lucrativos Liberty in North Korea, que dá apoio para norte-coreanos refugiados na Coreia do Sul e Estados Unidos, afirmou que ouviu relatos de que há pessoas morrendo de fome no país e que itens de necessidade básica estão em falta desde o início da pandemia de Covid-19.
A quantidade de ajuda humanitária que a Coreia do Norte recebe de organizações internacionais também caiu de US$ 14 milhões, em 2021, para US$ 2,3 milhões, em 2022, como um resultado do fechamento duradouro das fronteiras durante a pandemia.
Ainda assim, há alguns sinais de que a atividade econômica transfronteiriça está recomeçando. Na semana passada, foram reportadas algumas viagens de caminhão da China para o país, que compreende 90% do comércio de Pyongyang. Segundo especialistas, contudo, a mudança não representa uma melhora no padrão de vida do norte-coreano comum.
“O regime reconheceu como as coisas são difíceis para o povo norte-coreano comum, mas continua a priorizar a propaganda e ostentação para a família Kim, lançamentos de mísseis e controles rígidos [sobre] a população”, disse Sokeel Park, diretor da Liberty in North Korea.
A situação no país gera um alerta para a comunidade internacional de que a Coreia do Norte enfrente uma fome tão devastadora quanto viveu em meados da década 1990, conhecida como a “árdua marcha”. A estimativa de mortes do período varia entre 600 mil e um milhão de pessoas.
Fonte: Veja