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A paz, agora, seria vitória para a Rússia e derrota para o mundo livre

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Não procurem na internet fotos de mortos na Ucrânia. A realidade da guerra é cruenta, chocante, insuportável.

Este ano de guerra pode ser relembrado, mesmo sem imagens, pela sequência de mortes horríveis. A especialista em TI que fugiu de Irpin, uma das primeiras cidades atacadas, com os dois filhos, o cachorrinho e uma mala de mão. Todos explodidos. A mulher de Bucha reconhecida por uma amiga por causa das pintadas em cores diferentes. Outra mão é de uma mulher que tentou fugir de carro, colocando inúteis fitas brancas para mostrar que eram civis. Teve a encontrada com um tiro na cabeça e usando apenas um casaco de pele. O idoso que ousou sair de bicicleta para buscar batatas. O carrinho cor de rosa ensanguentado da menininha que tinha três anos e síndrome de Down. As fileiras de bandeiras ucranianas em covas recém abertas dos cemitérios onde são incessantemente enterrados tantos combatentes, a flor da juventude nacional.

Também é muito jovem a maioria dos russos, bombardeados, explodidos, destroçados entre tanques que mostram sinais de sua vida na guerra: sacos com parcos produtos de higiene, algumas roupas, livros – até nas trincheiras os russos não param de ler. Muitas conversas interceptadas mostram o choque de descobrir a falsidade difundida pela máquina de propaganda. “Eles são como nós, vivem como nós”, disse um soldado para a mãe. “Não sei o que estamos fazendo aqui”. A mãe reclama: “Vocês estão acabando com os nazistas”. E o filho insiste: “Não vi nazista nenhum”.

A tática da bucha de canhão produziu na disputada Bakhmut um dia “histórico”: segundo a Ucrânia, mais de mil russos foram mortos em 24 horas no último dia 6.

Estes são pequenos fragmentos desse ano alucinante em que, inexoravelmente, fomos nos acostumando ao horror desfechado por Vladimir Putin sobre um país menor, militarmente mais fraco e desprovido de armas nucleares.

É justo que, no meio desse conflito, os suspeitos de sempre tentem dar um jeitinho e falar num acordo de paz – que nem a Rússia nem a Ucrânia querem?

Claro que não. Uma paz que congelasse a situação no teatro de operações favoreceria inaceitavelmente a Rússia, que ficaria com os 20% do território ucraniano que já ocupava ou que conquistou no começo da guerra. Também consagraria o princípio do uso da força para destroçar a autodeterminação dos povos e a inviolabilidade das fronteiras – as finas camadas que nos separam da barbárie. O uso da força contra os mais fracos estaria consagrado.

Muito, muito, muito hipoteticamente: o que nos protegeria se os Estados Unidos decidissem que a Amazônia precisa ser colocada sob sua égide, obviamente em nome de uma preservação vital etc etc?

E a “solução Macron”, a posição defendida pelo presidente francês de que a Rússia sofra uma derrota total, mas não seja “esmagada”? Além de não factível, operacionalmente, é inviável. “Seria um diálogo inútil, Macron está perdendo seu tempo”, disse Volodimir Zelenski pouco antes de receber a visita de Joe Biden, levando presentinhos sob a forma de mais 470 milhões de dólares de ajuda militar.

Entre os extremos do espectro político, à direita e à esquerda, existe a convicção de que os Estados Unidos só têm a ganhar se a Rússia continuar sangrando – e a Ucrânia pagando o preço em vidas. A tese ganhou o reforço do ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett, que disse ter conseguido a anuência de Putin e Zelenski para uma negociação logo no início da guerra.

O QI de gênio de Bennett não parece ter funcionado nesse caso. Putin não quer um acordo de paz. O discurso em tom alucinado que fez hoje mostra isso. “Foram eles que desencadearam a guerra”. –

Dependendo dos termos de um acordo, Putin poderia ser simplesmente derrubado do poder se não tiver o que mostrar à linha mais dura ainda do que ele, um dos motivos levantados, com razão, por Emmanuel Macron para defender uma negociação.

O horror de uma guerra não provocada também atiça posições radicais entre ucranianos. Oleksi Danilov, diretor do Conselho de Defesa e Segurança Nacional, disse ontem que a paz justa virá quando “nossos tanques estiverem estacionados na Praça Vermelha”.

Outras personalidades ucranianas falam abertamente na fragmentação da imensa Rússia, com sua grande diversidade de povos agregados e nem sempre de boa vontade se desprendendo de Moscou. Obviamente, isto criaria o tipo de crise existencial com passagem direta para o uso de armas nucleares.

Um ano depois do começo da guerra, continuamos assim na mesma situação: a Rússia não pode perder, entendendo-se por isso um desmoronamento tão grande que levaria ao inominável; e a Ucrânia não pode ganhar, considerando-se a disparidade de poder bélico.

Quem tiver uma solução que não seja idiota, ideológica ou baseada em antiamericanismo ou narcisismo infantil que apresente. Acordos de paz só são feitos entre inimigos e o mundo tem grandes em , em especial nos países nórdicos.

Todos, no momento, calados, o que não significa que estejam passivos. Sabem muito bem dos problemas envolvidos.

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Fonte: Veja

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